Com novo formato, respeito mútuo e teor propositivo, primeiro debate do segundo turno entre candidatos a governador de SP é pautado por temas da disputa presidencial
Nesta segunda-feira (10), o grupo Bandeirantes, em parceria com um pool de veículos de imprensa, promoveu o primeiro debate do segundo turno entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo. O último debate do primeiro turno foi realizado no dia 30 de setembro. Foi a primeira vez, desde então, em que os candidatos Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) tiveram a oportunidade de estar frente a frente para debater propostas
Antes do início do programa, os dois candidatos conversaram com os jornalistas em uma coletiva de imprensa e comentaram a respeito da expectativa para o primeiro encontro entre eles. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, foi o primeiro a chegar aos estúdios da Band no bairro do Morumbi, na capital paulista.
Alta rejeição
Nossa equipe questionou o candidato petista a respeito dos altos índices de rejeição divulgados pelo Datafolha. Haddad pontou que “a única solução é o debate. É dizer que a gente tem a melhor proposta e o melhor conhecimento do Estado. Nosso conhecimento do Estado é infinitamente maior, nossa equipe técnica é infinitamente melhor e nossos apoios políticos são infinitamente mais amplos, mas é claro, que o soberano da história é o eleitor e cabe a ele decidir”.
Capítulo de novela
Pouco tempo depois, foi a vez do candidato Tarcísio de Freitas ser entrevistado pelos veículos de imprensa presentes. O ex-ministro gerou um clima de suspense quando questionado sobre um eventual apoio do PSDB à candidatura.
“Aguarde! Aguarde cenas dos próximos capítulos, é igual uma novela”, declarou Tarcísio. O posicionamento oficial do PSDB ainda é mera especulação. Sabe-se, todavia, que o apoio “incondicional” de Rodrigo Garcia colocou ainda mais pressão no partido. Em seguida, os candidatos se dirigiram ao estúdio, acompanhados por poucos assessores, e iniciaram o debate.
Temas relacionados ao segundo turno entre o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, foram abordados durante a maior parte do tempo e roubaram a cena da discussão. Dentre os assuntos, destacam-se o orçamento secreto, os sigilos de 100 anos e a vacinação contra a covid-19.
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Novo formato
Já no segundo bloco, temas mais relacionados ao contexto estadual, como segurança pública e educação, foram abordados pelos candidatos. Com um modelo diferente do habitual, o grupo Bandeirantes estabeleceu que durante o confronto direto ambos os candidatos teriam 30 minutos para administrar da forma que achassem melhor.
Isso proporcionou maior liberdade para os candidatos desenvolverem suas propostas de governo. Os participantes respeitaram o tempo de fala estabelecido e não houve ataques pessoais. O comportamento foi elogiado pelo mediador do debate, Rodolfo Schneider.
Nos arredores dos estúdios, a polícia militar reforçou a segurança, enquanto a CET fechou a rua em frente à sede da Band para evitar confrontos entre apoiadores dos dois lados. O debate transcorreu da melhor maneira possível, sem casos de violência registrados.
A nacionalização do debate
Com o candidato petista buscando desde o primeiro bloco associar Tarcísio de Freitas a Jair Bolsonaro (PL) , tópicos como o orçamento secreto, enfrentamento a pandemia, saúde pública, compra das vacinas e cortes na verba da educação foram constantemente levantados por Fernando Haddad (PT). Suas pautas se nacionalizaram ao citar o corte da Farmácia Popular e da merenda escolar ocorrido no atual governo.
O candidato do Republicanos, ao citar o Pronampe e o Auxílio Emergencial, defendeu as medidas do Governo Federal, especialmente durante a pandemia, mas tentou trazer o debate para a esfera do estado de São Paulo. Enfatizou seus feitos como ministro da Infraestrutura e mencionou suas propostas, especialmente para segurança pública, se posicionando, como já havia dito, a favor da retirada das câmeras nos policiais e a favor da redução da maioridade penal.
No segundo bloco, os candidatos foram questionados a respeito de tópicos como segurança, agronegócio, transporte metroviário e ferroviário, centro de São Paulo e educação. Sendo um momento mais propositivo, ambos elaboraram bem seus planejamentos para o estado, até concordando em alguns momentos.
Ambos postulantes concordaram a respeito da necessidade de melhora das linhas privatizadas da CPTM, de um transporte ferroviário intercidades e da urgência da alfabetização de crianças pequenas. Porém, neste bloco, foi determinado os principais tópicos do que foi o clímax do debate, os investimentos no estado.
Com Fernando Haddad (PT) mais incisivo no terceiro bloco, o Orçamento Secreto foi uma questão extremamente enfatizada. O candidato petista argumentava que não era possível que Tarcísio (Republicanos), caso eleito, realizasse seus planos. Ele diz que “Sem orçamento transparente nós não vamos fazer nada”, já que ele não saberia com que orçamento trabalharia, afinal, estaria na “mão do relator”, e não “na mão da população em parceria com o Estado” como deveria ser, segundo ele.
