Imagens em palavras: veja como funciona audiodescrição em teatros - Revista Esquinas

Imagens em palavras: veja como funciona audiodescrição em teatros

Por Malu Panico : junho 21, 2023

A audiodescrição é um recurso fundamental para pessoas cegas ou com baixa visão/Freepik

A audiodescrição é a tradução das imagens e sons em palavras, fazendo com que pessoas cegas ou com baixa visão compreendam espetáculos, filmes e outros conteúdos audiovisuais

Em teatros, a audiodescrição pode ser realizada de forma presencial ou a distância, obrigatoriamente ao vivo. O espaço precisa contar com uma cabine para o audiodescritor, um fone e um microfone transmissor. Se for realizada a distância, o profissional utiliza aplicativos e programas de computador. 

A importância da audiodescrição

Cláudia Scheer, coordenadora de áudio, e Tainá Grassi, produtora de áudio da Fundação Dorina Nowill, organização que contribui com a inclusão e autonomia das pessoas com deficiência visual, explicam que o audiodescritor precisa assistir uma apresentação da peça, em vídeo ou presencialmente, antes de sua exibição oficial para o público. Além disso, o profissional visita o teatro ou analisa fotos detalhadas do local, para descrever corretamente o ambiente em que será realizado o espetáculo.

O audiodescritor monta o roteiro de acordo com os “espaços de silêncio”, para assim conseguir descrever as ações mais importantes de cada cena. Por conta disso, é importante pensar na acessibilidade desde a concepção do projeto. Scheer e Grassi destacam que “quanto menos espaços para inserções, mais ineficiente fica a audiodescrição. Algumas informações sempre se perdem, mas é essencial passar toda a ação relevante, para que assim todos consigam entender o conteúdo da peça”.

audiodescrição

Audiodescritor fazendo a tradução simultânea.
Foto: EBC

O recurso da audiodescrição está garantido no país, através da Lei Brasileira de Inclusão (LBI): 

Capítulo IX 

Do direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer 

Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:

II – A programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e desportivas em formato acessível; 

Apesar da exigência legal, não há uma fiscalização eficaz por parte dos órgãos governamentais em relação ao cumprimento da audiodescrição. Além disso, dentro da sociedade, não existe uma cultura disseminada sobre a importância da acessibilidade.

Já a parte técnica, requer alguns cuidados especiais, como equipamentos de alto custo e profissionais capacitados. 

A falta desse recurso faz com que o cego se sinta cada vez mais excluído dentro da sociedade, já que a visão é um dos sentidos mais importantes e a audiodescrição ajuda com a construção mental das informações transmitidas através das imagens. 

As especialistas em áudio, Tainá e Claudia dizem que mesmo com o alto custo não se sabe ao certo os motivos que levam os produtores a não cumprirem esses pontos obrigatórios, mas como a cultura da acessibilidade não é totalmente difundida no país, muitos não a levam em conta como deveriam.

José Vicente, coordenador do projeto “Amigos pra Valer” e deficiente visual, ressalta que a audiodescrição é uma espécie de ilustração, “é como se a gente pegasse um livro somente em texto e depois pegasse o mesmo livro com gravuras, fotos, gráficos ou ilustrações. Por conta disso, a audiodescrição é essencial para o teatro, uma vez que grande parte dos espetáculos são compostos por elementos visuais”.

 “A audiodescrição é indispensável no mundo atual”, finaliza. 

VEJA MAIS EM ESQUINAS

Wicked: as bruxas de Oz estão de volta

“Se Essa Rua Fosse Minha”: no teatro, o País se torna palco e palanque

Theatro Municipal, 111 anos: história e curiosidades do teatro mais famoso de São Paulo

O advogado, Marcelo Panico, que perdeu a visão com 36 anos, explica que o recurso de audiodescrição é fundamental para o completo entendimento de uma peça teatral, uma vez que o figurino, a expressão dos atores, o cenário e a iluminação, fazem parte da experiência cultural. “Sem acesso a esse recursos, a pessoa cega acaba perdendo muitos detalhes e não ocorre uma plena inclusão social”.

Experiências

Marcelo conta que, ao assistir o musical “Annie” sem o recurso de audiodescrição, não conseguiu compreender o que estava acontecendo em cena, entendendo somente as músicas. Alguns meses depois, em uma iniciativa cultural que promovia a acessibilidade em teatros, o advogado teve a oportunidade de assistir novamente o musical, agora com audiodescrição. “Eu tive uma nova percepção do espetáculo, descobri até que tinha um cachorro de verdade na peça. Eu nunca teria descoberto se não tivesse o recurso da audiodescrição”. 

audiodescrição

Marcelo Panico com o seu cão guia, Rudy
Reprodução: Marcelo Panico

Marcelo afirma ainda que, com a audiodescrição ele se sente mais incluído em um mundo muito visual, e consegue até debater e discutir com todas as outras pessoas que assistiram a mesma peça. Ele ressalta que todas as pessoas, inclusive as que enxergam, deveriam experimentar o recurso da audiodescrição pelo menos uma vez, já que muitos detalhes são “invisíveis aos olhos”.

O recurso da audiodescrição é indicado por meio do símbolo:

audiodescrição

Editado por Mariana Ribeiro

Encontrou algum erro? Avise-nos.