Primeiro circuito feminino oficial de League of Legends, Ignis Cup é sequência de projetos focados em revelar talentos de mulheres e pessoas não-binárias na comunidade
A primeira chama se acendeu. A Ignis Cup é o primeiro torneio feminino e oficial de League of Legends no Brasil, sendo patrocinado e promovido pela própria criadora do jogo, a Riot Games. O projeto busca dar visibilidade ao cenário feminino como um todo, acolhendo mulheres cis, trans, travestis e pessoas não-binárias.
Além das players, há espaço também para apresentadoras e narradoras. O intuito é revelar novos nomes femininos do cenário e fortalecer a identidade das mulheres na comunidade. Já em sua fase final, o campeonato ocorreu após duas classificatórias da Goddess Cup, em parceria com a Gamers Club.
Agora, sendo transmitido pelos canais oficiais do Campeonato Brasileiro de League of Legends, restam quatro equipes que lutam pela maior fatia dos R$80 mil da premiação total – tanto times em ascensão, como Rise Gaming e Freedom Fighters Project (Raizen), quanto times já franqueados no CBLOL regular, como PaiN Gaming e Netshoes Miners.
A grande final será sediada presencialmente nos estúdios da Riot em São Paulo, sendo aberto aos torcedores. A iniciativa surge com o intuito de fazer do ambiente de League of Legends mais inclusivo para tantas meninas que sonham em trabalhar com a comunidade. ESQUINAS buscou referências do cenário para entender a importância do campeonato e tantos outros projetos que focam em ajudar meninas e mulheres a crescerem no game.
Game que empodera
Maria Julia “Fogueta” Junqueira, a primeira narradora feminina do CBLOL, iniciou sua carreira por meio de projetos que destacavam narradoras femininas no jogo. Por meio do Ravenão, criado pela comentarista Ravena Dutra, ela foi revelada para a Riot Games.
A caster foi uma das maiores incentivadoras da Ignis Cup, estando presente constantemente nas transmissões junto de Layze “Lahgolas” Brandão e Tábata “Tabs” Alcântara e suas convidadas.
Em entrevista, ela fala sobre o motivo da criação do Revelah Casters, projeto que dá visibilidade a meninas na narração do Summoner’s Rift junto com Lahgolas, sua parceira de longa data. O programa se iniciou como uma oportunidade de treino oferecida pelas casters em lives junto de mentorias proporcionadas pelas profissionais.
“A gente foi entendendo a importância de ser um espaço seguro onde a gente poderia conversar com essas meninas, a gente poderia conhecer outras meninas para indicar pra trabalho. E aí a gente foi vendo que isso tinha potencial. A proposta inicial foi só ceder oportunidades nossas pra elas e no final acabou virando um projeto gigante”, relata Maria Julia.
Fogueta, sendo pioneira no cenário de League of Legends brasileiro, transformou uma área que era majoritariamente masculina – e não foi fácil. Segundo ela, foi preciso provar seu valor em dobro, tendo que lidar com comentários maldosos e agressivos.
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“Quando você é a primeira a fazer as coisas, você tem uma responsabilidade muito grande porque você está carregando sonhos de outras mulheres nas suas costas. Todo o hate que eu tomei e a dificuldade tive em provar para as pessoas que meu trabalho era bom e que ele merecia ser valorizado foi uma experiência ruim, mas era uma coisa que eu sabia que eu ia passar e que eu sabia que eu ia tirar de letra”, conta a caster.
Ela afirmar que, para fazer carreira nos e-sports sendo mulher, é preciso muita determinação e cabeça no lugar, principalmente pela exposição de imagem que é necessária para entrar nesse mundo. Ela deseja, acima de tudo, um futuro melhor para as meninas no game.
‘Não quero que elas passem pelo que eu passei’, conta Fogueta.
“Jamais eu iria reclamar de ter sido a primeira, mas é uma coisa que te trás muitas preocupações. Porque eu não quero que as meninas que estão no Revelah agora ou que estão chegando aqui agora passem por metade das coisas que a gente passou, e ainda passa. É uma parada muito difícil, porque você quer mudar o mundo o tempo todo pra que elas tenham um caminho muito mais fácil, sabe?”, diz a narradora.
