"A roupa pode virar uma insegurança": como a moda pode reforçar padrões nas universidades - Revista Esquinas

“A roupa pode virar uma insegurança”: como a moda pode reforçar padrões nas universidades

Por Mariana do Patrocínio e Sarah Campos : julho 15, 2022

Estudantes e especialistas analisam a moda como ferramenta para reforçar estereótipos dentro das instituições de ensino superior

Ao ingressar em uma universidade, uma nova rotina passa a integrar a vida do estudante, com novas matérias, um espaço de estudo diferente, desenvolvimento de interações e a presença de uma decisão diária a ser tomada: a escolha do look. Devido a ausência de uniforme nas faculdades, o universitário assume uma autonomia, que se revela como ponto de partida para uma dualidade de caminhos quando o assunto é moda: vestir-se de modo a objetivar o destaque em meio ao coletivo ou visar adequar-se às tendências como forma de se encaixar no novo ambiente.

Passarelas, modelos, looks, combinações, cores, monocromáticos e até a frase motivadora : “coloca um cropped e reage” – todos termos que rodeiam o mundo fashion.  Em meados do século XV, durante o renascimento europeu, surgiu a moda, termo proveniente do latim modus.

A moda surgiu como uma forma de nos diferenciarmos quanto às vestimentas. Durante a  história humana os estereótipos andaram linearmente com a moda, dado que os grupos sociais foram diferenciados inúmeras vezes de acordo com suas roupas, subdivididos em classes econômicas, coletivos religiosos, profissões, cursos universitários e faculdades. Esta última separação em específico chama a atenção do público, visto que muitos estudantes permanecem sendo estereotipados por meio das roupas usadas pelos personagens componentes desses grupos.

Independente do caminho que escolhemos, é possível analisar através do convívio no ambiente universitário, das conversas entre os estudantes e dos comentários nas redes sociais que, os cursos disponibilizados juntamente com as faculdades estão sendo estereotipados pelo modo de vestir. Em entrevista para ESQUINAS, Alicia Gouveia, 22, repórter do portal Glamurama e ex-aluna de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, explica: “Eu realmente acredito na moda como uma super ferramenta de comunicação. Pode ter seus lados negativos, a roupa pode sim te encaixar num grupo, num quadradinho e virar uma super insegurança, mas ao mesmo tempo é um mecanismo maravilhoso para você comunicar ao mundo quem você é, o que você quer, o que você está fazendo ali”.

Júlia Arruda,18, estudante do primeiro ano de Jornalismo, comenta que “faculdades que são mais elitistas, você imagina roupas um pouco mais de patricinha e mauricinho. Isso já está em nossa cabeça, falando até em personalidade, podem ter pessoas incríveis que seguem esse estilo mas acabam caindo nesse estereótipo”. A jovem, ao elucidar a margem negativa da estereotipização, entra em senso comum com o ponto de vista de Gouveia, que afirma: “Maléfico no sentido de você olhar para uma pessoa e já rotular ela de um jeito. Mas, ela está se vestindo para fazer parte da tribo dela”.

A moda e o estereótipo

A problemática em questão é que, a imagem da criação de um estilo padronizado, seja para uma universidade ou curso específico, não implica exclusivamente na visão do todo, mas também na geração de impactos no emocional dos frequentadores do espaço educacional. “Exerce uma pressão forte. Por exemplo, a pessoa não vai usar a mesma roupa que ela usa no dia a dia dentro da faculdade, porque você precisa se encaixar em determinado nicho. Você pode sim, ter sua preferência por certa cor ou característica, mas você está sim dentro de algum aspecto estabelecido por algum grupo, porque você precisa de um apoio social dentro daquele lugar”, comenta o também integrante da turma de Jornalismo da Cásper Líbero, Guilherme Simão, 21.

A existência desse clichê no visual corrobora com dilemas na decisão do que vestir, uma vez que um dos pilares na escolha diária das roupas é acerca do que os outros que ali frequentam irão pensar dela e como isso afetará a imagem do indivíduo em questão.

“Eu acho bom você ter uma certa capacidade de discernir os grupos, porque você vai saber com quem você vai ter uma certa filiação e isso é uma consequência positiva. Só que ao mesmo tempo essa mesma característica pode ser negativa e pode fazer até com que a interação social seja prejudicada”, discorre Guilherme sobre a separação provocada pela moda.

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Assim, o pressuposto de que a estereotipização possui impacto de modo dualístico, se mostra cada vez mais forte. Fazer parte de um coletivo que condiga com seus interesses, é fundamental, e para tal, um esforço para assimilar completamente a identidade visual é requerido. Todavia, deixar de abrir mão do conforto e de sua autonomia, não são uma opção viável para muitos. Marcelo Nascimento, 17, explica: “Eu viso meu bem estar, como eu me sinto confortável para ir para a faculdade”.

Alicia Gouveia, nesse espectro da autenticidade no processo de autodescobrimento, acrescenta: “A faculdade é um ótimo espaço para explorar tudo e todos, se conhecer, porque eu acho que a gente só vai entender o nosso estilo quando a gente se conhecer, afinal o estilo é um reflexo de quem somos e como estamos naquele momento” .

“No final do dia a gente vai ser estereotipado e rotulado de qualquer maneira, então que pelo menos no final do dia sejamos estereotipados da maneira que queremos”,

– Alicia Gouveia.

Uniformes na faculdade?

A repórter pontua :“Por ser um momento de tantas descobertas pessoais, colocar um uniforme ali e não deixar a pessoa descobrir quem ela é na moda também, seria um desperdício que eu não sei nem quantificar”.

A estudante Júlia Arruda também compartilha da ideia: “O que eu mais gosto da faculdade é que eu não tenho medo de ir cada dia com um estilo diferente”.

Editado por Nathalia Jesus

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