Parada LGBT+: "Estamos aqui para que a experiência seja mais leve no futuro”, diz pernambucano - Revista Esquinas

Parada LGBT+: “Estamos aqui para que a experiência seja mais leve no futuro”, diz pernambucano

Por Fernanda Alves e Sophia Molinari : junho 4, 2024

Identificando-se como homem cis bissexual, Pedro diz que pôde realizar uma cerimônia para se casar com seu atual marido, exercendo seus direitos em totalidade. Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

Avenida Paulista recebeu a 28ª Parada do Orgulho LGBT+ no último domingo (2) com a promessa de uma multidão em verde e amarelo

Na iminência de ressignificar a bandeira nacional, os organizadores apostaram no tema “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo”, convidando o público a refletir e levantar a discussão sobre a importância do voto consciente e representativo.

De acordo com o balanço divulgado pela Associação da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo (APOLGBT-SP), organizadora do evento, cerca de 3 milhões de pessoas passaram pela Avenida Paulista ao longo do dia. Até a publicação desta matéria, os dados oficiais da Polícia Militar de São Paulo não foram divulgados.

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Cerca de 3 milhões de pessoas passaram pela Avenida Paulista ao longo do dia.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

A ideia central era trazer um novo significado para a camisa da seleção brasileira e para as cores da bandeira, que eram comumente usadas por apoiadores da extrema-direita e manifestantes a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essas cores foram, inclusive, utilizadas nos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023 – por isso a importância de retomar esse símbolo nacional como algo universal.

Primeira Aparição

É muito provável que, todos os dias, alguém esteja sempre vivenciando a magia de fazer algo pela primeira vez. Um primeiro beijo, primeiro toque, primeiro dia de aula ou de trabalho, cada experiência é única em sua totalidade. Colocar-se de corpo e alma nessas situações é intrínseco para vivenciá-las da melhor maneira possível.

Assim, na maior Parada LGBT+ do mundo, era evidente que muitos estavam experienciando aquele espaço de modo inaugural. Foi o caso de Pedro Quirino, de Recife, que disse estar realizado por poder finalmente ir ao movimento, tendo agora melhores condições, por ter se formado.

“Eu acho que a sensação é de pertencimento. De sentir que as pessoas que vieram antes ajudaram no hoje. Estamos aqui para que a experiência seja mais leve no futuro”, afirma. Identificando-se como homem cis bissexual, Pedro diz que pôde realizar uma cerimônia para se casar com seu atual marido, exercendo seus direitos em totalidade. “Nós dois temos uma clínica afirmativa, focada em atendimento LGBT+, [que cuida de] saúde mental, sexual e reprodutiva. É bem completa e online”, acrescenta.

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Identificando-se como homem cis bissexual, Pedro diz que pôde realizar uma cerimônia para se casar com seu atual marido, exercendo seus direitos em totalidade.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

Maria Estela, de 23 anos, comenta que a sua motivação de conhecer a Parada foi a premissa da ocupação acontecer em uma das principais avenidas da América Latina, a Paulista. Assim, para ela, é possível mostrar ao mundo que seus corpos existem e não devem ser negados. Mulher trans e travesti – e ariana demais, como dito por Maria –, se encantou com a diversidade do espaço. “Nós já vivemos em um mundo muito plural, chega a parada e essa pluralidade se aglomera. Você não consegue olhar duas pessoas e não ver semelhanças”, pontua.

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Mulher trans e travesti – e ariana demais, como dito por Maria –, se encantou com a diversidade do espaço.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

Já Rebeca, de 16 anos, finalmente conheceu o evento em ótima companhia, com sua namorada Júlia Bárbara, de 18 anos. “O que me motivou a vir mesmo foi conhecer. Como eu nunca tinha vindo, quis vir pela primeira vez com a minha primeira namorada”, comenta. Júlia que, por outro lado, estava na sua segunda edição do movimento, menciona que o motivo de participar foi a identificação com o público em si.

Algo que a encantou nas duas participações foi o respeito e a recíproca entre todos – ponto que, dentro da comunidade, em geral, também transparece diante do acolhimento acerca da fluidez das identificações. “Eu sempre gostei muito de meninas, desde pequena. Eu não sei dizer se sou bissexual ou lésbica, ainda não sei. Não me identifiquei, mas, por enquanto, eu namoro com uma mulher”, acrescenta.

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Rebeca, de 16 anos, com sua namorada Júlia Bárbara, de 18 anos.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

“Arroz de Festa”

Assim como a magia das primeiras vezes, ter uma experiência repetidamente torna-a melhor e mais lúdica, além de produzir momentos mais completos. Nesta Parada, também não foi diferente, o palco de batalhas históricas travadas pelo movimento, traz cada vez mais participantes, inclusive personalidades que já estiveram em anos anteriores.

Em meio a este espaço de acolhimento na Avenida Paulista, algumas pessoas se destacaram na multidão. Foi o caso de Fernando Almeida, de 43 anos, que é um participante ativo nas Paradas, já que presenciou todas as edições anteriores, desde a primeira. Mas que com o passar do anos, começou a entender a verdadeira importância do evento. Fernando conta que assumiu sua orientação sexual cedo, com 12 anos. Por isso, participou da primeira edição, com a ideia de se entender melhor – também pela “bagunça”, como o mesmo comenta. 

Fernando Almeida, de 43 anos, já presenciou todas as edições anteriores, desde a primeira.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

Identificando-se como homem gay cisgênero, ele conta que adora a celebração do amor que floresce em meio a Paulista. “O que eu gosto da Parada é essa união. Vem gente de outras cidades, estados e países, todos reunidos em um só lugar. O amor é a linguagem universal”, completa.

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Assim como Fernando, o pernambucano Guilherme Câmara, de 41 anos, não perde uma edição do evento. O enfermeiro, que se identifica como homem gay cisgênero, reforça a importância do tema central da Parada nesta 28ª edição – “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo”. “Estou aqui por uma questão de luta pela saúde. Temos que apoiar todas as causas”, afirma.

O pernambucano Guilherme Câmara, de 41 anos, nunca perdeu uma edição do evento.
Foto: Caio Rocha/ESQUINAS

A herança cultural da Parada

Organizada em São Paulo desde 1997, a Parada é sinônimo de manifestação e pluralidade. A primeira edição, por exemplo, só ocorreu por conta de um protesto realizado no meio da Avenida Paulista, quando a drag queen Kaká Di Poly deitou no asfalto da via e, assim, impediu o fluxo de automóveis, permitindo que o desfile começasse.

Com o passar do tempo, os protestos começaram a ser realizados em outros formatos. Neste ano, as exposições foram feitas diretamente dos trios, contando com a presença da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), da vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL) e do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) – também pré-candidato à prefeitura de São Paulo. Além dos psolitas, o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania Silvio de Almeida estiveram presentes.

Claro que, além dos discursos sociais e políticos, outra linguagem ativista presente ficou com as cantora Pabllo Vittar.

Editado por Ronaldo Saez

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