Arte do século XXI: entenda a inteligência artificial no universo artístico - Revista Esquinas

Arte do século XXI: entenda a inteligência artificial no universo artístico

Por Julia Xavier Tortoriello : abril 5, 2023

Reprodução Théâtre D’opéra Spatial. Foto: Jason M Allen / artincarnate.com

Tecnologia e arte surgiram com propostas diferentes, mas hoje procuram se alinhar. Artistas discutem o uso da inteligência artificial no meio

A indústria artística é rodeada de contestações, as discussões estão relacionadas ao “o que é arte?” e até onde a tecnologia pode ser benéfica para a área. Jason M. Allen, artista de 39 anos, especializado em artes de inteligência artificial, pensa que as pessoas precisam “superar sua negação e medo” a uma tecnologia que pode capacitar novas invenções e remodelar o mundo. Já para os artistas plásticos, Guedo Gallet e Edu Ribeiro a abordagem deve ser diferente, sendo contrários a junção de IA e arte. 

A HISTÓRIA DA ARTE E DA TECNOLOGIA

A arte se inicia na Pré-história como meio de comunicação ou por gravuras de histórias territoriais, entretanto, ao longo do tempo, o propósito de arte se tornou volúvel, variando-se entre comunicação e admiração estética por obras. Em função disso, a tecnologia surgiu como ferramenta técnica, sendo útil para a modernização da arte.

Ainda sim, os movimentos artísticos da Arte Moderna se tornaram conhecidos pela forma manual de serem feitos, usando: telas, pincéis, tintas, espatulas etc. A partir do século XX surge a Arte Contemporânea, onde os meios de produção não se limitam ao trabalho manual, é nesse momento em que a tecnologia participa da história da arte, com a entrada de grandes máquinas de inteligência artificial que permitem construir quadros em poucos cliques.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DENTRO DA ARTE

A entrada da tecnologia na arte gerou questionamentos dentro da comunidade artística sobre o estado que se encontra a arte, em seu fim ou em sua reformulação. Os debates culturais ocorrem ao redor do mundo e dividem opiniões, como por exemplo, o CEO da Incarnate Games Inc, Jason M. Allen, que declara ser a favor da inteligência artificial: “O fato da tecnologia estar se inserindo na arte não vai ser diferente do que sempre foi, a própria arte tem a mesma função que a tecnologia, e eu não estou dizendo que arte e tecnologia são a mesma coisa mas que, a tecnologia é tudo aquilo que faz nossa maneira de viver e avançar, e isso pode ser o lápis, a roda, o computador, a câmera, o pincel ou até mesmo a inteligência artificial. Acho que essa nova forma de arte é incrível e é um teste para toda a humanidade”.

Além disso, Jason argumenta sobre as discussões de significado desse tipo de arte e sobre aceitar o novo: “Novos movimentos de arte sempre foram criticados ao longo da história, como por exemplo, o de Pablo Picasso. Ele era considerado esquisofrênico e satânico por Carol Young, mas hoje em dia, ele é um dos artistas mais famosos do mundo. Claude Monet, responsável pelo movimento do Impressionismo foi alvo de críticos por ‘falta de técnica’ e Vincent Van Gogh era considerado um amador. Todos nós conhecemos esses artistas por serem famosos hoje em dia, mesmo que eu ache que inteligência artificial não vá mudar completamente a arte, penso que no futuro olharemos para trás e reconheceremos que foi muito significativo”.

Ainda sobre inteligência artificial, Jason comenta sobre os artistas que se sentem ameaçados pela inovação tecnológica na arte: “Acredito que há uma minoria de artistas inseguros que estão atacando a inteligência artificial, pois lhes faltam autoconfiança no seu trabalho, mas não sei a razão por isso estar acontecendo. Todos os argumentos que escutei do lado desses artistas têm se provados serem falsos. Acho que se você não quer aceitar o progresso e não quer aceitar a oportunidade de usar novas tecnologias, obviamente você se sentirá ameaçado por isso. Não que eu ache que os artistas não estão sendo ameaçados, acredito que os artistas com falta de imaginação estão se sentindo ameaçados”.

