Existe lado positivo no uso de Inteligência artificial nas campanhas eleitorais?  - Revista Esquinas

Existe lado positivo no uso de Inteligência artificial nas campanhas eleitorais? 

Por Gabriel Demétrio, Guilherme Gabriel, Maju Blanes e Miguel Kadri : maio 14, 2024

O primeiro turno da eleição para prefeito de São Paulo está marcado para 6 de outubro. Foto: Reprodução/Tribunal Superior Eleitoral de Sergipe

Segundo a professora Nara Pavão, o uso de IA afeta positivamente a empregabilidade do setor político e reduz o custo das campanhas

As eleições municipais do Brasil estão previstas para os dias 06 e 27 de outubro. Dentro desse cenário, propagandas e campanhas políticas começam a divulgar informações sobre os candidatos e suas propostas. Em uma década marcada pelo avanço tecnológico, muito desse marketing é feito por máquinas e dispositivos eletrônicos, o uso mais recente é o de Inteligência artificial (IA).

IA no lobby político

A Inteligência artificial surge em 1943, no desenvolvimento do primeiro modelo computacional para redes neurais, já o termo IA só foi adotado em 1956. Desde lá, o sistema evoluiu significativamente. Hoje, a Inteligência é utilizada na automação de diferentes tarefas, como a tradução de áudios e “criação” de textos.

O famigerado “ChatGPT”, chatbot desenvolvido pela OpenAI e lançado em 30 de novembro de 2022. É uma ferramenta com capacidade de gerar respostas – muitas vezes erradas ou imprecisas – a partir de uma grande quantidade de dados preexistentes. Apesar da tecnologia estar presente na sociedade, é dificil especificar quando a IA começou a ser utilizada em campanhas e propagandas eleitorais.

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O famigerado “ChatGPT” foi lançado em 30 de novembro de 2022.
Foto: Sanket Mishra/Pexels

Ainda em relação ao uso de IA, e partindo da utilização na esfera política, surgem as stakeholdersTratam-se de instituições com algum interesse em gestão de projetos, que utilizam de dados para se aproximarem de seus apoiadores, gerando engajamento e enfatizando suas ações. O uso dessas informações ajuda na identificação de padrões, tendências e preferências do eleitorado.

“Usávamos o Skoob, que monitora o perfil dos eleitores. A partir dessa análise, tentávamos mudar o comportamento das pessoas”, relembra Bruno Mastrocola, doutor em Geografia Humana pela USP. Em 2012, Mastrocola participou da campanha política de Gabriel Chalita, ex-secretário da Educação do estado de São Paulo, ao cargo de prefeito da capital.

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Gabriel Chalita, ex-secretário da Educação do estado de São Paulo.
Foto: Reprodução/Alesp

Regulamentações

Em 27 de fevereiro deste ano, o uso de Inteligência artificial por partidos políticos nas eleições foi regulamentado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ato dispõe sobre a alteração da Resolução n° 23.610/2019, que diz respeito a propaganda eleitoral e as diversas diretrizes do uso de IA nas campanhas.

Entre as regras, se destacam a proibição de deepfakes técnica de síntese de imagens ou sons humanos, usada para combinar a fala qualquer a um vídeo já existente –, o uso obrigatório de marca d’água sobre a utilização de IA e a responsabilização dos provedores de internet e das plataformas digitais que não retirarem do ar conteúdos que contenham fake news e teor antidemocrático. “Toda ferramenta tecnológica precisa de regulação. Essa é a palavra-chave. Porque nós passamos por um período eleitoral complicado, não só o Brasil, mas o mundo”, analisa Mastrocola.

Após a regulamentação, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, colocou que os acréscimos feitos na resolução, permite que a Justiça Eleitoral tenha instrumentos eficazes no combate ao desvirtuamento por propagandas eleitorais, discursos de ódio e antidemocráticos.

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O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, durante coletiva de imprensa no Centro de Divulgação das Eleições.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Até que ponto interfere?

Segundo Nara Pavão, professora de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), as deepfakes não impactam na obtenção de votos por conta da sociedade brasileira, atualmente, ser polarizada. Pegue de exemplo a última eleição presidencial, caso um eleitor de Lula (PT), recebesse um vídeo com deepfake envolvendo o candidato ou alguém próximo de sua campanha eleitoral dizendo alguma fake news, não seria o suficiente para uma mudança de voto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Foto: Fabio Rodrigues/Agência Brasil

Pavão acrescenta que o uso de Inteligência artificial pode afetar positivamente a empregabilidade do setor político e reduzir o custo das campanhas. “É uma poderosa ferramenta para avaliar o perfil de cada eleitor, além do seu uso por especialistas no combate as fakes news“, completa.

Já Mastrocola enxerga de outra maneira e acredita que notícias falsas ou deepfakes são capazes de alterar o posicionamento político das pessoas. O doutor em Geografia acredita que as campanhas eleitorais se alteraram em comparação com o estilo “tradicional”. “Apesar de ser algo forte, acho importante sair do digital. É uma tentativa de evitar as produções de deepfakes e sensibilizar as pessoas de outra maneira”, analisa.

Editado por Ronaldo Saez

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