Mesmo que a pandemia tenha impedido a Parada de acontecer em 2020, junho sempre será um mês importante para a comunidade
Nas primeiras horas de junho, as redes sociais se tingiram com as cores do arco-íris, homenageando a comunidade que celebra neste mês o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. A Avenida Paulista seria tomada no dia 14 com a famosa Parada do Orgulho, uma das maiores celebrações da diversidade no mundo. Durante mais um ano, a comunidade estaria unida presencialmente para comemorar seus direitos e pedir para que toda forma de amor seja aceita.
No dia 28 de junho de 1969, houve o primeiro embate político do movimento com o poder público. A comunidade LGBTQIA+ se rebelou contra os policiais americanos, que rotineiramente promoviam humilhações em bares frequentados por homossexuais. O ato aconteceu no Bar Stonewall, em Nova York. No ano seguinte, foi palco da Primeira Marcha de Orgulho Gay no país, um marco para a história da comunidade. Entretanto, segundo a Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Trans e Intersexuais (ILGA), 70 países ainda têm algum tipo de lei contra a homossexualidade.
No Brasil, foram dados passos importantes durante o regime militar (1964-1985), quando a comunidade começou a se tornar uma organização política – grupos e jornais caseiros denunciavam as opressões sofridas no período. Em 1978, em São Paulo, houve a fundação do grupo SOMOS, a primeira proposta de politização da homossexualidade no país. Os integrantes (homens e mulheres) pretendiam criar, a partir de sua experiências pessoais, uma identidade coletiva. No mesmo ano, o Jornal Lampião da Esquina surgiu no Rio de Janeiro. Em formato tablóide, a publicação ficou famosa por incorporar pela própria comunidade, de forma descontraída, termos originalmente pejorativos. Essa ressignificação trazia sensação de pertencimento à luta
Durante o processo de redemocratização em 1980, dois acontecimentos mudaram a visão sobre a comunidade: a epidemia do vírus HIV e a despatologização da homossexualidade. A AIDS foi vinculada diretamente aos homens gays sob o estigma de ‘câncer gay’, o que aumentou os casos de homofobia na sociedade, resultando em mais exclusão e violência. No entanto, com o surgimento do Grupo Gay da Bahia e o Triângulo Rosa do Rio de Janeiro, nasce uma campanha com psicólogos e psiquiatras com o intuito de despatologizar a homossexualidade. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina mostrou um posicionamento favorável e, cinco anos depois, a OMS excluiu a homossexualidade do Código Internacional de Doenças (CID).
Ao longo dos anos, a comunidade LGBTQIA+ conquistou outros grandes avanços, tal como a substituição do termo “opção sexual” por “orientação sexual”, quando um movimento também protagonizado pelo Triângulo Rosa mostrou que não se trata de uma escolha. Outros exemplos de conquistas relevantes no Brasil são a união estável entre pessoas do mesmo sexo reconhecida pelo STF em 2011 e a possibilidade de transgêneros alterarem no cartório o seu nome e registro de sexo presente no registro civil, reconhecido em 2018.
Mais recentemente, em junho de 2019, a homofobia e a transfobia foram criminalizadas. Por outro lado, homens gays que tiveram relações sexuais nos últimos 12 meses ainda eram proibidos de doar sangue. Essas normas sanitárias, criadas em 1993 durante a epidemia da AIDS, foram derrubadas pelo STF em maio de 2020.
Mesmo com todos os avanços que a comunidade conseguiu nos últimos anos, ainda há mais a ser feito. O Brasil é o país que mais mata por orientação sexual ou identidade de gênero e ainda não foram implementadas legislações específicas a respeito. O poder judiciário tomou decisões a favor da comunidade, mas são constantemente questionadas por não terem respaldo na Constituição Federal.
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Vitor Coutinho se reconhece como bissexual
Eu comemoro o Dia do Orgulho com uma sensação muito boa. Foi o dia em que me assumi nas redes sociais. Minha família e meus amigos mais próximos já sabiam, mas mesmo assim foi um passo muito grande no trabalho e tudo mais. Eu me identifico como bissexual, mas eu tenho dificuldades com isso. A própria comunidade LGBTQ+ faz pressão e eu me sinto muito afeminado para ter um relacionamento com uma menina. Às vezes, sinto mais atração por meninos e quero ter um relacionamento homoafetivo.
Catarina Kobayashi se reconhece como lésbica
O mês do Orgulho sempre foi muito importante para mim. Minha primeira experiência em relação a essa comemoração foi quando fui à Parada com a minha mãe e minha melhor amiga, há uns anos. Me senti muito feliz por estar bem em um lugar com as pessoas mais importantes da minha vida. Por isso, sempre associo essa data a uma lembrança muito marcante. Para mim, esse mês significa representatividade e empoderamento. Nossa luta vai continuar existindo, não podemos lembrar disso só em junho. Eu celebro a liberdade de poder ser eu! Viver sendo quem você é requer coragem. Por isso, reconheço que nós, da comunidade, somos corajosos e livres. Sempre me reconheci como lésbica, mas hoje em dia estou em um relacionamento com um homem trans. No fim das contas, o que importa para mim é o amor.
Santiago Pulz se reconhece como homem trans
Junho é um mês de representatividade que tem como destaque a Parada do orgulho LGBTQIA+. Esse evento é uma celebração linda e gosto de estar presente, pois é quando me sinto representado. Apesar de sermos nós mesmos durante o ano inteiro, junho é quando ganhamos visibilidade em uma proporção maior. É uma boa oportunidade de conhecer outras pessoas, outras histórias, se sentir parte daquilo e ver que não estamos sozinhos. Além disso, comecei uma nova história nesse mês, foi quando conheci minha namorada. O mês do orgulho marca o resultado da busca pela representatividade de todes. Uma celebração que exibe a luta por direitos e pela liberdade de ser quem você é. Para mim, o mês do orgulho significa resistência – mostrar que estamos juntos e que vamos continuar conquistando o nosso espaço.