"Tenho alunos da capital paulista até os Estados Unidos": músicos encontram alternativa para crise no ensino remoto - Revista Esquinas

“Tenho alunos da capital paulista até os Estados Unidos”: músicos encontram alternativa para crise no ensino remoto

Por Fabian Noda, aluno do Redação Aberta #2 : outubro 1, 2021

Olegário participando das gravações em seu estúdio.

Em entrevista, família de músicos do ABC paulista comenta o impacto positivo do isolamento no setor

“É tudo uma questão de olhar o lado bom das coisas. É claro que muito se perde, mas a gente se adapta e passa a tirar proveito das novas oportunidades”. Essa é a visão do musicista e professor Olegário Pastor, que opta por manter um olhar mais positivo em relação às adversidades trazidas pela pandemia para os músicos brasileiros.

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Olegário com violão em seu estúdio.

Em uma pesquisa feita pelo ESCUTAS – Grupo de Pesquisa em Sonoridades, Comunicação, Textualidades e Sociabilidade do Departamento de Comunicação da UFMG, mais de 37% dos músicos entrevistados alegaram ter atividades completamente interrompidas pela pandemia. Outros 30% tiveram prejuízos, mas mantiveram as atividades no ramo artístico com adaptações, revelando o impacto da pandemia no setor musical.

Músicos buscam saídas durante pandemia

Assim como outros musicistas, o contrabaixista foi negativamente afetado pela suspensão temporária de bares, casamentos e restaurantes em 2020. No entanto, por possuir um estúdio prévio, foi capaz de adaptá-lo ao ambiente doméstico, e assim manter aulas particulares à distância. “Pelo confinamento da covid e talvez pelo maior tempo gasto em casa, pessoas que antes tinham vontade de aprender, agora, de fato, se tornaram minhas alunas. Inclusive, 90% delas estão acomodadas de tal forma que optaram por não voltar ao estúdio presencial”, adiciona.

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Olegário participando das gravações em seu estúdio.
Acervo Pessoal

“Talvez pela correria do dia a dia, muitos consideravam inviável a prática instrumental”, argumenta o musicista. Por outro lado, hoje, graças ao home office, menos tempo se perde no trânsito e, como resultado, novas oportunidades surgem. “A facilidade de apenas abrir a tela do computador e aprender alguns acordes, fez com que muitos, antes ocupados por jornadas mais carregadas, hoje abraçassem o projeto”, afirma. “Eu mesmo me vejo estudando outros instrumentos entre uma aula e outra. Tive a liberdade e o tempo pra me descobrir em outra modalidade e hoje estou completamente apaixonado pelo violoncelo”, conclui Olegário.

Além disso, segundo o profissional, o não compromisso com um estabelecimento físico para as aulas fez com que o seu leque de clientes se abrisse não somente em relação a números, mas também à diversidade. “Hoje, ensino desde crianças até idosos que, apesar da maior dificuldade, buscam se redescobrir na pandemia. Tenho alunos desde a capital paulista até a costa sul dos Estados Unidos”.

O sucesso das aulas on-line

Em uma realidade em que muitos profissionais tiveram que vender seus instrumentos e se readaptar ao mercado para sobreviver, Joanita e Olegário se mostraram tecnicamente privilegiados. Afinal, de acordo com dados fornecidos pela UBC – União Brasileira de Compositores, apenas 12% dos músicos nacionais conseguiram se manter estáveis durante a pandemia. Em contrapartida, 86% deles sofreram bastante com a situação. “Tenho amigos que construíram uma vida inteira tocando em excelentes eventos, porém com o hiato da pandemia, não se adaptaram e, infelizmente, perderam tudo”. adiciona Olegário.

O sucesso citado, contudo, não foi obra do acaso. “Com as pessoas mais livres por estarem em casa, elas aprendem mais. Os resultados se mostram nítidos e, com isso, recomendações dos próprios alunos surgem. Óbvio que divulgações em redes sociais ajudam, mas são as indicações que realmente salvam”, alega o professor.

Ainda, graças a equipamentos de boa qualidade, como microfones condensadores e interfaces de áudio, Olegário conseguiu se manter no ensino online e resistir aos impactos econômicos trazidos pela pandemia ao setor musical. Todavia, só agora, com a reabertura de eventos sociais, que o músico se viu voltando ao estado de normalidade. Tocar em casamentos, por exemplo, além de ser uma renda extra à família, é uma atividade vivamente prazerosa aos instrumentistas.

Aproximação com a família

Por fim, o músico destaca as mudanças nas relações familiares durante o isolamento social. “Trazer o estúdio pra casa foi uma experiência benéfica, principalmente para o nosso filho, Matheus”, comenta Joanita Lima, esposa e parceira profissional de Olegário. “Antigamente, a gente chegava muito cansado em casa e praticamente não tinha tempo para nada. Agora, a família está muito mais unida e temos muito mais tempo um para o outro”, complementa. Sobre esse mesmo prisma, a cantora ainda enfatiza: “Não só ensaiamos mais juntos, como também cobrimos mais eventos online. Seja uma apresentação da igreja, uma festa junina escolar, eu, Olegário e o Matheus estamos lá”.

* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.

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