De símbolos nacionais a itens de colecionador, camisas de seleção entram na moda dos jovens - Revista Esquinas

De símbolos nacionais a itens de colecionador, camisas de seleção entram na moda dos jovens

Por André Albuquerque, Arthur Ferreira, Gabriela Salomoni, Lara Sanchez e Rafaella Iazzetta. : dezembro 14, 2022

Foto: Nelson Ndongala via Unsplash

Simbologia e estética das camisas de seleção podem carregar valor sentimental e aproximam país e torcedor

Sejam de times locais ou da seleção nacional, as populares camisas de futebol carregam memórias e signos. Passando por grandes vitórias e momentos históricos, os uniformes são um dos símbolos mais representativos de um país durante a Copa do Mundo, e também fora dela. Quando comentaristas falam do “peso” que cada um carrega, se faz uma alusão à sua história e simbologia.

“Eu comecei a me interessar por camisas na Copa de 2010”, diz Matias Patrone, estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero que, além de torcer, também se define como aficcionado pelos uniformes dos jogadores. “Eu entrava nos jogos de futebol do Playstation 2, e, como alguns times não tinham a camisa oficial licenciada no jogo, eu as criava em todos os times. Perdia mais tempo fazendo isso do que jogando”, relembra.

Mas, para além do esporte, você sabe o significado das cores e dos emblemas de cada camisa? ESQUINAS selecionou algumas curiosidades sobre os modelos mais interessantes, assim como as histórias por trás delas e depoimentos de fãs e colecionadores.

Seleção Celeste

Uma das camisas favoritas de Matias é a uruguaia, tanto pela estética quanto por seu valor sentimental. Parte de sua família é do Uruguai e alguns vieram para o Brasil, como sua mãe. Ele conta também a história das estrelas do uniforme:

“A seleção uruguaia tem quatro estrelas estampadas em cima do emblema. Cada estrela representaria uma vitória na Copa do Mundo, mas o Uruguai não ganhou quatro vezes. O país venceu duas Copas e duas Olimpíadas. Porém, na época dessas duas Olimpíadas, ainda não existia Copa do Mundo, então, esse era considerado o campeonato de seleções mais importante.”

Os campeonatos estampados são os Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. O país também carrega em sua camisa as vitórias da primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, e a de 20 anos mais tarde, em 1950. Em 2021, a FIFA tentou remover essas duas estrelas presentes na camisa da seleção, mas, por questão de preservação histórica, as quatro estrelas foram mantidas para a Copa deste ano.

 

Uniformes do Uruguai para a Copa do Mundo de 2022
Foto: Divulgação

O tom da camisa uruguaia também tem origem importante, porque, apesar de carregar azul entre as cores da bandeira, nem sempre o celeste foi usado pelo time em campo. Depois de uma partida histórica em 1910, o amador River Plate do Uruguai venceu o Alumni da Argentina.

Então, a seleção adotou as cores usadas pelo time, como uma memória de quando derrotaram o futebol argentino, um dos mais fortes da época. Os jogadores do River Plate entraram em campo usando as cores branco e azul celeste, sua segunda opção de uniforme, mas que renderia, décadas mais tarde, o apelido de “Celeste” à seleção.

Os Samurais Azuis

Até países que não têm tradição no futebol fazem questão de carregar elementos culturais em suas camisas. A primeira camisa do Japão, por exemplo, era azul. A cor, no entanto, não está presente na bandeira do país, o que a diferencia da maioria das seleções, que tem como base de seu uniforme a bandeira nacional.

Em 1930, o Japão jogou um dos seus primeiros campeonatos oficiais de futebol como seleção. Por não ter jogadores o suficiente, o clube de futebol da Universidade Imperial de Tóquio foi selecionado como a base da seleção japonesa — e o uniforme da universidade era azul. O martelo foi batido seis anos depois, quando o Japão ganhou por 3 a 2 da Suécia nos Jogos Olímpicos de Verão vestindo a camisa azul. A partir desse momento, foi definida a cor da camisa principal, que deu origem ao apelido “Samurais Azuis”, dado à seleção japonesa.

Outro símbolo da camisa é o corvo de três patas presente no emblema. O animal em questão é uma criatura mitológica conhecida como Yatagarasu. Na cultura japonesa, ele representa a intervenção divina na vida humana, um enviado dos céus para trazer mensagens à humanidade. E, por sua importância cultural, está presente no emblema do Japão.

Uniformes do Japão para a Copa do Mundo de 2022
Foto: Divulgação

A Laranja Mecânica

Conhecida pelo laranja vibrante, a Holanda é mais um dos países que não utiliza as cores da bandeira em campo. A cor é uma referência à bandeira de William I, da casa Orange-Nassau, figura central na Guerra dos Oitenta Anos e que liderou a luta holandesa pela independência da Espanha, sendo considerado o fundador dos Países Baixos como nação.

