Theatro Municipal, 111 anos: história e curiosidades do teatro mais famoso de São Paulo - Revista Esquinas

Theatro Municipal, 111 anos: história e curiosidades do teatro mais famoso de São Paulo

Por Isabel Almeida e Laura Ragazzi : setembro 12, 2022

Foto: Reprodução/Revista Gazeta Artística, ano 1911, edição 17

Theatro Municipal de São Paulo completa 111 anos nesta segunda-feira, 12 de setembro. Relembre o histórico e a importância do teatro para a cidade

O Theatro Municipal é um marco para a cidade de São Paulo e neste 12 de setembro comemora-se 111 anos desde sua inauguração. Palco da Semana de Arte Moderna de 1922, após 100 anos desse evento, continua sendo um local de difusão da cultura para a população.

theatro municipal

Hall do Theatro Municipal de São Paulo.
Reprodução / Isabel Almeida

No dia 12 de setembro de 1911, foi inaugurado em São Paulo o Theatro Municipal, na época, o maior símbolo da cultura elitista paulistana. Apesar de ter sido adiada em um dia, devido a atrasos na chegada do cenário da ópera de Hamlet, de Ambrósio Thomas, a abertura também marcou o primeiro engarrafamento da cidade, e contava com cerca de 20  mil pessoas em frente ao prédio do teatro.

Curiosidades sobre a história de quem conta histórias

O Theatro Municipal de São Paulo: Histórias Surpreendentes e Casos Insólitos” é um livro escrito pelos jornalistas Edison Veiga e Vitor Hugo Brandalise, que conta em formato de crônicas cem histórias relacionadas ao local, metade sobre anônimos e metade sobre personagens conhecidos.

Os autores afirmam que a ideia do livro surgiu a partir de uma série de reportagens que fizeram em conjunto sobre os casos de corrupção e superfaturamento no teatro, principalmente quando perceberam que já haviam denúncias na Câmara de Vereadores de direcionamento de ingressos no dia da inauguração. Brandalise diz: 

“A reforma do Vale do Anhangabaú foi um dos grandes projetos urbanísticos da cidade no começo do século 20. São Paulo era uma ‘aldeia’, muda o status, deixa de ser uma vila e vira uma cidade com essa vocação para a metrópole que acabou virando”. 

O Theatro é inspirado na Ópera de Paris e foi projetado pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo, composto pelo engenheiro, arquiteto e autor do projeto Francisco de Paula Ramos de Azevedo e outros dois signatários do contrato da obra: Claudio Rossi, responsável pelo primeiro esboço e pela compra de equipamentos internos na Europa, e Domiziano Rossi, que transformou os desenhos em projetos de cada detalhe do edifício. 

A obra de 25 mil metros quadrados demorou oito anos para ser concluída. a estrutura das fundações foi feita de tijolos de barro e concreto e a da cúpula com aço proveniente da Europa. Os vitrais contam com cerca de 200 mil pedacinhos de vidro. A mão-de-obra era composta por imigrantes italianos e pela equipe do Liceu de Artes e Ofícios, que desenvolveu mobiliários como as poltronas da sala de espetáculos e as portas de jacarandá do salão nobre. Os ornamentos de bronze e as folhas de café refletem a cultura cafeeira muito presente na cidade na época. 

O Theatro Municipal, durante muitos anos, representou o lazer da elite paulistana, e essa ideia também foi reforçada por Veiga e Brandalise no livro. Ao longo de sua história, também foi palco de diversos protestos e movimentos populares, entre eles o Movimento Negro Unificado (MNU) e a realização do Primeiro Tribunal de Tiradentes. 

A Semana de 22 foi um importante evento que ocorreu alguns anos após a inauguração. Para Edison Veiga, jornalista e escritor das crônicas sobre o local, foi um pequeno evento ocorrido no Theatro Municipal, organizado por uma elite e para a própria elite, de grande valor intelectual, cultural e econômico da época. 

O autor do livro ainda cita um fato interessante: o Theatro, inicialmente, possuía mais relevância do que a própria Semana, mas, com o passar do tempo, isso se inverteu, de modo que foi perceptível que a Semana de 22 usou o prestígio do local em que ocorreu. Até mesmo a estrutura arquitetônica do local — entre a arte nouveau e o neoclássico — conversa com o domínio das elites cafeeiras da década de 1920. 

