Antiquário Bar & Café: um refúgio no Centro de São Paulo - Revista Esquinas

Antiquário Bar & Café: um refúgio no Centro de São Paulo

Por Adriana Peraita, Mariana Letizio e Mariana do Patrocínio   : dezembro 7, 2022

O espaço do café foi pensado para ser um local aconchegante e afetuoso.

Antiquário, que também é café e bar, faz sucesso na Vila Mariana com ambiente acolhedor e diverso para quem gosta de uma pausa para uma boa conversa no meio da tarde

Localizado na Rua Guimarães Passos, 17, Vila Mariana, o Antiquário Bar & Café rejeita todo e qualquer estereótipo vinculado aos antiquários já existentes. Limpo, bem iluminado, com peças catalogadas e organizadas, o estabelecimento funciona como antiquário desde março de 2019. Há alguns meses, começou a servir, bebidas e alimentos, tornando-se, em pouco tempo, um dos locais de convívio preferidos na região.

Idealizado pela cearense Ana Paula Tavares, o empreendimento não se diferencia apenas enquanto antiquário. Em entrevista para ESQUINAS, a proprietária diz que, além da curadoria e disposição cautelosa de objetos, a preocupação com a diversidade, o bem-estar e o acolhimento dos clientes norteia a direção do projeto.

Antiquário que virou café

O casarão dos anos 50 foi escolhido a dedo pela proprietária Ana Paula para dar vida a um de seus maiores sonhos: um antiquário. Nascida em Fortaleza, Ana veio para São Paulo e realizou sua graduação em Design de Interiores devido a sua paixão pela arte; paixão esta que se materializou com a inauguração do estabelecimento.

A ideia era, desde o início, torná-lo um lugar que fosse diferente das demais lojas de objetos antigos em São Paulo. “Eu queria oferecer algo a mais, um antiquário com valor agregado, objetos limpos, diversificados. Um local que eu pudesse dar atenção aos clientes, sentar e contar a história dos objetos, oferecer um café, um bolo. Algo de afeto, olhar no olho do cliente mesmo”, diz.

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Um dos espaços internos do café.
Mariana do Patrocínio

Ana ainda conta que o processo de transição do antiquário para o Antiquário Bar & Café foi orgânico. O café que antes era oferecido como cortesia aos clientes, começou a formar o menu do local. “Começou com a vontade das pessoas em querer passar a tarde aqui, tomando um café da tarde, conversando comigo. Diziam que tinham vontade de ficar aqui, mas pagar pelo bolo e café também.”

O menu do local foi construído em parceria com os próprios clientes. Gradativamente, chás, sucos, vinhos, frios e pratos foram sendo incrementados ao cardápio de acordo com a demanda e pedidos dos visitantes.

Hoje, o estabelecimento oferece um vasto menu com opções saudáveis, veganas, pratos tradicionais, drinks, cervejas, cafés e diversos tipos de sobremesas. O visitante pode ainda escolher fazer a refeição na parte interna, em que se encontram as peças expostas, ou no jardim da antiga residência.

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A decoração do local abriga também objetos com valor afetivo para a história do café.
Mariana do Patrocínio

As opções não se restringem apenas ao ambiente e a alimentação, mas se estendem às peças do local. Inicialmente, através de peças consignadas dos próprios vizinhos da região, como um antigo jogo de cozinha, a empresária foi adquirindo mais artigos para a loja. Os visitantes encontram desde xícaras a máquinas de costura à venda, e os valores variam de R$20 a R$10.000, segundo a proprietária: “Eu sou uma pessoa muito realizada. Você ver pronto algo que idealizou, viver um sonho é muito gratificante”.

A diversidade é uma questão importante para o Antiquário Bar & Café. A empresa dá prioridade para a contratação de membros da comunidade LGBTQIA +. O quadro de funcionários conta com uma mulher trans, lésbicas, gays, não-binários,  bissexuais e héteros.

Lugar de afeto e acolhimento

Apesar dos vários objetos e, principalmente, das obras de arte expostas no local, a vista não cansa os olhos. Isso se dá graças ao cuidado na disposição dessas peças. A preservação dos cômodos no formato da antiga habitação e a atenção aos pequenos detalhes, como, por exemplo, a  playlist de MPB que toca nas caixinhas de som, confere um ar caseiro e aconchegante.

