A editora-chefe do portal Drauzio Varella, Mariana Varella, analisa os possíveis cenários para as eleições de 2022 e o futuro da saúde pública no país
Em ano eleitoral, a discussão acerca da saúde pública brasileira ganha ainda mais força. Em 2022, serão realizadas as eleições para a presidência do país, mesmo ano em que Jair Bolsonaro, atual presidente, foi julgado pelo Tribunal Permanente dos Povos por crimes contra a humanidade, cometidos pela sua atuação durante a pandemia de covid-19, que levou a óbito mais de 600 mil brasileiros.
“Poderíamos ter vivido uma desgraça muito maior”, afirma Mariana Varella, cientista social, editora-chefe do portal Drauzio Varella e pós-graduanda em saúde pública, em sua entrevista para o programa de entrevistas CavhCast. Para a cientista, o Sistema Único de Saúde brasileiro teve um papel decisivo nos dois últimos anos, mas sua importância vai muito além do combate ao coronavírus.
“Costumamos dizer que o Sistema Único de Saúde (SUS) funciona, para muitas pessoas, como porta de cidadania. A pessoa passa a existir como cidadão quando ela passa a frequentar o SUS”
-Mariana Varella
Porém, Varella afirma que estamos prestes a passar por um momento muito conturbado na saúde pública do Brasil. Além de revelar as dificuldades do sistema, a pandemia fez com que um número considerável de pessoas deixassem de tratar doenças crônicas e realizassem exames, fator que sobrecarregará a logística da saúde pública em longo prazo.
”Não vamos conseguir melhorar o SUS se não aumentarmos o financiamento. E o que temos visto nos últimos anos é exatamente o contrário”, aponta a cientista, que defende que a falta de financiamento é um dos principais problemas da saúde brasileira atualmente. “Temos um número maior de pessoas que vão precisar de tratamento público e em contrapartida, temos cada vez menos verba para isso”, complementa.
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Junto com o sucateamento, a falta de comunicação, somada com a onda de desinformação que se alastrou pelo Brasil nos últimos anos, também foi prejudicial para o sistema de saúde brasileiro. “É muito triste ver que crianças podem adoecer gravemente por doenças que podem ser evitadas com vacinas gratuitas”, afirma Varella sobre a volta de doenças que já haviam sido erradicadas, como o sarampo e a poliomielite. “Perder esse reconhecimento de que sabemos vacinar é um dano muito grande para o Brasil”, complementa.
Ainda durante a entrevista, Mariana opina sobre a “gestão desorganizada” do Ministério da Saúde, e como ela dificulta o processo de enfrentamento a novas doenças, visto os recentes casos da varíola do macaco. “Sempre tivemos um Ministério da Saúde muito atuante. Mas, com o atual governo, houve um desmonte no setor que prejudicou muito a atuação desses profissionais. Hoje, não podemos contar com o Ministério da Saúde como contávamos em outras gestões.”
Para a próxima gestão do país, Mariana reforça a questão do fortalecimento do SUS como uma prioridade, de forma a contornar possíveis outras crises e permitir o acesso universal ao sistema de saúde pública.
”A gente sabe que muita coisa ainda falha, não é perfeita. Temos muitos problemas de gestão no SUS, mas ainda com os cortes de verba, o SUS faz muito.”
– Mariana Varella
Mas não faltarão desafios nessa jornada. Somente como danos colaterais da pandemia, Varella aponta que a negligência com doenças crônicas, a baixa procura dos postos de saúde para tratar de outras doenças e as pessoas com “covid longa” podem ser fatores preocupantes e que ainda não sabemos o que eles podem representar para o sistema de saúde pública.
“É muito importante que a gente vote em candidatos que defendam o SUS e tenham a saúde no Brasil como prioridade. É preciso pensar em saúde como assistência básica, pensar na parte de prevenção, para tentarmos não perder tudo o que a gente já construiu com a saúde no país”, finaliza.