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O Theatro como símbolo de protesto

O Theatro Municipal de São Paulo, segundo Vitor Hugo Brandalise, é um lugar historicamente elitizado. Se por um lado o teatro é símbolo da elite, por outro é porta-voz de diversas mudanças e reivindicações, e isso esteve presente nos diversos acontecimentos da história, conforme confirma o escritor. Relembre alguns momentos em que sua porta foi local de protesto:

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Manifestação de fundação do Movimento Negro Unificado contra o racismo nas escadarias do Theatro Municipal, em São Paulo, em 7 de julho de 1978.
Reprodução/Arquivo Público do Estado de São Paulo/Jesus Carlos

Movimento Negro Unificado (MNU)

Reuniu nas escadarias do teatro cerca de duas mil pessoas em uma manifestação conhecida como Ato Público contra o Racismo, que denunciou em plena ditadura militar o racismo diário vivido no Brasil. 

Primeiro Tribunal de Tiradentes

Em 1983, o Theatro foi o local da realização do que culminou com a condenação da Lei de Segurança Nacional. Depoimentos de torturados, presos políticos e trabalhadores foram ouvidos dentro do teatro e ao lado de fora milhares de pessoas protestavam. 

Documentário “Emicida: AmarElo É Tudo pra Ontem”

Realizado pela Laboratório Fantasma, com direção do próprio Emicida e de Fred Ouro Preto e produção de Evandro Fióti, mostra bastidores da gravação do show histórico realizado pelo rapper em novembro de 2019 no Theatro Municipal. Em trecho do documentário ele explica o porquê da escolha do local: 

“Não tem uma viga, uma ponte, uma rua, um escritório, um prédio importante que não teve uma mão negra trabalhando para estar de pé hoje”. 

Virada Cultural:

O mais recente dos acontecimentos contou com a presença de diversas linguagens artísticas diferentes. Intitulado “Virada do Pertencimento” e tendo palcos espalhados por oito regiões da cidade, o evento que visa a promover a cultura contou com música, artes cênicas, dança e manifestações populares, além de ter sua sede nos entornos do Theatro Municipal e Vale do Anhangabaú. Assim como o teatro, o evento também defende a descentralização da cultura e pluralidade das linguagens artísticas. 

Em sua última edição, nos dias 28 e 29 de maio de 2022, participaram mais de trezentos artistas, entre eles: Luísa Sonza, Gloria Gloove, Vitão, Rael, Pitty e maestro João Carlos Martins. A Virada Cultural foi pensada para fortalecer a periferia e os órgãos públicos da cidade, concretizando a política pública de incentivo à cultura. 

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Theatro Municipal de São Paulo no ano de inauguração
Reprodução/Revista Gazeta Artística, ano 1911, edição 17

Localizado na Praça Ramos de Azevedo s/n°, no Centro de São Paulo, perto da Estação Anhangabaú — linha vermelha do metrô — , o Theatro Municipal de São Paulo tem o Vale do Anhangabaú como seu grande quintal. 

A instalação, apesar de ter mais de cem anos, passou por apenas três grandes reformas de restauro e ampliação. Em 2012, o Theatro ainda contou com a construção da Praça das Artes, abrigando algumas escolas de música e dança, além de outras atividades do Complexo Theatro Municipal. 

Os ingressos para visita podem ser obtidos no site oficial do Theatro um dia antes dos eventos, de forma gratuita. 

Atente-se aos domingos e segundas: está fechado, exceto em vésperas de feriado.

Confira a programação do Theatro em setembro:

Opera Fora da Caixa – Domitila

13 de setembro, às 20h 

Cantata: André Mehmari e Coral Paulistano

17 e 18 de setembro, às 17h 

Encontros com Autores

23 de setembro, às 18h 

Sarau no Municipal – Celebrando Cadernos Negros

24 de setembro, às 18h30 

Orquestra Experimental de Repertório apresenta Concurso Jovens Solistas

25 de setembro, às 11h 

Ópera O Amor das Três Laranjas “L’Amour des Trois Oranges”, de Sergel Prokofiev

30 de setembro, às 20h