Nesta quarta-feira (8), reivindicações políticas e econômicas em defesa da mulher ocuparam a Avenida Paulista no 8M. Desta vez, com um sentimento diferente
Diversas organizações, coletivos e grupos de juventude tomaram a Avenida Paulista e realizaram o 8M, ato em defesa dos direitos das mulheres, tradicionalmente realizado no Dia Internacional da Mulher.
Em meio a chuva, cartazes, bandeiras e gritos reivindicam pautas como a descriminalização do aborto, combate ao racismo, fim da fome, pela vida de mulheres LGBTQIA+, igualdade no campo profissional e, principalmente, respeito.
Muda a face do governo, muda a face do 8M
Assim como no ano anterior, o caráter anti-bolsonarista esteve presente no movimento, propondo o fim da anistia a autoridades golpistas e genocidas. Para Iara Marinho, 21 anos, militante da UJC (União da Juventude Comunista), a resistência a Bolsonaro se destacou no ato de 2022 unificando as forças, mas, neste ano, mesmo que alguns repitam o discurso, há uma diferenciação.
Segundo ela, a mudança se dá referente à atuação do presidente Lula. Enquanto alguns estão otimistas, dando total abertura ao atual governo, outros irão continuar pautando a necessidade de se manterem radicais frente a um “governo conciliador”. Projeções a outros eixos foram levantadas então, como o combate à fome, direito à moradia, o anticapitalismo e o fim da reforma ao ensino médio.
Raquel Luxemburgo, 28 anos, secretária geral da ANPG (Associação Nacional de Pós-graduandos), ressalta como o sentimento mudou de um ano para outro, principalmente, por conta da pandemia. “Não está sendo só um sentimento de medo e resistência, mas, está sendo um sentimento de que vamos avançar”, afirma.
Segundo Melayne Macedo, do Coletivo de Mulheres da CMP (Central de Movimentos Populares) de Pernambuco, a pandemia agravou o cenário de violência contra a mulher. Estudo efetuado pela Rede de Observatório da Segurança, com dados de sete estados, mostra que, em 2022, a cada 4 horas uma mulher é vítima de violência. Os atos continuaram mesmo em situação pandêmica, lutando contra o discurso do então presidente da república e o que significa o bolsonarismo.
Representantes do Mulheres Fortes em Luta, um grupo feminino socioeducativo de Paraisópolis, também foram às ruas ano passado e atestaram que estão mais cheias no ato deste último 8M. “Agora as mulheres estão reconquistando a sua voz. Com a esperança [do novo governo] nós podemos lutar e exigir o que é nosso!” comenta Carliene Santos, 24 anos. O grupo ainda fala das dificuldades de ser mulher na comunidade da zona sul e disseram que mais espaço para gênero é principal reivindicação.
Levantamento realizado pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) informa que durante os quatro anos de governo com Jair Bolsonaro na presidência, houve um desmonte nas políticas voltadas para o combate da violência contra a mulher. A gestão, entre 2019 e 2022, propôs no orçamento da união 94% menos recursos para esse eixo, em comparação com os quatro anos anteriores.
A luta se estende por todo o mês de março, destacando também o dia 14, quando a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados. No 8M deste ano, eles foram lembrados, assim como foram alçados cartazes com o rosto e nomes de outras mulheres que sofreram com o feminicídio.
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Projetos do Governo Lula
Cida Gonçalves, enquanto anunciavam os novos projetos do governo federal no Dia Internacional da Mulher, discursa: “Em pleno 2023, não é admissível que o país registre um feminicídio a cada sete horas e um estupro a cada dez minutos. Isso tem que parar”.
Neste 8 de março, Lula lança propostas para o avanço no combate a violência contra a mulher e a asseguração dos seus direitos. Ações como a retomada e ampliação do Mulher sem Violência, multa dobrada para empresas em caso de remuneração desigual e a instauração do Dia Nacional Marielle Franco estão no pacote.
A igualdade salarial já era assegurada por lei, mas, de acordo com o IBGE, a diferença das remunerações entre homens e mulheres do mesmo cargo ainda é de 22%. Além de constar o termo “obrigatoriedade” no texto do projeto enviado pelo presidente.
Outras iniciativas também foram anunciadas, envolvendo a produtividade das mulheres do campo, mães esportistas e liderança feminina nas startups.
Já temas como a legalização do aborto e acesso à saúde sexual e reprodutiva não foram atendidos. O Aos Fatos expõe os retrocessos do País e o não cumprimento de recomendações divulgadas pela ONU para garantir os direitos sexuais e reprodutivos, relembrando o caso da menina de 10 anos que teve seu aborto dificultado.
História do Dia da Mulher e do 8M no Brasil
A data referência para a luta pelo direito das mulheres existe desde o ano de 1917, mas ainda há muitos que não sabem de sua história.
Existem algumas explicações da onde o movimento teria surgido. Há o contexto de donas de casa começaram a trabalhar em fábricas e serem exploradas, num cenário de primeira guerra mundial, e devido à uma sugestão da feminista marxista alemã, Clara Zetkin, para um marco na luta pelo voto feminino.
Uma das primeiras grandes manifestações data de 1909, em Nova York. Cerca de 15 mil mulheres fizeram passeatas pela cidade reivindicando melhores condições de trabalho.