Com a chegada da 55° edição da maior semana de moda da América Latina, a São Paulo Fashion Week, relembre a trajetória do evento
Durante os dias 25, 26, 27 e 28 de maio, acontece uma nova edição da mais importante semana de moda da América Latina , a São Paulo Fashion Week. O evento, que ocupará os espaços do Shopping Iguatemi, Senac Faustolo e Komplexo Tempo, conta com mais de vinte marcas diferentes apresentando suas coleções exclusivas.
O tema “Origens” marca a semana, que contará também com peças de nomes já tradicionais, como Walério Araújo, TA Studios, Meninos Rei, Apartamento 03 e Lino Villaventura.
História
Em 1993, o produtor Paulo Borges e a empresária Cristiana Arcangeli criaram o Phytoervas Fashion, um evento que acontecia no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, e, inicialmente, contava com nove desfiles. A iniciativa foi o princípio para que a moda brasileira começasse a conquistar sua relevância dentro de cenários nacionais e internacionais. Nomes como Alexandre Herchcovitch, Glória Coelho e Fause Haten já apresentavam suas coleções nas passarelas daquele período.
A parceria de Paulo e Cristiana encerrou em 1996, mas, ambos continuaram deixando sua marca no universo da moda. Arcangeli criou a competição Phytoervas Fashion Award, que premiava estilistas, jornalistas, modelos e publicitários, além de outras ocupações da área. Borges, a partir de sua própria empresa, o Grupo Luminosidade, iniciou uma parceria com o Shopping Morumbi, fundando o Morumbi Fashion Week, a primeira semana a integrar o calendário da moda no Brasil.
Em 1999, os desfiles foram transmitidos televisivamente pela primeira vez, pelo canal estadunidense E! Entertainment. Durante a semana de moda de 99, a marca nacional Ellus também contou com a presença da modelo britânica Kate Moss na passarela, acontecimento que passou a consagrar o Brasil no cenário da moda mundial. Modelos brasileiras também passaram a ganhar reconhecimento no exterior, como foi o caso de Adriana Lima, Gisele Bündchen e Isabeli Fontana.
Em 2001, a semana de moda se consolidou com o nome “São Paulo Fashion Week”. Neste ano, o evento foi transmitido ao vivo e passou a abordar temáticas de identidade e cultura nacional, que até então eram ofuscadas pelas inspirações europeias nas coleções. A partir desse momento, a São Paulo Fashion Week conquistou o patamar de maior e mais importante evento de moda do Brasil e da América Latina, valorizando as marcas nacionais a cada edição.
“Ele traz um espaço de visibilidade para a moda, e ainda mantém marcas de velha-guarda que mostram um cenário bastante relevante”, conta Laís Franklin, editora digital da Vogue Brasil.
Desfiles marcantes
Ao longo da sua história, a SPFW apresentou diversos desfiles marcantes que perpassam a história e refletem sobre temas de grande relevância. Relembre alguns dos desfiles mais marcantes da semana de moda paulista.
No ano de 2001, o estilista Ronaldo Fraga fez uma homenagem a Zuzu Angel, estilista brasileira que ganhou ainda mais notoriedade ao questionar em seus desfiles o sumiço de seu filho Stuart, durante a ditadura militar no Brasil.
Já em 2004, o estilista Jum Nakao produziu roupas de papel, que ao final do desfile foram rasgadas na passarela.
Ainda em 2004, a coleção de inverno de Alexandre Herchcovitch homenageou a icônica figura de Zé do Caixão.
Os looks futuristas marcaram a passarela da SPFW em 2009, ocasião em que a estilista Gloria Coelho apresentou uma espécie de viagem espacial, que contava com os looks futuristas e volumes arquitetônicos.
Já em 2019, Isaac Silva estreou na semana de moda com o lema “Acredite no seu axé”, e levou à passarela, looks brancos monocromáticos.
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Importância da São Paulo Fashion Week
Criado e idealizado por Paulo Borges, a São Paulo Fashion Week dá espaço em suas passarelas não só aos grandes nomes do mundo da moda, mas também à economia, às pautas de interesse público, como a sustentabilidade, e a diversidade. “A SPFW é um movimento relacionado a moda e a área têxtil que deveria trazer totalmente uma inclusão, uma diversidade e representar a população brasileira”, explica Camila Alves, professora de moda da Faculdade Belas Artes.
A São Paulo Fashion Week foi essencial para o desenvolvimento industrial e econômico da moda e todo setor. Desde as primeiras edições, ainda na década de noventa, o evento auxiliou na profissionalização de estilistas e produtores.
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Quase trinta anos depois, com sua representatividade no mercado e seu envolvimento com grandes nomes da moda, super modelos, grifes brasileiras, celebridades e veículos de comunicação, a SPFW gera um grande movimento econômico. Com mais de trezentos modelos, três mil profissionais e cem mil convidados, em média, a semana fashion movimenta mais de R $1,5 bilhão, de acordo com a própria organização.
Sempre inovando, o evento também usa da sua visibilidade para chamar atenção à questões como a importância da sustentabilidade no mundo moderno. A edição a 53ª, Im-pactos, recebeu o nome justamente pelo evento estar engajado em alcançar as metas sustentáveis estipuladas pela ONU. A ideia é utilizar materiais como tintas feitas com resquícios do agronegócio, biquínis feitos de plástico recolhido do mar e tecidos reciclados, que garantam mutuamente a existência da moda e conservação ambiental. Com isso, diversas marcas que apoiam a sustentabilidade e usam dela como uma maneira de existir, e para os seus clientes de viver, desfilaram nas passarelas do ano passado, como Led, Ateliê Mão de Mãe, Ponto Firme, Dendezeiro e TA Studios. “A São Paulo Fashion Week deve contemplar toda essa diversidade que temos no país em termos de moda, de criatividade, de materiais”, pontua Alves.
A São Paulo Fashion Week desempenha também um papel importante no apoio à diversidade. Embora ainda seja só o começo, a 54ª edição levou aos desfiles marcas que apoiam e valorizam as diferenças. Com destaque para a Bold Strap, a marca brilhou com modelos de diferentes etnias, plus size e transgêneros. Ao lado de Camila Queiroz, Dandara Queiroz, a atriz e modelo indígena, Giulia Dias, que mostra que as cicatrizes são meios de empoderamento, Lettícia Munniz, modelo plus size que valoriza as curvas femininas, e Sam Porto, primeiro homem transgênero a desfilar na SPFW, a marca fez história no mundo da moda e do próprio evento. A importância do acontecimento vai além da moda; ele é o reflexo da sociedade, seja através de quem participa, seja através das novas coleções que são apresentadas.
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“A SPFW trouxe muita visibilidade para o design nacional e para novos designers que vem surgindo. Por isso acho que devemos trazer mais diversidade e contemplar o território brasileiro, porque se queremos ser vistos lá fora como um país que abraça diversos povos, precisamos valorizar nossa cultura, nossas regiões como um todo e a miscigenação”, explica Camila.
Além de importante para a representatividade, o evento se mostra essencial no destaque de marcas que ainda estão conquistando seu espaço no mundo da moda.
“Hoje as marcas não precisam mais de uma plataforma como a São Paulo Fashion Week para ter visibilidade. Para ser visto, lembrado e comentado, não é mais necessário estar nessa plataforma, mas para muitas marcas pequenas, isso ainda é importante”, explica Laís Franklin. A edição 55 comprova essa relevância, ao introduzir nomes como David Lee, Forca Studio, Foz, The Paradise e Marina Bitu no cenário fashion.