O caminho da sustentabilidade - Revista Esquinas

O caminho da sustentabilidade

Por Beatriz Gil e Beatriz Giovanelli : agosto 22, 2018

Alternativas surgem como um meio de combate ao consumo excessivo e à negligência com o meio ambiente

Do alto da escadaria do Bixiga, era possível avistar — e escutar — a multidão que invadia a praça Dom Orione no último sábado (18). Barraquinhas brancas e a fumaça dos food trucks ocupavam toda a área. Era a feira Jardim Secreto, evento que ocorre há cinco anos na capital e tem como principal objetivo promover o pequeno produtor e, consequentemente, o empreendedorismo sustentável. O evento bateu recorde ao atrair cerca de 15 mil pessoas em apenas um dia de acordo com a organização da feira, que divulgou o número pelo Facebook. O local ficou pequeno: próximo ao horário do almoço, andar era praticamente impossível, mas o ambiente descontraído, a música boa e os diversos carros de comida mantiveram o clima do Jardim Secreto.

Falar sobre empreendedorismo sustentável ainda é algo novo. Geralmente, pensa-se em hortas, feiras agrícolas ou em conceitos mais recentes no vocabulário como slow fashion. Pensando em analisar mais sobre esse fenômeno recente e em expansão, a reportagem de ESQUINAS foi à feira para conversar com expositores e entender sobre o movimento. É importante ter em mente que empreendedorismo sustentável fala sobre a geração de riquezas com o desenvolvimento responsável do meio social e ambiental. Um empreendedor sustentável é tanto aquele que busca proteger o meio ambiente quanto aquele que apoia causas sociais.

Alguns dos microempreendedores que participavam do Jardim Secreto abandonou suas antigas carreiras — tidas como seguras — para se aventurar com seus próprios negócios. Mayra Gonçalves, sócia da Verdô Sucos, conta que trabalhava em uma grande construtora quando decidiu viajar ao redor do mundo.  Foi em uma dessas reuniões em Israel que a ideia nasceu. “Eu conheci uma menina numa feira e ela sempre perguntava para as pessoas como elas estavam se sentindo”, lembra a empreendedora. Surgiram os sucos naturais, cada um com um “poder” diferente. Alguns dão energia, enquanto outros acalmam, por exemplo. Por serem prensados a frio, preservam as enzimas vivas e mantêm vitaminas e nutrientes originais da fruta, ajudando a manter uma alimentação saudável de forma prática e se diferenciando dos sucos convencionais, que perdem grande parte dos nutrientes dos ingredientes no processo de fabricação.

A empresa de Gonçalves surgiu em 2015, o que a empreendedora considera um sucesso, já que a Verdô Sucos é sua principal fonte de renda, diferentemente do que acontece com outros microempreendedores. Priscilla Kakazu por exemplo, que cuidava da barraca dos cosméticos Jaci, contou que ainda não é possível se sustentar apenas com a empresa. “A gente ainda está na luta. Para produtor que é mais artesanal, é um pouco difícil, você não consegue viver só com isso”, explica. A marca nasceu a partir de uma ideia da irmã, Daniella, e de uma amiga de faculdade, Luiza Monteiro, ambas engenheiras químicas. As jovens incomodavam-se pelo fato da indústria de cosméticos usar ingredientes prejudiciais, como Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), parabenos, soja, entre outros, tanto para o corpo de quem usa quanto para o planeta. Então, decidiram fazer produtos 100% naturais e veganos, além de multifuncionais, como um sabonete que também serve como xampu. “A gente complica muito, né?”, afirma Priscila quando mostra que o objetivo da marca é unificar cada vez mais os cosméticos.

Além da Verdô Sucos e da Jaci, empreendedores expunham outros produtos, de mel orgânico e pimentas caseiras a brinquedos infantis e artesanatos frutos de projetos sociais. Eles mostravam que existem alternativas orgânicas e sustentáveis para tudo o que a sociedade consome.

Em relação ao território nacional, é difícil encontrar dados que afirmem que empresas sustentáveis estão ganhando força, mas é fácil perceber que termos como sustentável, eco-friendly, cruelty free, entre outros, aparecem cada vez com mais frequência na boca dos brasileiros. Contudo, grande parte das marcas veganas e sustentáveis baseiam-se em preços irreais para a população brasileira. A Lush é um desses casos. A empresa de cosméticos britânica, que tem uma produção totalmente artesanal — mas de valores “salgados” —, fechou as portas no mercado brasileiro no começo deste ano, alegando, em um comunicado oficial, que “o Brasil é um mercado muito difícil para a operação de uma marca britânica. Apesar do crescente aumento de vendas, a alta carga tributária e a prolongada recessão econômica” impedem as atividades da marca no País.

Apesar de não ser uma das iniciantes no ramo, a marca é mais um exemplo de tantas outras que tentam sobreviver no mercado brasileiro. A própria feira Jardim Secreto possui preços inacessíveis para muitos e, mesmo cumprindo sua tarefa de ajudar pequenos empreendedores, é voltada para uma elite que tem condições de pagar por um produto mais difícil e custoso de se fabricar, seja pela baixa demanda, seja pela qualidade dos materiais usados ou da mão de obra empregada.

A esperança vem de que esse tipo de comércio cresça e, assim, os preços caiam, tornando o consumo consciente mais acessível. Em linhas gerais, esse tipo de empreendedorismo soa como uma ótima ideia para minimizar danos causados ao ambiente e tentar reparar a “dívida” do homem com o planeta. Neste ano, segundo um relatório da organização Global Footprint Network, a humanidade esgotou todos os recursos que a terra é capaz de oferecer de forma sustentável no dia 1º de agosto, mais cedo que os anos anteriores. Ainda há um longo caminho a ser percorrido quando se fala de sustentabilidade.