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Entretanto, existem opiniões contrarias às de Jason e uma delas é a do artista plástico Guedo Gallet, que prefere uma abordagem diferente:

“Eu acho que a tecnologia é uma questão extremamente problemática, penso que ao vermos isso de maneira mais ampla, estamos colocando muitos ovos em um cesta só. A dependência absoluta de computadores é um malefício, até onde ela começa a tirar a responsabilidade das pessoas? A tecnologia ’empreguiça’ as pessoas e o seu raciocínio, as tornando cada vez mais comodistas. A inserção da tecnologia não é por si só má, como por exemplo quando substituíram a tinta à óleo por acrílica, isso foi um avanço mas, um quadro de acrílico não é um quadro à óleo, então tecnologia ajuda e facilita? Sem dúvidas, mas, o que se perde quando nós paramos de usar o pincel e começamos a usar máquinas?”.

O artista conclui: “De alguma forma coisas boas sempre serão feitas, mas a grande parte será ruim. A tecnologia piora o resultado e o núcleo de respeito a sua duração através da história, como a NFT que explodiu há um ano atrás, mas hoje em dia quase não se fala. Existe uma perda da arte na tecnologia, onde as pessoas perdem os significados necessários para a composição da arte em geral, por isso me pergunto onde estão as pessoas que querem sujar as mãos e usar pincéis”.

Além disso, Gallet demonstrou ter um ponto de vista sobre os significados das novas artes: “Se a arte terá um novo significado? Sim, sempre terá um novo significado, mas perderá sentido? Sim, sem dúvida perderá sentido, já que, uma casa é um monte de tijolos, mas um monte de tijolos não é uma casa”.

inteligência artificial

Obra de arte de Dom Quixote em seu próprio mundo subjetivo.
Guedo Gallet / Coroflot

 

Assim como Guedo Gallet, o artista Edu Ribeiro comenta se a inteligência artificial é arte e se o significado das obras mudam ou desaparecem por conta da tecnologia: “Com certeza mudam, se você parar para notar, hoje em dia estamos conhecendo coisas diferentes, como a própria NFT ou a inteligência artificial, gerando diversos debates na internet sobre o que é arte ou não, mas penso que esse novo tipo artístico não é arte e não tem emoção, são basicamente códigos”.

 

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Obra “O que aconteceu ainda está por vir”.
Reprodução / Instagram @_eduribeiro

A TECNOLOGIA E O ACESSO A ARTE

O fato da tecnologia tornar os conteúdos artísticos mais acessíveis ao público, faz com que os profissionais da arte compartilhem da mesma opinião. Sobre o acesso, Jason afirma: ”Acho que já foi apontado por muitas pessoas que a tecnologia retira as barreiras de entrada para o mundo da arte e acho isso lindo, já que é provavelmente a ferramenta mais poderosa de expressão humana já criada, portanto, artistas serem contra isso vai contra o espírito da arte.”

Já o artista Edu Ribeiro, afirma: “Eu acho que já avançamos muito, mesmo que aqui no Brasil ainda há muita coisa pra acontecer e chegar no país, entretanto, nos tempos atuais nos tivemos mais acessibilidade ao trabalho das pessoas e as pessoas ao nosso. Hoje em dia nós vemos os moleques da favela colocando exposições para dento e para fora da favela.”

O FUTURO DA ARTE

Jason coloca a arte como imutável em sua essência, mas pontua que a tecnologia pode ajudar a democratizá-la: ”O futuro da arte sempre será o que sempre foi: sobre pessoas. Desde sempre existiram pessoas com histórias incríveis para compartilhar, então elas demonstraram as suas paixões através do seu trabalho e as compartilharam para o mundo. Apesar de tudo, se a sua arte não conseguir chegar em outras pessoas, ela não vai completar nenhum tipo de missão e sem uma missão, o artista não consegue criar um trabalho significativo. Tenho certeza que novas tecnologias como a inteligência artificial farão parte disso, será sobre as pessoas que conseguem utilizar a tecnologia no seu processo criativo”.

Editado por Ronaldo Saez

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