Ariel Palacios, da GloboNews, e Marcello Favalli, da CNN, comentam sobre a expectativa de EUA, Europa e Argentina acerca do pleito de outubro
Em ano de eleições presidenciais, muitos olhos se voltam para o Brasil, um gigante na economia e diplomático na América do Sul. Com a diplomacia brasileira em rota de colisão com antigos parceiros – como Estados Unidos e Argentina –, surgem incertezas sobre o próximo presidente e o caminho que o eleito irá adotar.
Como o mundo vê as eleições brasileiras? A reportagem de ESQUINAS foi em busca de respostas com dois jornalistas que cobrem política internacional: Ariel Palacios, correspondente da GloboNews em Buenos Aires, e Marcelo Favalli, editor de internacional da CNN.
A relação com a América Latina eleições
De início, tanto Palacios quanto Favalli destacam o papel de liderança regional que o Brasil pode exercer. Para Favalli, o país só não é um gigante por escolha da administração federal. “Somos o maior país da América Latina em todos os sentidos: econômico, territorial, populacional. Temos potencial para sermos um gigante diplomático pelo menos na nossa região. Não somos por opção do atual governo”, destaca o jornalista, avaliando o compasso de espera de outras nações sobre o resultado da eleição.
“Países que têm esta preocupação sobre a influência diplomática e política estão ansiosos para saber quem será o novo presidente para traçar estratégias de aproximação ou se afastar de vez”, complementa.
Com foco analítico nos países da América do Sul, Ariel Palacios destaca que eleições brasileiras concentram atenção dos países vizinhos desde os anos 1990. Não apenas dos governos nacionais, mas também das oposições, economistas, investidores e empresários da região – e isso independentemente de quem esteja no poder. “O Brasil representa uma porção enorme do PIB regional e tem vínculos comerciais com todos os países da vizinhança”, afirma o jornalista, ressaltando o exemplo da Argentina. “No caso argentino, o interesse é grande, já que o país tem um forte mercado de produtos industrializados argentinos no Brasil. E, como os economistas costumam dizer, ‘se o Brasil pega uma gripe, a Argentina pega uma pneumonia” ‘, compara.
Favalli concorda sobre a importância econômica da Argentina, e acrescenta outros dois países-chave em termos de relações comerciais. “Com a China, temos a maior relação comercial no mundo. E nossa balança é superavitária: vendemos mais que compramos dos chineses, ganhamos dinheiro com isso”, explica. “No caso dos EUA, a relação também é robusta – trata-se da segunda mais importante relação comercial do país. Mas o saldo é deficitário: pagamos mais do que recebemos.”
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O correspondente da GloboNews pondera sobre outra especificidade: o Brasil, diferentemente de outros países da América Latina, apresenta forte presença de militares na política. Isso pode afastar investidores de longo prazo, reitera o jornalista.
De fato, segundo a agência Reuters, o diretor geral da CIA (Agência Central de Inteligência estadunidense) entrou em contato com líderes do alto escalão do PL, partido de Jair Bolsonaro, no ano passado, recomendando que o presidente parasse de questionar o sistema eleitoral antes do pleito de outubro. A CIA se recusou a comentar, enquanto o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo General Augusto Heleno, negou o contato em live com Bolsonaro:
“Isso nunca aconteceu, não houve nenhuma troca de ideias sobre eleições nem nos Estados Unidos nem aqui.”
Eleições, Amazônia e a expectativa europeia
Um outro olhar relevante sobre as eleições de outubro vem da Europa. Nossas relações com a União Europeia tem sido marcadas por atritos. Desde 2019, Bolsonaro vem criticando sobre Emmanuel Macron, presidente da França. O foco é a pauta ecológica e as queixas do francês sobre o aumento das queimadas na Amazônia.
O mandatário brasileiro respondeu dizendo não precisar do dinheiro do Fundo Amazônia, após Alemanha e Noruega bloquearem seus repasses ao fundo. Numa escalada das tensões, o TSE, após pressão do Governo Federal, desconvidou a União Europeia da função de monitorar as eleições de outubro.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também tem demonstrado inquietação com o pleito. Em abril, o relator especial Clémet Voule veio ao Brasil por 12 dias. Durante a viagem, orientou as autoridades locais a evitar qualquer tipo de discussão sobre a credibilidade do sistema eleitoral sem provas concretas.
O representante da ONU disse ainda que o clima de incerteza pode prejudicar a confiança da população na democracia e até afastar a população das urnas. “A discussão em relação ao sistema eleitoral no Brasil cria insegurança e medo entre as pessoas. Esse tipo de discussão é importante em sociedades democráticas, mas precisa ser baseada em fatos”, disse uma coletiva de imprensa no dia 8 de abril. “Exorto o Estado a proteger candidatos e candidatas de quaisquer ameaças ou ataques online e offline”, finalizou.