Casais formados por mulheres buscam técnicas de reprodução assistida, para realizarem o desejo de serem mães
A dupla maternidade e paternidade têm ganhado cada vez mais espaço graças ao avanço das técnicas da medicina obstétrica na fertilização. Dessa forma, casais LGBTQ+ que desejam ter seus próprios filhos podem escolher entre diferentes opções de procedimentos, de acordo com seus casos específicos.
No caso de casais formados por mulheres, a inseminação artificial (IA) e a fertilização in vitro (FIV) são os métodos mais populares. Por mais que apagada socialmente, a dupla maternidade encontra um caminho viável na FIV: com a coleta de um óvulo e uma quantidade adequada de sêmen doado, as mulheres podem optar por engravidar e começar uma nova família.
A fertilização in vitro é uma técnica de reprodução assistida em que os óvulos da mulher são coletados e fertilizados dentro de um laboratório. Após essa etapa, o embrião gerado é transferido para o útero da gestante, dando início à gravidez.
Para alguns casais, o processo é bem tranquilo, como no caso da jornalista Daniela Arrais e da fisioterapeuta Laura Della Negra. “Laura engravidou e teve uma gestação muito saudável”, conta Daniela. Para elas, o difícil foi se organizarem com o tempo e em relação às licenças maternidades, já que Daniela tem a própria empresa e Laura é autônoma.
As duas compartilhavam o desejo de ter filhos e a FIV fazia mais sentido para elas devido às chances de sucesso serem mais altas — 45%, variando em cada caso. Elas já tinham amizade com outros casais que haviam realizado o procedimento, então foram encaminhadas para um médico de confiança.
Ver essa foto no Instagram
Além disso, conhecer a trajetória de outros casais foi uma forma de se sentirem amparadas. “Por mais que exista o Google, nesse momento a gente quer sentir acolhimento, pertencimento. Então, muitas vezes conversar com alguém faz mais sentido que ter um monte de informações escritas”, relata a jornalista.
Conversas sobre fertilização
Luana e Fernanda Marques também têm o desejo de aumentar a família por meio da fertilização, mas, na hora de buscar dados sobre a FIV, sentiram muita dificuldade. “O Google mostra a fertilização direcionada à infertilidade do casal hétero, e não à dupla maternidade ou paternidade”, conta Luana. Encontrar informações em relação a casais LGBTQ+ foi um desafio para elas, pois as estatísticas eram baseadas em mulheres inférteis ou que já passaram da idade adequada para a gravidez, e nunca em mulheres saudáveis.
As informações em relação a qual plano de saúde aderir também eram escassas. No início, o plano delas não cobria todos os exames importantes, como os genéticos que são essenciais. Elas tiveram que ir atrás de um novo que cobrisse os exames e de uma clínica que individualizasse cada caso e fornecesse maiores esclarecimentos.
Uma forma que encontraram de se informar foi por meio dos poucos perfis nas redes sociais de outras mulheres na mesma situação, que acabaram virando suas amigas. Inspiradas, decidiram começar a documentar também cada etapa do processo em seu Instagram conjunto, o @cantinho14.
Antes, a conta era dedicada à casa delas, como um diário visual do imóvel que haviam comprado juntas. O público era majoritariamente formado por senhoras e donas de casa, sendo uma forma de normalizar a vivência lésbica para quem está de fora. Agora, após passarem a registrar a trajetória da fertilização, o público atraiu mais casais interessados na FIV e da comunidade LGBTQ+, mas parte do antigo público ainda é percebido por elas.
Segundo Luana, a vontade de compartilhar a história delas no Instagram existe por não terem tido isso quando estavam iniciando a busca por informações. “A conscientização é um dos nossos maiores objetivos”, acrescenta. Dessa forma, foram criando uma rede de apoio, não só com casais homoafetivos, mas também com casais heterossexuais que pretendem realizar a FIV.
Veja mais em ESQUINAS
Mães solo relatam as dificuldades de criar os filhos e fazer as tarefas diárias
Especialista explica como o ataque ao aborto legal escancara o machismo da sociedade brasileira
O sonho da fertilização
Entre a quarta e a sexta semana da gestação de Fernanda, ela teve um sangramento significativo. Preocupadas, buscaram ajuda e descobriram que ela havia sofrido um aborto espontâneo. O sentimento de dor de perder uma gestação tão desejada é frustrante, principalmente quando há tanto planejamento envolvido. “Se for para resumir em uma palavra: avassalador”, descreve Luana.
Ver essa foto no Instagram
Apesar da dor e do luto não serem anulados, elas acreditam que aquele não era o momento. Uma segunda tentativa, porém, está nos planos do casal.
Para viabilizar a próxima FIV, elas foram atrás de exames para descobrir o motivo da perda e, depois de uma longa busca, foi constatado que Fernanda tem adenomiose, uma condição caracterizada pelo crescimento do tecido endometrial dentro do músculo do útero. Entre as consequências dessa doença, estão a gravidez ectópica — quando o embrião adere e começa a se desenvolver fora da cavidade uterina — e o aborto. No entanto, existem tratamentos que podem proporcionar a gravidez de mulheres nessa condição.
O planejamento financeiro e a verificação da saúde reprodutiva através de exames ginecológicos é essencial para quem tem o desejo de engravidar a partir da fertilização in vitro, conta Daniela Arrais. Apoio psicológico através de terapia e grupos com outras pessoas que também tentam o método são importantes para dar suporte à família, que, mesmo que em escalas diferentes, terá que lidar com altos e baixos.
Luana e Fernanda também indicam que, apesar de o processo ser caro, a ovodoação — doação de óvulos para outras mulheres — ajuda a baratear a fertilização e torna-se uma alternativa para quem deseja aumentar a família a partir dela.