Paula Frudit, médica do Hospital das Clínicas, fala sobre a rotina na unidade de terapia intensiva (UTI) lidando com pacientes de covid-19
O dia a dia nos hospitais, principalmente da esfera pública, tem sido extremamente caótico. Nesse contexto, a médica Paula Frudit, recém-formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e atualmente residente em clínica médica no Hospital das Clínicas (HC), compartilha à ESQUINAS sua experiência assistindo somente pacientes com covid-19.
Sobre o preparo do HC em relação à pandemia, Paula explica que “o hospital foi dividido em duas alas. Uma destinada aos pacientes com coronavírus e outra aos com outras condições”. A equipe médica, incluindo residentes, assistentes, enfermeiros e todos os profissionais da saúde, também foi dividida entre as alas. Nelas há restaurantes, equipamentos de proteção contra a doença e todos os recursos necessários, já que o Hospital das Clínicas vem se organizando desde antes do período crítico e, por isso, aparenta estar bem preparado, segundo a residente.
Quanto às UTIs, setor no qual Paula atua, foram abertas mais três alas além das três que já estavam em operação. Também foram convocados profissionais e residentes de outras áreas, além dos intensivistas — médicos especializados no atendimento de pacientes críticos — para auxiliar a chefiar os plantões.
“Meu dia-a-dia consiste em ir ao hospital e dar plantão em alguma das UTIs destinadas aos pacientes infectados ou com suspeita de covid. Os plantões duram 12 horas, e, em seguida, temos 36 horas de descanso, visando diminuir o risco de contaminação e o cuidado com nossa saúde mental e física”, conta a residente, que elogia a estratégia do HC.
A médica pondera que se trata de um ambiente muito intenso e pesado. “Todos os pacientes internados ali possuem uma síndrome respiratória aguda grave. Muitos morrem, ficam em estado crítico. Temos medo de nos infectar e infectar nossas famílias”, diz Paula.
Segundo ela, “a instituição tem fornecido amplo apoio aos funcionários, com um curso de como utilizar os equipamentos de proteção de forma correta, além de aulas sobre temas importantes”, com o intuito capacitar ao máximo os profissionais neste momento.
A médica afirma que “a população depende dos funcionários de saúde”, o que aumenta a pressão sobre esses profissionais e os obriga a se manterem informados e antenados a respeito do panorama atual. “Com certeza é uma das coisas que eu mais gosto na medicina. Sempre precisamos continuar estudando e aprendendo para que possamos ter um embasamento baseado em evidências científicas”.
A respeito de uma possível sobrecarga no sistema de saúde, Paula explica que palestras e estudos de profissionais renomados da área da epidemiologia destacam que pessoas com outras condições de saúde que não o coronavírus, como infartos e derrames, continuam frequentando os hospitais e demandam atendimento urgente. “Se todas as UTIs estão ocupadas com pacientes de coronavírus, vai haver sim uma sobrecarga. Todos os dias chegam pacientes com suspeita do vírus, assim como pacientes com outras enfermidades, e ambos precisam do atendimento”, aponta.
Por isso, ela defende o isolamento social com o intuito de não tumultuar os centros de saúde para que pessoas com outras necessidades urgentes também possam ser atendidas. “É muito importante seguir as normas propostas pelas organizações de saúde para que ninguém se prejudique ao precisar dos serviços”, reiterando a importância de evitar a sobrecarga.
Paula diz que a pandemia “pegou todos de surpresa”, inclusive os profissionais da saúde. “O que nós pedimos a todos é paciência. Paciência para respeitar os protocolos e o isolamento, não só para se protegerem, mas para protegerem suas famílias e as pessoas ao seu redor, além do sistema de saúde como um todo. É um momento de pensar no outro, e não só em si mesmo”. Por fim, a médica reforça que algum tratamento eficaz contra o coronavírus há de ser encontrado em breve. “Por isso, devemos nos manter esperançosos”, conclui.
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