“O esporte mudou nossas vidas”, declara mãe de atleta mirim portador de condição rara que usa da corrida para inclusão de seu filho
Neste domingo, 15, aconteceu em São Paulo a 28ª edição da corrida São Silvestrinha, uma corrida para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, que acontece desde 1994, inspirada na Corrida Internacional São Silvestre, a corrida de rua mais importante da América do Sul, que acontece anualmente no dia 31 de dezembro. Essa foi a segunda edição da São Silvestrinha após a pandemia depois de uma pausa de três anos.
O evento, que estava marcado para início às oito horas da manhã, tinha movimentação de pais, treinadores e jovens atletas no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa Marechal Mário Ary. Muitos vieram de outras cidades e até outros estados para competir. Era possível encontrar pais e atletas de cidades do interior de São Paulo, como Lins, Itu e Salto, e de fora de São Paulo também, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Sergipe. Daniela Drumond, de Belo Horizonte (MG), estava acompanhando o filho Theo, de 7 anos, que tem Síndrome de Down. Diferente da maior parte dos atletas, eles não vieram apenas para competir, mas estão morando na capital desde junho de 2023, quando chegaram para dar continuidade ao tratamento de Leucemia de Theo. Daniela, que também é corredora, tem um projeto para dar assistência a famílias que recebem o diagnóstico de Síndrome de Down, o 21 Conecta, e explica a importância da inclusão na vida do filho.
“O Theo é um mini atleta, ele adora praticar esporte. Esporte faz toda a diferença na inclusão. A gente precisa levar os nossos filhos para o mundo, e a sociedade precisa aprender a conviver com eles. Diversidade faz parte da vida”.
Mãe e filho cruzam juntos a linha de chegada, mas a maior vitória que têm para celebrar é da batalha contra a Leucemia, pois o pequeno atleta já está em fase de remissão, e por isso eles logo retornarão para Minas Gerais.
A equipe de Saquarema (RJ), liderada por Claudia Regina dos Santos, mais conhecida como Tia Claudinha, marcou presença novamente com uma torcida que fez muito barulho para incentivar os amigos que competiam. Vários atletas da equipe subiram ao pódio.
“A gente treinou muito o ano inteiro, viemos de longe e chegamos aqui às seis da manhã para colher os frutos de todo esse esforço. Ver esses resultados é muito gratificante”, conta a treinadora Claudia.
O primeiro atleta da equipe a subir ao pódio foi Davi Vieira, de 16 anos, que conquistou medalha de ouro. O adolescente começou a treinar corrida há apenas 6 meses, e desde então tem conquistado boas classificações em todas as competições que participa, geralmente ficando entre os três primeiros lugares da categoria em que compete. A mãe do corredor ficou emocionada com a vitória.
Os atletas Pedro Lucas da Silva, de 11 anos, e Allana Peixoto, de 17 anos, campeões de suas categorias na corrida do ano passado, são autistas. Allana teve seu seu diagnóstico de autismo, TDAH e Altas Habilidades e Superdotação recentemente, e esse ano subiu novamente ao pódio de sua categoria, e foi a única menina de sua faixa etária a participar da corrida. Com essa vitória, ela se despede das competições infantis e passa a treinar para corridas de adulto. “Eu estou com a meta de conquistar uma vaga no campeonato Panamericano de atletismo”, conta Allana.
Além deles, o corredor mais novo da equipe, Yan de Oliveira, de 3 anos, tem Síndrome de Down.
A equipe de Lins (SP) também marcou presença na 28 ª edição, e o treinador David Ribeiro fala com orgulho dos pequenos competidores que vieram em seu time.
“Eu estou aqui pela 13ª vez, na São Silvestrinha, trazendo atletas e essa é a maior delegação, são 30 atletas, e eu só posso agradecer”.
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Giovanna Martins, de 42 anos, também treina crianças nas periferias do interior de São Paulo e da capital. A técnica também é corredora há 36 anos e participou da São Silvestrinha em 1998, aos 15 anos. Também é fundadora do Projeto Sementinha, que conta 11 anos de história, e trouxe jovens de Itu (SP) e Salto (SP) para competir. Dois deles, Ronaldo Quintino e Gabriel Insumbo, são de Guiné-Bissau e estão morando no Brasil há pouco tempo. Giovanna os conheceu nas periferias do interior de São Paulo e viu potencial nos meninos para o esporte. Assim, os dois adolescentes passaram a fazer parte do Projeto Sementinha e treinar atletismo.
Outro competidor foi Rhyan Guimarães, de 8 anos, que veio de Sergipe acompanhado pela mãe Roseane. A mãe do atleta mirim, que é portador de uma doença rara, a Osteogênese Imperfeita tipo 3, conhecida como “ossos de vidro”, conta emocionada que o filho, que é cadeirante, a prática de esporte mudou a vida do menino por meio da inclusão. Segundo Roseane, ao praticar atletismo, o pequeno se sente acolhido, amado e livre.
“Com certeza o esporte mudou nossas vidas. Eu enquanto mãe atípica e ele enquanto criança atípica, que tem uma doença rara. Nada nos limitou.” Diz Roseane.
Ela ainda conta que quem começou a correr primeiro foi ela, para ajudá-la no tratamento contra sua depressão e ansiedade. Algum tempo depois ela resolveu começar a levar o Rhyan para correr junto com ela. Os dois gostaram muito da ideia e passaram a treinar e competir juntos. Hoje Rhyan tem um triciclo específico para a prática do esporte. Essa dupla cruzou a linha de chegada com alegria estampada no rosto: Rhyan na cadeira de rodas e a mãe o empurrando. A próxima corrida que participarão será a Corrida Internacional São Silvestre, ainda este ano.
Para muitos pequenos, essa é a primeira competição de que participaram. Esse é o caso do Pedro de Farias, de 8 anos, que é portador de Síndrome de Down e cruzou a linha de chegada junto com o pai Rodrigo, enquanto sua mãe assistia a corrida da arquibancada, cheia de orgulho. Tanto ele quanto seus pais estão muito felizes e animados com o novo corredor, que dá seus primeiros passos em sua vida no esporte.
Apesar de a maior parte da manhã ter sido nublada e, durante algumas das baterias, ter caído uma leve chuva, a garotada não se desanimou em nenhum momento, pelo contrário: estavam todos muito felizes de participar da 28ª São Silvestrinha e torcer pelos amigos. Pais, atletas e treinadores saíram da competição com a certeza de que fizeram o melhor possível e já começam a pensar na corrida do ano que vem. Se depender de muitos dos pequenos corredores, com certeza as pistas de corrida da 29ª São Silvestrinha estarão cheias de competidores.