Senadora convocou imprensa para pronunciamento oficial sobre seu posicionamento em relação ao segundo turno das eleições presidenciais na tarde de hoje (5), em São Paulo
Simone Tebet (MDB), senadora por Mato Grosso do Sul e 3ª colocada no primeiro turno das eleições presidenciais, declarou na tarde desta quarta-feira (5) apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa do segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). A declaração formal de apoio vem na sequência da executiva nacional do MDB ter optado pela neutralidade.
“Não anularei meu voto, não votarei em branco, não cabe a omissão da neutralidade”, reforçou Tebet em pronunciamento no Hotel Transamerica, em São Paulo (SP). “Depositarei em Lula o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente”, completou a senadora.
A tendência, desde domingo, era que Simone afirmasse apoio à campanha do petista. “Eu já tenho lado, não esperem de mim omissão”, declarou Tebet na ocasião, pressionando partidos e outros candidatos a afirmarem seus posicionamentos para o 2º turno.
Há um Brasil a ser imediatamente reconstruído, há um povo a ser novamente reunido, reunido na diversidade, antes de sempre a nossa maior riqueza, hoje esmigalhada por todos os tipos de discriminação, declarou Simone Tebet.
Atuação na CPI
Simone projetou-se para a disputa à presidência da República após atuação combativa na CPI da Pandemia, comissão investigativa instaurada pelo Senado Federal em meio à pandemia de covid-19 para apurar possíveis desvios de conduta do governo federal na política sanitária.
Tebet teve uma postura elogiada pela imprensa e protagonizou momentos icônicos na CPI – tendo sido responsável, por exemplo, por extrair a confissão do deputado Luis Miranda (DF) sobre um diálogo entre Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo, e o presidente Jair Bolsonaro, no qual ficava claro que o chefe do executivo tomou conhecimento sobre um esquema de compra superfaturada de doses de vacina.
Resistência interna
Simone Tebet enfrentou resistência dentro do próprio partido para oficializar a candidatura. “Velhas raposas” do MDB, como o senador Renan Calheiros (AL) e outros emedebistas do nordeste, tentaram articular uma adesão do partido à coligação presidencial do PT, encabeçada por Lula. A resistência foi superada e, uma vez candidata, novos objetivos surgiram para a campanha.
As possibilidades de triunfo na corrida presidencial sempre foram tidas como irrisórias pelo comitê da senadora e o objetivo, desde o lançamento, era superar o recorde histórico de desempenho eleitoral do MDB: os 4,73% de Ulysses Guimarães na eleição de 1989. Simone atingiu 4,16% dos votos válidos no último domingo e, diante disso, não superou Ulysses e nem os 4,38% de Orestes Quércia em 1994 – o desempenho da senadora, entretanto, foi elogiado e pode ser considerado o melhor posicionamento público do MDB em muito tempo.
Propositiva, Tebet foi bem nos debates televisivos e se expôs ao eleitorado sem observar os índices de rejeição crescerem de modo significativo nas pesquisas de intenção de voto. Por mais que esteja distanciada de Lula e Bolsonaro no total de votos válidos, o posicionamento da senadora para a disputa do segundo turno vinha sendo muito aguardado desde o final da apuração.
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Apoio em boa hora
Para a campanha de Lula, uma declaração de Simone Tebet seria uma resposta à altura dos apoios de governadores do sudeste a Bolsonaro – na segunda-feira (5), Rodrigo Garcia (PSDB-SP), Romeu Zema (NOVO-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ) afirmaram apoio ao presidente no 2º turno.
Leia a íntegra do discurso de Simone Tebet:
Esta é uma tarde histórica, afinal dia 5 de outubro é o dia que há 34 anos o Brasil viu promulgada a sua Constituição cidadã. Venho aqui para apresentar um manifesto para o povo brasileiro. Eu apresentei a minha candidatura à presidência da República diante de um país dividido pelo discurso do ódio, da polarização ideológica e de uma disputa pelo poder que não apresentava soluções concretas para os reais problemas do Brasil. Minha intenção foi construir uma alternativa a essa situação de confronto, que não reflete nem a alma e nem o caráter do povo brasileiro.
As urnas falaram, o povo brasileiro se fez ouvido, cumpriu-se o rito da Constituição, que hoje completa 34 anos. Venceu a democracia. Tive 4.915.423 votos e agradeço do mais fundo do meu coração a cada um desses votos. Mas aprendi ao longo de minha vida pública que não se luta apenas para vencer, mas para defender projetos, iluminar caminhos, plantar sementes para uma colheita coletiva.
O eleitor optou por dois turnos e, diante de quase tudo que testemunhamos no Brasil nos últimos tempos, do clima de polarização e de conflito que marcou o primeiro turno, não estou autorizada a abandonar as ruas e as praças, enquanto a decisão soberana do eleitor não se concretizar. A verdade sempre me foi companheira, não vai ser agora que irei abandoná-la.
Sim, critiquei os dois candidatos que disputarão o segundo turno, e continuo a reiterar as minhas críticas. Mas pelo amor que tenho ao Brasil, à democracia e à Constituição, pela coragem que nunca me faltou, peço desculpas aos meus amigos e companheiros que imploraram pela neutralidade neste segundo turno – preocupados com a eventual perda de capital político – para dizer que o que está em jogo é muito maior do que cada um de nós.
Votarei com a minha consciência e com a minha razão, votarei com a minha razão de democrata e com a minha consciência de brasileira. E a minha consciência me diz que neste momento tão grave da nossa história, omitir-me seria trair a minha trajetória de vida pública, quando aos 14 anos pedi autorização à minha mãe para poder ir às ruas lutar por “Diretas Já”. Seria desonrar a história de vida pública de meu saudoso pai, e de homens históricos de meu partido e de minha coligação. Não anularei meu voto, não votarei em branco, não cabe a omissão da neutralidade.
Há um Brasil a ser imediatamente reconstruído, há um povo a ser novamente reunido, reunido na diversidade, antes de sempre a nossa maior riqueza, hoje esmigalhada por todos os tipos de discriminação. Neste ponto, um desabafo, de que vale irmos às nossas igrejas e proclamar nossa fé – se não somos capazes de pregar o evangelho e o respeito ao nosso próximo nos nossos lares, no nosso ambiente de trabalho, nas ruas de nossa pátria.
Nos últimos quatro anos, o Brasil foi abandonado na fogueira do ódio e das desavenças. A negação atrasou a vacina, a arma ocupou o lugar dos livros, a inequidade fez curvar a esperança, a mentira feriu a verdade, o ouvido conciliador deu lugar à voz esbravejada, o conceito de humanidade foi substituído pelo desamor, o Brasil voltou ao mapa da fome. O orçamento, antes público, necessário para servir o povo, tornou-se secreto e privado.
Pois tudo isso, ainda que mantenha as críticas que fiz ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em especial nos seus últimos dias de campanha, quando cometeu o erro de chamar para si o voto útil, que é legítimo, mas sem apresentar suas propostas completas para os reais problemas do Brasil, depositarei nele o meu voto, porque reconheço seu compromisso com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente. Repito, depositarei nele o meu voto porque reconheço no candidato Lula o seu compromisso com a democracia e a Constituição, o que desconheço no atual presidente.
Meu apoio não será por adesão, meu apoio é por um Brasil que sonho ser de todos. Inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável, um Brasil com reformas estruturantes, que respeite a livre iniciativa, o agronegócio e o meio ambiente, com comida mais barata, emprego e renda.