Lideranças indígenas e legislativas se reúnem em frente ao MASP com gritos contra o garimpo ilegal, marco temporal e exigem justiça pelo povo Yanomami
No dia 9 de maio, um protesto durante o horário de pico na cidade de São Paulo ocupou duas faixas da Avenida Paulista. Movimentos sociais e representantes de diversos povos indígenas reivindicavam a saída de garimpeiros de terras demarcadas e resultados da investigação do caso da menina yanomami de 12 anos que, segundo denúncia relatada no dia 25 de abril, foi estuprada e morta por garimpeiros ilegais.
Apesar de ter sido divulgado na semana anterior, o protesto não contou com aviso prévio para a polícia por parte dos organizadores. Os manifestantes alegaram que não foi possível fazer o comunicado por conta da urgência das pautas o que acarretou em uma longa discussão entre os líderes e a polícia militar para determinar o percurso do ato. A intenção inicial era de seguir até o Pateo do Collegio, ponto simbólico para o movimento indígena devido ao museu que leva o nome do padre jesuíta José de Anchieta. Porém, pela baixa disponibilidade de agentes da Polícia Militar para garantir a segurança da passeata, foi definido de comum acordo que o ato seguiria somente até a Praça do Ciclista.
“Hoje estamos aqui em memória aos povos indígenas. Já fomos mortos no passado pelos bandeirantes e, hoje, o governo ocupa o papel desses bandeirantes assinando PLs para o genocídio do povo indígena”, grita Sônia Barbosa, liderança indígena Guarani, em discurso ao final do ato. A dispersão ocorreu por volta das 20 horas, com a promessa de marcar uma nova data para uma segunda manifestação, contando com a segurança da polícia e cumprindo o trajeto desejado.
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Mais do que um caso isolado
“Só aqui em São Paulo tem os Tupinambás, Pataxós, Tupi-guaranis. Todos estão revoltados, porque não são só eles [os Yanomami] que estão abandonados”, afirma Yakekan, 36 anos, da tribo tupi-guarani localizada em Mauá-SP.
Utilizando de grupos nas mídias sociais, indígenas de diversas localidades conseguiram se articular para comparecer ao ato de apoio aos yanomamis.“A gente tá conectado, nós povos indígenas estamos conectados desde sempre, são povos que estão constantemente em contato e hoje com a internet a gente tem uma facilidade muito maior”, diz Debora Martins, do grupo Pataxó de Alcobaça, extremo sul da Bahia, que veio para São Paulo pela manifestação.
Yakekan destaca que o caso ocorrido em terras Yanomami não é exclusivo e deve ser colocado em evidência para o restante da população: “Muito mais já morreram e a história não foi contada.”
O protesto contou com personalidades importantes, como o vereador Eduardo Suplicy (PT), a covereadora Carolina Iara (PSOL) e o representante Sérgio Yanomami, além de apoiadores com diferentes faixas etárias e grupos sociais. “Os índios não precisam ser protegidos, eles precisam ter voz, ele é um cidadão e tem direito a terra, a língua, a cultura e ao rito como qualquer outra pessoa, isto é um direito.” disse Solange Lisboa, 70 anos, historiadora presente no ato.