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O espaço do café foi pensado para ser um local aconchegante e afetuoso.
Mariana do Patrocínio

Além disso, os itens à venda por serem, em sua maioria, bastante antigos, conservam a lembrança de um tempo anterior e também dos ex-proprietários. Segundo Ana Paula, o contato com essas peças faz com que, muitas vezes, os frequentadores do lugar se reconectem com as suas próprias memórias do passado e se desconectem um pouco da correria do dia a dia.

“Temos muitos objetos de valor sentimental. Essa máquina de costura, por exemplo, foi a primeira coisa que chegou aqui. Ela tem um valor muito grande para cá, para mim e para todas as pessoas que frequentam, porque todo mundo que bate o olho se lembra imediatamente da avó ou da mãe que costurava”, comenta.

Ainda, de acordo com a dona, o público do espaço é bastante diverso, mas, majoritariamente composto por moradores do bairro. São pessoas que geralmente vão ao local mais de uma vez: “ Os clientes daqui são muito queridos. Tem várias pessoas que vieram aqui para comprar alguma peça e que viraram amigos pessoais de um ir na casa do outro, no cinema. Essa troca é muito boa.”

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Dificuldades para administração e recomeço no pós pandemia

A inauguração um ano antes da pandemia fez com que o espaço enfrentasse dois lockdowns. Apesar das dificuldades de manter um empreendimento aberto nessas condições, Ana Paula teve persistência e planejamento suficientes para concretizar esse objetivo. “Tem que ter atitudes inteligentes. Pensar com cabeça de empresário, se programar bem, fazer lista de prioridades. Isso é muito bom, principalmente na parte financeira”, menciona a moça acerca dos principais pilares para que o negócio sobrevivesse.

A pandemia não foi a única adversidade enfrentada por Tavares – ser mulher e empreendedora no Brasil também foram desafios em sua carreira. Ela conta que mais do que a transfobia, o machismo foi uma questão presente em sua trajetória profissional, e exemplifica contando um caso que traduz a situação “Um fornecedor vinha aqui e procurava pelo ‘dono’ do espaço. Não acreditava que eu poderia ser a dona, pensavam que eu só podia ser gerente”. “Eu já tive um sócio, e o chamavam de doutor. Para ele, os fornecedores estendiam o prazo de pagamento em até um mês depois. Quando o sócio saiu, eu tinha que pagar à vista, e não tem outra explicação para isso a não ser machismo”.

“Há cinco anos atrás era só uma ideia na minha cabeça, e hoje em dia deu certo. Representa a  materialização do meu sonho realizado. Me mostra que o que eu quiser, eu posso. Eu fui muito perseverante e honesta com o que eu queria.”

Ana Paula Tavares

A ligação entre a dona e o espaço ultrapassa estratégias profissionais – o visual do local reflete a história e personalidade de Ana Paula. “Eu faço um paralelo com o espaço pois tem peças clássicas, mas também tem peças de artistas novos, que estão fazendo experimentos”, explica ela ao relacionar a ambientação com seu estilo de vestir casual clássico.

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Ana Paula Tavares, idealizadora do café.
Leandro Ramos

Seu empreendimento traduz sua identidade, mas há muito mais a saber sobre Ana. Sua chegada a cidade de São Paulo aconteceu aos 21 anos. Ela veio à capital paulistana com o objetivo de realizar um curso específico de massoterapia e faculdade de naturologia. Os objetivos mudaram completamente com uma reforma executada por Tavares – “Decidi fazer uma reforma na casa da minha mãe e eu me dei muito bem, recebi vários elogios, e pensei em fazer design de interiores”.

“Eu estudava muito, eu gostava, mas o que me pegava mais era a arte”, acrescenta a empreendedora. Foi esse apreço pelo universo artístico que representou uma realização na vida de Ana Paula – no primeiro semestre da faculdade de design de interiores, ela recebeu uma proposta de trabalhar com restauração de obras de arte. A jovem que começou nas artes cênicas e foi para as plásticas, realizava um sonho ingressando de vez na área com trabalhos de restauração, catalogação e perícia de obras. Vale citar que a conquista da vaga se sucedeu a partir de seu álbum de trabalhos do Facebook, que cativou o dono da empresa e levou à contratação.

Outro motivo que trouxe a cearense à São Paulo foi a cirurgia de transição de gênero. A região recebia a fama de melhor tratamento e possibilidades, o que motivou a mudança de Ana. “Quando falavam para eu fazer foto quando era criança, eu fazia pose de menina, colocava a mão no queixo, cruzava a perna, colocava flores no cabelo. Então esse processo foi muito natural para minha família”, conta a jovem, que recebeu apoio de sua mãe, família e amigos quando decidiu concretizar o processo.

Editado por Nathalia Jesus

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