"Quem chama o policial de herói é a extrema direita", diz Denilson Neves, coordenador do Policiais Antifascismo - Revista Esquinas

“Quem chama o policial de herói é a extrema direita”, diz Denilson Neves, coordenador do Policiais Antifascismo

Por Pedro Moreira : setembro 1, 2022

Foto: Reprodução / Revista Esquinas

Denilson Neves, coordenador do Movimento Policiais Antifascismo (MPAF), foi o entrevistado do CavhCast dessa terça-feira (30)

O Centro Acadêmico Vladmir Herzog (CAVH) entrevistou em seu podcast semanal Denilson Neves, membro fundador e idealizador do Movimento Policiais Antifascismo (MPAF). Na conversa, foram abordados temas como a incitação política da violência policial e as dificuldades do ativismo dentro das corporações. 

Você pode conferir a íntegra na entrevista abaixo: 

ORIGEM DO MOVIMENTO

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Seminário organizado pelos Policiais Antifascismo no Rio de Janeiro.
Divulgação / Policiais Antifascismo

Seminário organizado pelos Policiais Antifascismo no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação / Policiais Antifascismo 

O Movimento Policiais Antifascismo nasceu em 2016, com pessoas na faixa etária de 35 a 50 anos de idade, a partir de um movimento sindical na Bahia chamado Sankofa. “Mas em determinado momento da luta, percebemos que a questão sindical extrapolava as fronteiras das corporações. Discutir segurança pública não deveria ser algo restrito a polícia”, explica Denilson. 

O policial civil comenta ainda sobre a origem do nome do movimento e de seu propósito. “Ao formar o grupo de policiais, tínhamos uma dúvida: qual nome dar a esse grupo? Surgiu, a princípio, o nome de ‘Policiais pela Democracia’, só que em 2015 já sofríamos a decorrência do que foi o surgimento de forças de extrema direita bastante ligados a concepções fascistas que já incitavam a despolitização, o uso da violência e a desmoralização da esquerda”, conta o líder do movimento.

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Para Neves, o léxico da sigla é essencial no entendimento dos princípios da organização.”Escolhemos o nome ‘Antifascismo’, não ‘Antifascistas’, porque não nos organizamos contra pessoas, mas sim contra ideias fascistas”, afirma. O movimento em 2017 escreveu seu primeiro manifesto, que abarca todos os seus princípios e assinaturas de seus integrantes. 

REPRESÁLIAS DENTRO DA POLÍCIA

Por serem minoria em números, Denilson explica que policiais que levantam bandeiras progressistas são repreendidos constantemente dentro das corporações.“A maioria dos nossos membros, principalmente os militares, têm sofrido prisões arbitrárias, perseguições, processos administrativos, ameaças etc.” 

Essas represálias vão desde entre colegas, com prisões declaradas pela justiça militar ou até com crimes de ódio, como foi o caso do assasinato do guarda municipal Marcelo Arruda, em julho de 2022. 

“Recentemente, Marcelo Arruda foi assassinado em plena festa de aniversário. Por incrível que pareça, tinham bolsonaristas na festa, que eram amigos pessoais do guarda e que agrediram o algoz depois de baleado. Olhe que nível de irracionalidade chegaram os nossos conflitos.” 

Denilson ainda aponta que Bolsonaro, adorado por tantos policiais, não foi capaz de ter nenhuma proposta que ajudasse a categoria policial. Mas por que tanto adoram ele? A justificativa é de que a esquerda, de certa forma, abandonou a categoria.  

“Além do grande processo de polarização e a falta de identidade dos policiais com a classe trabalhadora, quem sempre chamou o policial de herói foi a extrema direita. São eles que querem tratar bem esses cães treinados para que eles defendam os seus propósitos. Policial é formado no campo da ação, não do pensamento.”, afirma.

Editado por Juliano Galisi

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