Sobre ter conquistado um espaço para as mulheres – principalmente com o projeto da Ignis Cup sendo patrocinado e divulgado pelos canais oficiais do CBLOL -, ela diz que ainda há muito caminho a ser trilhado. Apesar de ser mais aceitável que mulheres ocupem posições de destaque, Fogueta ressalta que ainda é só o início, e elas fortalecem esse tipo de projeto para que as meninas não tenham que passar pelo que as casters e players atuais passaram.
“Não vai ser tão estranho e dolorido como foi quando foi a minha vez. A gente teve que ‘tankar’ muita coisa, muita ofensa e teve que se provar demais. O que a gente sempre quis, a gente conseguiu: facilitar um pouco o caminho para as próximas que vão vir”, relata Fogueta. “Mas, ainda assim falta muita coisa para a gente conquistar. Só que não depende mais só da gente, depende dessas outras pessoas que também vão entrar junto com a gente”, completa.
A importância da profissionalização
Jogar em campeonatos amadores não prepara as jogadoras para certas experiências profissionais, e a consolidação de regras e contratos para tais campeonatos é extremamente importante para a formação delas. Bárbara “jime” Prado, atiradora do Academy da equipe RED Canids – atualmente, uma das duas mulheres no cenário do CBLOL regular -, fala sobre tal aspecto no jogo.
“Envolver a Riot torna o cenário muito mais profissional e auxilia muitas meninas que estão entrando no cenário. Elas não tem experiência alguma com contrato de times, com como lidar com o time, como lidar com o jogo competitivamente”, declara jime. Ela explica que, quando entrou, não sabia o que era aceitável ou não na questão contratual.
“Quando eu jogava, os contratos eram com contratos de campeonato em que você recebia metade de um salário mínimo pra jogar. Hoje é uma parada muito mais profissional: além de envolver carteira de trabalho, você recebe um salário mínimo, pelo menos, e assina um contrato mais longo pra jogar. Além da parte profissional, que é envolvimento com os coachs – você tem uma troca de experiência, que agrega muito mais pro cenário”.
A Ignis Cup, para jime, também é só o começo. Ela diz que, por ser o primeiro campeonato, o engajamento não será como o de fases regulares, principalmente por não ter participação de muitos times franqueados e conhecidos pelo público.
“Esse é o primeiro passo de algo muito grande que está por vir mais pra frente. que vai se tornar provavelmente uma liga feminina, que é o que todo mundo espera, assim como é no VALORANT [Game Changers], por exemplo”, afirma Bárbara. “Quando for anunciada uma liga, com um calendário do ano todo, vai incentivar muito mais organizações do CBLOL a entrar nesse cenário e trazer as meninas pra conviverem juntas, que eu acho que é o passo mais importante”, completa.
Oportunidades e parceria
Ao falar sobre franquias, é importante dizer que nem todas os grandes times do CBLOL optaram por investir nos grupos femininos. A paiN Gaming e a Netshoes Miners chamaram atenção pela atitude, e estão atualmente disputando a vaga para a final da Ignis.
Conversamos com Cuteness, a mid laner dos Tradicionais. A player falou sobre a oportunidade e o apoio que receberam da maior organização de e-sports da América Latina.
“Não é qualquer time que está dando isso – é um suporte muito bom que eu acho que devia ter tido há muito tempo. É muito incrível e necessário ter isso agora. A Ignis vai dar mais visibilidade e vai abrir portas pra outras meninas também mostrarem que conseguem. Eu acho que foi algo que sempre foi uma questão de não dar essa oportunidade, não ter esse investimento. Com ele, eu acho que a gente vai conseguir alcançar o que a gente nunca conseguiu antes.”
A Ignis Cup está em sua reta final, e você pode assistir suas partidas através dos canais da Twitch ou do Youtube do CBLOL. As semifinais ocorrerão entre esta quinta-feira (3) com início às 17h e sexta-feira (4), às 20h, dali, os times finalistas serão escolhidos e jogarão a final presencial no dia 12 de novembro – e é só o começo.