Até que ponto deixamos de comprar livros por suas capas? - Revista Esquinas

Até que ponto deixamos de comprar livros por suas capas?

Por Mariane Ambrosio, Leticia Carmo, Julia Delboni e Mariana da Costa : março 26, 2025

A escolha de um livro vai além da sinopse; a capa também desempenha um papel crucial ao atrair os leitores. Foto: AnnieSpratt/Pixabay

Entenda como o design das capas de livros impacta a escolha dos leitores e sua experiência de compra e leitura

Após a pandemia, o TikTok ganhou força e se tornou um dos maiores aplicativos de produção de conteúdo. Por não ter um nicho específico, diversas comunidades surgiram dentro da plataforma, como o BookTok, uma subcomunidade focada no mundo literário. Essa tendência permitiu que leitores se tornassem influenciadores, os chamados BookTokers, que comentam e indicam livros.

A ascensão da comunidade literária online não apenas destacou influenciadores, mas também criou uma nova geração de leitores, impulsionando eventos como a Bienal do Livro de São Paulo. Em 2024, o evento registrou 722 mil visitantes, um aumento de 9,39% em relação a 2022, quando atraiu 660 mil pessoas, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro.

Esse crescimento evidencia a influência dos criadores de conteúdo no mercado editorial. Além de impulsionarem as vendas por meio de recomendações, também fomentam debates sobre o universo literário, incluindo a importância do design das capas.

O Julgamento pela Capa

Essas discussões, geralmente acessíveis ao público, são menos frequentes entre os autores, que raramente têm autonomia para opinar sobre o design de suas publicações. No entanto, esse não é o caso de Gustavo Rosseb, escritor e designer, que participa ativamente da criação das capas de seus livros.

Rosseb, que escreve principalmente fantasia e ficção científica, é presença constante em Bienais do Livro e tem contato direto com seus leitores. Nessas ocasiões, percebeu que o julgamento pela capa não ocorre apenas no ambiente digital. “Anos atrás, durante uma Bienal, convidei uma senhora para conhecer meus livros. Ela recusou, dizendo que julgava os livros pela capa e não precisava ouvir sobre o conteúdo. Durante a conversa, descobri que ela também era escritora. Perguntei se ela gostaria que seu livro fosse julgado apenas pela capa, que não havia feito. Ela respondeu que não”, conta o autor.

Design e Gênero Literário

Desde sua primeira publicação, Rosseb tem influência na criação visual de seus livros. “A primeira capa de um livro meu foi desenhada por mim. Hoje, não tenho mais essa autonomia total, mas sempre preparo um portfólio com ilustrações, fotos, vídeos e desenhos para servir de inspiração para a editora.”

No design de seus livros, Rosseb busca traduzir visualmente a essência do enredo. Para sua obra de ficção científica, optou por fontes e elementos geométricos que remetem à tecnologia e ao futurismo. Já em suas obras de fantasia, privilegiou cores vibrantes, fontes estilizadas e ilustrações de personagens e cenários místicos.

Sempre atento às tendências, o autor procura transformar suas capas em “sinopses visuais”, que comuniquem o gênero e o tom da narrativa. Seu público-alvo são crianças e adolescentes que apreciam sagas como Harry Potter e Percy Jackson, e ele adapta suas referências visuais para atender a essa faixa etária e gênero.

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Fatores nas Decisões de Compra

As recomendações do TikTok e o “boca a boca” são importantes na escolha de um livro, mas a capa também exerce um papel decisivo. Como o primeiro contato do leitor com a obra, ela precisa ser bem planejada para transmitir o gênero e atrair o público certo.

Um exemplo claro de tendência visual é o gênero romântico, que, impulsionado pelas redes sociais, adota uma estética padronizada. Eduardo Infante, cofundador da Editora Prata, explica: “As capas seguem padrões, assim como a moda. Capas de livros antigos são bem diferentes das atuais, mas dentro de cada época, compartilham características semelhantes, como fonte e paleta de cores. O mesmo ocorre entre nichos: capas de romances têm um estilo, enquanto as de livros de negócios têm outro.”

Quem busca um romance, por exemplo, tende a procurar capas alinhadas à estética do momento. Capas que fogem desse padrão correm o risco de passar despercebidas. O segundo elemento que influencia a decisão de compra é a sinopse. “Ela tem um peso enorme. Não adianta uma capa bonita e um título atraente se a sinopse for fraca. Ela precisa ser bem elaborada para não comprometer a venda”, reforça Infante.

O ditado “não julgue um livro pela capa” nem sempre se sustenta na prática. A psicóloga, psicanalista e escritora Ilana Setton, formada pela USP, explica que a capa influencia tanto em compras online quanto em livrarias físicas. “Provavelmente, a razão psicológica para isso é que o sensorial é a primeira percepção que temos”, afirma.

Entretanto, embora a capa seja determinante no primeiro contato, ela não é o fator decisivo na compra. Setton compartilha sua experiência como leitora: “Capas bonitas me agradam e trazem uma sensação de felicidade, mas não são essenciais. Eu nunca deixei de comprar um livro por não gostar da capa. Normalmente, já sei qual livro quero antes de ir a uma livraria ou site, mas fico feliz quando a edição é visualmente atrativa.”

De acordo com uma pesquisa feita por Esquinas, com leitores entre 11 e 25 anos, os critérios para a escolha de um livro são diversos. Embora a capa chame a atenção, outros elementos, como o título, a sinopse e o número de páginas, também são considerados e influenciam a decisão final de compra.

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Gráfico: Esquinas

Editado por Enzo Cipriano

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