Uniformes da Holanda para a Copa do Mundo de 2022
Foto: Divulgação

Por isso, mesmo não estando presente na bandeira, o laranja é uma das cores que representam a nacionalidade holandesa. Por causa da cor, e de seu desempenho fenomenal durante a Copa de 1974, a seleção ganhou o apelido de “Laranja Mecânica”. Treinados pelo holandês Rinus Michels, a seleção inovou no modo de jogar, surpreendendo a todos e terminando o campeonato daquele ano como vice-campeã.

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Seleção Canarinho

O colecionador Luis Enrique da Silva, de 20 anos, diz ter ganhado a primeira camisa antes mesmo de seu nascimento. “Quando eu nasci, por ser ano de Copa do Mundo (2002), eu já tinha uma camisa do Brasil, do Ronaldo”, afirma.

Desde então, o estudante segue colecionando os novos modelos a cada Copa, como uma forma de tradição: “Eu tento sempre comprar a camisa que o Brasil vai usar na Copa. Tenho as de 2006, 2010, 2014, 2018 e agora a de 2022”.

O tão amado uniforme amarelo da seleção se tornou um clássico para várias gerações.

Uniformes do Brasil para a Copa do Mundo de 2022
Foto: Divulgação

O modelo que conhecemos hoje surgiu em 1953, quando o jornal carioca Correio da Manhã promoveu, em parceria com a então gestora do futebol brasileiro, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), um concurso para escolher um novo uniforme. A ideia de criar uma nova camisa surgiu pois a branca utilizada durante as partidas não carregava nenhum valor ou identidade brasileira.

Na época, após a derrota na Copa de 1950, o concurso veio com a ideia de renovar os ânimos da nação, e teve resultados: aproximadamente 300 pessoas se inscreveram para criar o novo modelo. O vencedor foi Aldyr Garcia Schlee, de Pelotas (RS), que trabalhava como desenhista no jornal local. Ao colorir o desenho, utilizou  as cores que tinha à mão, pintando a camisa em amarelo-ouro e o shorts em azul-cobalto.

As cores não eram exatamente as da bandeira nacional, mas se tornaram um clássico, rendendo à seleção o apelido de “Canarinho” e sendo utilizadas até hoje no uniforme.

Significados por trás dos modelos de 2022

Nas camisas de 2022, algumas seleções focaram na inovação ao trazer para os uniformes elementos importantes para sua cultura e história. A camisa do Equador e do México, por exemplo, trazem grafismos referentes aos povos originários da América Latina.

A estampa da Tunísia traz a ilustração de uma couraça encontrada no país em 1909. A armadura foi descoberta por arqueólogos que definiram sua origem nas Guerras Púnicas, o que a ligaria com o grande general Aníbal, de Cartago, império que ocupou a região que hoje chamamos de Tunísia.

Uniformes da Tunísia para a Copa do Mundo de 2022
Foto: Divulgação

Já a coleção do Brasil apostou em um tipo de estampa muito popular entre os brasileiros, o animal print, no qual a pele de animais serve de inspiração para roupas, acessórios e até decoração. De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), as camisas do Brasil foram inspiradas na garra e beleza da onça, com o intuito de unir e representar o povo brasileiro.

Ao entrevistarmos Luis Enrique, ele destacou que, dentre as camisas lançadas esse ano, a brasileira foi “a que mais me chamou atenção e que achei mais bonita, a primeira e a segunda. Gostei bastante desses detalhes da onça”.

Matias também se interessou mais pelas camisas do Brasil, principalmente a azul. Ele diz ter gostado das pintas da onça e achado “um diferencial enorme”.

Do campo para os armários

Muitos brasileiros já usaram e ainda vão usar a camisa do Brasil, seja por vontade própria, para expressar sua torcida pela seleção ou por uma questão cultural. Afinal, uma Copa do Mundo transcende para além do esporte, é acima de tudo uma movimentação cultural. Da mesma forma que o tradicional álbum da Copa evoca um espírito de colecionador, as camisas geram o mesmo efeito.

Ressaltando seu amor pelas camisas, Matias afirma que costuma entrar nos sites de moda esportiva para acompanhar os lançamentos de novos modelos:

“Eu vejo os melhores momentos de um jogo para ver como ela fica em campo, as fotos e vídeos de lançamento, além de outros itens, como o moletom e a camisa de treino. Eu vejo tudo, porque eu gosto muito dessa parte.”

Apesar da empolgação que o consumo desses itens podem gerar, as camisas oficiais têm preços elevados e mesmo as réplicas mais fiéis são inacessíveis para a maior parte da população. Por conta da apropriação da camisa do Brasil por movimentos políticos, também existe a resistência de uma parcela da sociedade em usar esse símbolo.

Pelo mesmo motivo, a Nike, que fabrica e comercializa os uniformes brasileiros, tentou desassociar a camisa da seleção desses movimentos, através da contratação de artistas nas peças de marketing da coleção.

Editado por Anna Casiraghi

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