A rapidez com que a covid-19 se disseminou em São Paulo mobilizou toda a rede de saúde paulistana e colocou os hospitais públicos da cidade em alerta
Profissionais da área – médicos e enfermeiros, mas também fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e biólogos – aguardam convocação para treinamentos específicos. O objetivo é preparar terreno para um grande número de pacientes infectados com o vírus nas próximas semanas, quando provavelmente ocorrerá o pico das internações.
Alguns hospitais foram reformados e outros estão sendo erguidos em poucos dias. É o caso dos hospitais de campanha no estádio do Pacaembu e o Pavilhão de Exposições do Anhembi. “Está ocorrendo uma total reorganização do Sistema Único de Saúde (SUS) para tentar dar conta do que provavelmente vai ser uma sobrecarga gigantesca”, afirmou à reportagem de Esquinas uma profissional de hospital público, que pediu anonimato.
Por enquanto, a instituição em que a entrevistada trabalha tem movimento tranquilo. “O Hospital das Clínicas (HC) foi designado hospital referência no tratamento de covid-19. Os hospitais públicos estão direcionando todos os pacientes com coronavírus para o HC, e os pacientes do HC com outras patologias estão sendo transferidos para outros hospitais”. Quando a capacidade do Hospital das Clínicas se esgotar, será a vez de de instituições como a da entrevistada.
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Segundo a profissional, todos os funcionários que trabalham no SUS estão sendo treinados e realocados em outras funções. “Nós fomos remanejados para o setor de internação. Vamos ajudar onde for necessário, sempre com equipamentos de proteção individual e treinamentos”, explicou a entrevistada, que antes não atuava na linha de frente ambulatorial. “Nas próximas semanas, poderemos estar envolvidos em situações diversas, desde recepcionar pacientes com covid-19 até empurrar macas, por exemplo”.
Uma das maiores preocupações dos trabalhadores de saúde é o medo de contágio. A situação trágica de equipes hospitalares adoecendo em países como a Itália assustou os trabalhadores, sobretudo aqueles com idade avançada, doenças crônicas ou que trabalham UTIs e prontos-atendimentos. “Como forma de prevenção, os profissionais com alguma comorbidade foram retirados da atuação direta com os pacientes de covid-19 e ficaram responsáveis por outras patologias, pois o sistema precisa lidar com o restante das questões urgentes de saúde”, disse. A entrevistada tem, por enquanto, uma visão tranquila sobre o assunto. “Respeito todos os procedimentos de higiene e autocuidado. Considero que os hospitais estão preparados e bem equipados para atender os pacientes”, afirmou.
O consenso, diz ela, é que algumas pessoas da área de saúde vão adoecer porque elas mantêm um contato muito alto com os pacientes infectados. Por enquanto, a mudança mais visível foi a liberação de leitos com o adiamento de cirurgias não urgentes. “Há também reformas em hospitais públicos para abrir mais vagas. No hospital em que trabalho, as da UTI estão sendo poupadas para os pacientes de covid-19. As próximas semanas serão decisivas”, finalizou.