“Quando o paciente não resiste, eu me sinto culpada”: Profissionais da saúde relatam piora da saúde mental durante a pandemia - Revista Esquinas

“Quando o paciente não resiste, eu me sinto culpada”: Profissionais da saúde relatam piora da saúde mental durante a pandemia

Por Hulli Moraes, aluna do projeto Redação Aberta #1* : maio 28, 2021

Medo e frustração são as principais queixas de médicos e enfermeiros que atuam na linha de frente contra a covid-19

Após mais de um ano desde o início da pandemia de covid-19 no Brasil, profissionais da saúde que atuam na linha de frente afirmam estar sentindo sua saúde mental ser afetada negativamente.

Jeanne Nakagawa, 30 anos, é médica plantonista do Hospital Giselda Trigueiro, referência em infectologia do estado do Rio Grande do Norte. Ela relata um desgaste com a pandemia. “A gente sempre acha que dá para fazer mais e acabamos ultrapassando nossos limites. Chegamos em casa sem energia”, diz.

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Jeanne Nakagawa relata desgaste trabalhando há mais de um ano na linha de frente contra a covid-19.

“Eu vejo que minha saúde mental foi afetada. Não era uma pessoa que chorava fácil, e hoje eu me emociono facilmente. A gente tenta não trazer para casa, mas muitas vezes eu fico chateada com algo que deu errado e a frustração bate”, continua Jeanne.

Também na linha de frente contra a covid-19, Gabriela Rio, 22 anos, sente medo. Enfermeira no Hospital Infantil Cândido Fontoura, ela conta: “Eu me formei em fevereiro de 2020. Pouco tempo depois, comecei a trabalhar num hospital que virou exclusivo para covid”. Ela logo começou a trabalhar num pronto-socorro: “Eu já chegava em casa pensando na situação dos pacientes do dia seguinte. Isso acabou me dando ansiedade e até mesmo paralisia do sono, o que preocupou muito a minha família”, relata Gabriela.

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Enfermeira Gabriela Rio, que diz ter tido ansiedade e até paralisia do sono, com seus colegas de profissão.

Medo e frustração também são queixas relatadas por Gabrielle Lumy, 25 anos, médica do Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos e do Hospital Municipal de Brás Cubas, em Mogi das Cruzes. “Muitas vezes, eu choro vendo a situação do paciente. A equipe médica tenta fazer de tudo, mas quando o paciente não resiste e falece, eu me sinto culpada. Fico com sentimento de impotência e de que não estou conseguindo salvar as pessoas”, relata.

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A médica Gabrielle Lumy comemora a recuperação de um paciente com colegas de profissão.

Como cuidar da saúde mental

Segundo a psicóloga Jaqueline Matos, 52 anos, o aumento da procura por atendimentos foi significativo. Tanto pacientes que já haviam sido atendidos e recebido alta, quanto aqueles que ainda não tinham passado por nenhuma consulta psicológica resolveram procurar a terapia.

As principais causas desse aumento, de acordo com Jaqueline, foram o transtorno de ansiedade e depressão decorrentes do fato de as pessoas precisarem ficar confinadas em suas casas. Mas também houve um acréscimo de pacientes psicossomáticos – pessoas com sintomas físicos, mas sem diagnóstico.

A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) apontou que 59% de seus associados perceberam aumento de até 25% nas consultas com a pandemia. Para a psicóloga, a situação dos profissionais de saúde é ainda pior. “Eles estão diante de incertezas e medo. O nível de estresse ocasionado pela quantidade de pessoas que estão precisando ser cuidadas é muito grande. Gera um sentimento de impotência, de incompetência. Além do medo de sair de casa para trabalhar e contaminar alguém da família”, analisa Jaqueline.

Para amenizar transtornos psicológicos, a psicóloga sugere não negar os sentimentos e reconhecer o que está acontecendo, seja angústia ou tristeza. Também é recomendado criar momentos de desestresse. “Caminhar por 20 minutos, encontrar uma pessoa com quem possa desabafar e contar os problemas, manter uma rotina para se conectar com coisas boas, dormir bem e ter uma alimentação saudável são primordiais para a nossa saúde e ajudam a diminuir a ansiedade”.

Onde encontrar ajuda gratuita

O Centro de Valorização da Vida (CVV) e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) oferecem apoio psicológico gratuito. Um mapeamento também foi elaborado com perfis no Instagram de terapeutas e psicólogos que estão atendendo online gratuitamente ou com preço social. Outras indicações neste link.

  • Plantão psicológico e psicoterapia
@papopelavida
@institutodespecialidades
@projeto.raizespsi
@cuidadohumanitario
  • Grupos terapêuticos
@lugardosentir (para professores/as)
@rodasescutacompassiva
Psicoterapia
@incubapsi
@temescutaaqui
@clinicadrja
@saudementalparatodos_
@seorientte.psi
@apgarpsi
@psicologia_unibh
@nepfehmg
@encontroacp
@psi.popular
@tudovaificarbem.brasil
@projeto.narrativas
@psi.coletivamente
@espaco.diverso
@institutosherpa
@casadojasmim
@lacosocial2020
@psicodra.aparana
@espacosaudevida_ (inclui crianças, adolescentes e idosos)
@coletivogrupos
@achavedaquestao
@projetopluralidades
  • Luto
@proalu.unifesp
@apoiohumano (focado em crianças, adolescentes e adultos em luto por covid)
  • Plantão psicológico
@escutanoparque
@plantao_psi3
@escutanalagoa
@ouvidosnovondel (para brasileiros que emigraram para os países baixos)
@presencial.mente
  • Terapia de casais e família
@assimsc

*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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