No centro de São Paulo, a Casa de Francisca se destaca pela música de qualidade e serviço de comida e bar
A Casa de Francisca, estabelecimento cultural localizado na Sé, combina música brasileira com gastronomia e tem recuperado o movimento da região central de São Paulo, que ficou marcada pela insegurança ao longo dos últimos anos.
A experiência
Em um palco, há um grupo de chorinho e uma mulher. Bruna Caram, trajando um vestido amarelo de saia fluída, canta com paixão. Entoa os versos de “Carinhoso” enquanto acompanha a melodia com os braços abertos e olhos fechados em felicidade. Sua voz é simultaneamente delicada e potente, o que torna a canção de Pixinguinha e João de Barro ainda mais comovente para os convidados.
Dispostos por mesas, balcões e até em uma pequena arquibancada pelo salão, os presentes respondem com energia. Um casal dança uma valsa improvisada ao canto. Sentadas debaixo de um candelabro iluminado, duas mulheres cantam com as mãos ao peito, como se sentissem a música fluindo por seus próprios corpos. Uma criança rodopia enquanto segura a mão de seu pai. Toda esta atmosfera cativante tem como plano de fundo a Casa de Francisca, um estabelecimento de shows e comida boa responsável por movimentar o Centro Histórico de São Paulo.
O Palacete Tereza Toledo Lara, localizado na rua Quintino Bocaiúva, 22, abriga os diversos espaços do estabelecimento, que combina o estilo arquitetônico eclético com elementos de decoração contemporâneos. Além do primeiro andar, cujo salão comporta um palco baixo e de teto ondulado para melhor propagação do som, a Casa também conta com um cine-teatro no porão e um bar-térreo no calçadão, que atrai multidões aos fins de semana.
História da Casa de Francisca
Nem sempre a Casa de Francisca foi tão espaçosa. Até 2016, ocupava um local pequeno com capacidade para cerca de 40 pessoas nos Jardins, o que lhe rendeu o apelido de “menor casa de shows em São Paulo”. No ano seguinte, porém, mudou-se para o Palacete Tereza em uma esquina da Sé e mais do que quadruplicou sua capacidade.
O prédio, construído em 1910, sempre fora um local conectado à música. Expostos em um quadro logo na entrada da atual casa de shows, diversos recortes de jornais contam o passado. De Casa Bevilacqua, a primeira loja de instrumentos da cidade, à rádio Record, o Palacete atraiu grandes nomes da música, como Adoniran Barbosa, e nomeou o local de “esquina musical de São Paulo”.
Com a pandemia, as atividades foram interrompidas e o estabelecimento esteve à beira do fechamento permanente. Foi somente com financiamento coletivo e apoio da classe artística que a Casa de Francisca pôde continuar na sua missão.
“Aqui é um antro de músicos, um lugar muito necessário. Infelizmente, várias casas como esta fecharam durante a pandemia, mas aqui sobreviveu. É muito lindo poder participar disso, movimentar o Centro e valorizar a música brasileira”, afirma Bruna Caram, artista cujo show, em parceria com o grupo Fios de Choro, a equipe de ESQUINAS assistiu.
A Casa de Francisca promove vivacidade às ruas da região histórica de São Paulo, que se tornaram marcadas pela insegurança principalmente após o período de isolamento. Em depoimento à VEJA São Paulo, Rubens Amatto, dono da Casa, explica a percepção dos frequentadores: “O Centro se transformou, tanto pelo abandono do poder público quanto pelo aumento exponencial de pessoas em situação de rua. Pela primeira vez, começamos a sentir a região mais perigosa – ironicamente até então havíamos tido mais problemas (de segurança) nos dez anos que ficamos nos Jardins.”
Amatto ainda defende que, para que a região se recupere da sua atual condição, é necessário que as pessoas ocupem e transitem pelas ruas, inclusive no período noturno. Com o objetivo de garantir segurança ao público e incentivar a mudança, o estabelecimento é rodeado de seguranças particulares que ladeiam o caminho do estacionamento à entrada.
Paulo Braz, produtor cultural, é um frequentador ávido e destaca a importância da Casa. “Acho importantíssimo o papel da Casa de Francisca de oferecer música de qualidade e proporcionar shows de noite. Já fui umas cinco vezes porque gosto de tudo lá. Ambiente, comida, música, atendimento aos clientes.” Braz, que também é empresário, lidera uma iniciativa semelhante em Recife, que passa por cenário semelhante de insegurança.
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Comes e bebes
Além de assistir às apresentações, os clientes também podem experimentar comidas e drinks da Casa. Ganhador como melhor casa de shows da Folha de São Paulo na categoria “bar e comida”, o estabelecimento trabalha com um menu dinâmico. Aos dias de semana, serve pratos executivos, oferecendo extensas opções da culinária brasileira, como bobó de camarão, frango com quiabo e joelho de porco assado. Já aos finais de semana, o cardápio possui menos variedade de pratos.
Para abrir o apetite, os acepipes, pequenas porções de aperitivo acompanhadas de pão italiano são uma boa pedida. O vinagrete de polvo com favas é uma opção refrescante, assim como o camarão com erva doce. De pratos principais, o destaque fica para a feijoada do Dion, um prato farto e repleto de arroz, farofa crocante, vinagrete e couve. Aos que não comem carne, o nhoque de berinjela com ricota ao molho de tomates com manjericão é um pedido equilibrado e reconfortante. Com relação às sobremesas, é impossível deixar de comer o pudim de leite com calda de caramelo e flor de sal, que dissolve na boca.
Deve-se pontuar que a Casa não trabalha com refrigerantes e, por isso, conta com uma carta de drinks diversos, alcoólicos e não alcoólicos. O Caju Amigo, por exemplo, é uma bebida aveludada feita com cachaça, suco e compota de caju e limão. Existem ainda sucos de frutas naturais e chá mate gelado com hibisco.
A Casa de Francisca é um local de arquitetura impressionante e atmosfera intimista para quem deseja curtir um show de música brasileira. Fica a dica: é ideal reservar com antecedência e se atentar à forma de funcionamento da Casa, que tem diferentes ingressos e valores dependendo dos assentos e comida inclusos.