O ex-ministro da Infraestrutura buscou trazer o debate para iniciativa privada, onde foi questionado por Haddad (PT). “Privatização da Sabesp vai aumentar a conta da água”, analisa. Ainda, ele afirma que não se incomoda com as iniciativas público privadas, uma vez que ele criou o PROUNI, mas, é necessário cobrar e regular periodicamente os compromissos, ação que não está acontecendo em São Paulo. Se associa com Lula, afirmando com convicção que o candidato à presidência fará um grande investimento em trilhos, por exemplo, para solucionar a precária situação do metrô e trens.
Para que eleitores eles acenaram?
“Apadrinhados” pelos candidatos à presidência, Haddad (PT), apoiado por Lula (PT) e Tarcísio (Republicanos), por Bolsonaro (PL), apresentam perfis muito diferentes e, portanto, falam com públicos diferentes. Enquanto o engenheiro, Tarcísio, fala em “juridiquês” e “politiquês” sobre o orçamento secreto, o professor, Haddad, pede a atenção do público para “compreender desse discurso bonito o que de fato ele falou”, explicando o esquema.
Constantemente, o ex-ministro da Infraestrutura fazia acenos aos policiais, defendendo o fim das câmeras: “Policial não pode usar câmera no uniforme, ele precisa de liberdade”, mencionando, também, a necessidade de apoio jurídico e auxílio na saúde dos policiais. Além disso, Tarcísio buscou ampliar sua vantagem em relação ao petista fora da capital. Com uma curta vantagem de votos em relação a Haddad em Guarulhos, segundo maior colégio eleitoral de São Paulo, ele constantemente citava projetos e seu planejamento para a cidade. Em breve momento, Tarcísio também mencionou cidades como Itapetininga, Ourinhos, Birigui e a região do ABC paulista.
Já o ex-prefeito de São Paulo buscou firmar sua associação ao seu presidenciável, no caso, Lula (PT). Fazendo menções a nomes do PSDB histórico, como José Serra, o petista busca o apoio desta ala tucana para o segundo turno, conforme anunciado pelo candidato na última quinta-feira (6). Haddad também buscou diminuir, ao longo da última semana, sua desvantagem para Tarcísio no interior e em grandes colégios eleitorais, como Guarulhos e Campinas, onde fez comício junto a Lula.
Ambos postulantes apostaram em suas associações a seus presidenciáveis e em seus votos já estabelecidos, mas pouco buscaram o apoio do eleitor indeciso, que segundo a última pesquisa IPEC publicada na terça-feira (11), representa 23% dos eleitores paulistas.
Reação nas redes sociais
O debate dos governadores, a exemplo dos outros debates já realizados, movimentou as redes sociais, enquanto as pessoas assistiam ao evento ao vivo também comentava nas redes suas opiniões e impressões.
Segundo o analista de redes sociais Pedro Barciela, em aparição ao programa Band News, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, houveram dois agrupamentos bem claros e distintos de posicionamentos ao longo do debate, um baseado no anti-bolsonarismo e outro apoiando o movimento. O especialista explica que tal fenômeno aconteceu graças à postura de Fernando de Haddad, levando o debate para a esfera federal em várias ocasiões, citando orçamento secreto, questões ligadas à pandemia, transparência nos decretos e outras atitudes do atual presidente.
Em relação ao candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto, Tarcísio de Freitas, Pedro Barciela afirma que há um apoio bolsonarista em sua campanha, porém “eram apoios muito mais superficiais do que necessariamente amparados por alguma proposta do candidato”.
Essa falta de engajamento por parte dos apoiadores de Tarcísio nas redes sociais podem justificar a vantagem do candidato petista dentro das mesmas. Em análise publicada no Twitter por Arcelino Neto, mestre em ciências, especialista em laboratório e analista de redes sociais, Fernando Haddad teve uma ampla vantagem na plataforma. A diferença dos engajamentos foi notável, o agrupamento do candidato petista representou 79,3% das interações e suas hashtags alcançaram quase 15.000 citações.
O Prof. Fernando Haddad foi muito superior ao seu adversário no #DebateNaBand e as redes sociais repercutiram esta performance.
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📢Destaques: @Haddad_Fernando, @desmentindobozo, @ErikakHilton, @ptsaopaulosp e @GuilhermeBoulos. pic.twitter.com/dfIPR2Yvkd— Arcelino Neto 1⃣3⃣🇧🇷 (@arcelinobsilva) October 11, 2022
Além disso, segundo o analista, os temas mais citados durante o debate no Twitter foram orçamento secreto, farmácia popular e merenda escolar, ambos temas questionados por Haddad.
O saldo final do debate aparenta ser positivo, especialmente no Twitter, para os eleitores petistas, já que, segundo a análise realizada por Arcelino, a principal emoção presente nos tweets foi a de confiança, se referindo a uma possível virada de votos buscada pelo candidato esquerdista.