"Crepipis” e “Crepepekas”? Conheça a Assanhadxs, uma creperia inusitada  - Revista Esquinas

“Crepipis” e “Crepepekas”? Conheça a Assanhadxs, uma creperia inusitada 

Por Luca Nieri e Matheus Arroyo : julho 18, 2022

Foto: Reprodução / Instagram de @assanhadxs

Com visual único, muito bom humor e divulgação nas redes, a creperia vem fazendo grande sucesso na Rua Augusta e atraindo clientes de todo o Brasil 

“Raspadinha ou peludinha?”; “A forma de pagamento vai ser a penetração ou a encoxadinha?; “Passou, gemeu, aprovou: bom apetite!”. Frases inusitadas como essas viraram bordões em um pequeno – porém extremamente excêntrico – estabelecimento localizado na Rua Augusta, número 1291. Um prostíbulo? Um sex shop? Nada disso. Trata-se de uma creperia inusitada.

Nesta loja, vendem-se crepes – ou melhor, os Crepipis e Crepepekas, que possuem formatos de pênis e vagina, respectivamente. As guloseimas da creperia Assanhadxs vêm fazendo grande sucesso, resultando em filas que fazem os clientes esperarem por mais de uma hora para se deliciarem com as iguarias. 

ideia de mentes eróticas 

“A ideia surgiu de nossas mentes eróticas”, disse Gislene da Silva, ex-professora de ensino infantil e co-fundadora do Assanhadxs em conjunto com seu marido, Marcos Afonso. Pois não é somente o erotismo que está presente na mente da dupla, mas também o empreendedorismo: este é o terceiro negócio que o casal tenta alavancar. Os dois primeiros – uma cafeteria que servia bebidas com fotos impressas e uma loja de acessórios para o público LGBTQIA+ – não tiveram sucesso, o que não foi o suficiente para desanimá-los. 

“Quis inovar e abranger essa diversidade que temos na Augusta. Vinha de duas tentativas de negócios que não deram certo, não tinha nada a perder. Foi então que lembrei de uma postagem que vi no Instagram, de um lugar na França que vendia os crepes nesse formato e corremos atrás para importarmos as máquinas”. 

Com exemplos em países como Portugal, França e Espanha, os crepes eróticos já faziam grande sucesso no continente europeu, e desde o ano passado a moda vem pegando no Brasil. Em agosto – antes mesmo do nome Assanhadxs ser definido – os Crepipis começaram a ser servidos pelo estabelecimento e, logo depois, surgiram as Crepepekas. A partir de então o negócio começou a se popularizar, muito por atrair a atenção de diversos digital influencers que ajudaram a fomentar a novidade. 

Som do tabu quebrando 

O nome atual da creperia decorre de uma brincadeira entre o casal, como nos conta Gigi: “Eu sempre brincava que os nossos clientes são assanhados. Então o Marcos me sugeriu o nome de Assanhados para a creperia. ‘E as assanhadas?’, perguntei’. Decidimos então colocar o ‘x’, a fim de que todos se sentissem incluidos”. 

O casal, inclusive, destacou o ‘x’ do nome da marca no letreiro que sinaliza o estabelecimento. Com a cor vermelha chamativa, essa é uma forma de mostrar que todos, sem exceção, são bem vindos ali. “Incluímos todo mundo. Queremos quebrar o tabu, como dizem por aí. Até brinco no microfone com os clientes: ‘estão ouvindo o som do tabu sendo quebrado?”, conta Gislene. 

Com esse mesmo microfone, Gigi brinca com aqueles que demoram para retirar o pedido: “número 65, seu Crepipi está broxando” ou “pedido 39, sua Crepepeka vai secar”. É uma forma que a dona do Assanhadxs encontrou de unir duas coisas que gosta muito: fazer as pessoas darem risadas e fazer sucesso, visto que essas brincadeiras de Gislene com o microfone acabam viralizando nas redes sociais – o que, consequentemente, traz novos “assanhados” à creperia. 

“Quem vem à Augusta e não experimenta os Crepipis e Crepepekas, não veio de fato à Augusta”, brinca Gislene no microfone. 

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Cardápio inusitado 

O tamanho médio de um pênis varia de lugar para lugar ao redor do globo terrestre. No Assanhadxs, os membros folheados possuem cerca de 16,5 centímetros. A guloseima custa R$35,00 e possui duas versões: a doce e a salgada, que podem ser acompanhadas dos chamados “Chocogozo” e “Gozonésia”, coberturas de chocolate e maionese, respectivamente. 

Já as Crepepekas, por serem ligeiramente menores – mas igualmente saborosas -, custam R$ 25,00. “Depiladinhas” (sem nenhuma cobertura), “Bigodinho de Chaplin” (pouca cobertura) ou “Peludinhas” (bastante cobertura); são diferentes opções de finalização para a sua guloseima, a qual ainda pode ter cinco tipos diferentes de recheio. 

“Com esse frio que está fazendo em São Paulo a gente fica até meio intimidado com o tamanho dos Crepipis”, brinca Guilherme Rodrigues, que veio de São José dos Campos com a namorada, Ana Luiza, apenas para provarem os crepes. Enquanto Guilherme optou pelo Pipi, Ana escolheu a Pepeka. “Nós gostamos muito de passeios alternativos e gastronômicos. Quando descobrimos essa creperia decidimos na hora vir conhecer, e foi muito bacana, a comida é ótima e ainda podemos tirar uma onda no nosso Instagram”, nos contou ela. 

Exposição e divulgação 

Toda essa exposição nas redes sociais é, na maioria das vezes, muito benéfica ao negócio de Gislene e Marcos. O formato de órgãos sexuais dos crepes os fazem ser extremamente virais nas mais diversas plataformas. Entretanto, Gigi afirma que também toma muito cuidado para que isso também não prejudique o seu empreendimento: 

“Nós colocamos o nome de Crepepeka e Crepipi, muito por conta de estarmos abertos durante o dia também. Diversas famílias passeiam com seus filhos pequenos por aqui. Queríamos nomes mais leves, por isso escolhemos Crepipi, ao invés de ‘Crepriroca’, por exemplo.” 

Além disso, Gislene nos confidencia que também se preocupa em, através dos nomes dos itens do cardápio – como vulva e glande – promover noções de educação sexual aos seus clientes: “É muito importante que falemos com seriedade de algumas coisas. Essa parte da educação sexual é também um pouco do nosso papel, pensamos que todo mundo sabe, mas não é assim. Coloquei ‘glande e vulva’ no menu exatamente por isso. Pra você ter uma noção, uma vez um rapaz veio reclamar que ‘grande’ estava escrito errado no cardápio”. 

Imbróglio judicial 

Não é só o casal que se preocupa com a imagem que o seu estabelecimento e os seus produtos passam ao público. No início do mês de junho, o Ministério da Justiça determinou que seria proibida a venda dos crepes para menores de 18 anos. Os produtos deixaram de ser expostos na vitrine da loja e uma placa indicando a faixa etária necessária para consumí-los foi colocada na fachada. 

A norma publicada no Diário Oficial da União foi a de que “estabelecimentos comerciais deverão deixar de vender produtos que reproduzam ou sugiram o formato de genitálias humanas e/ou partes do corpo humano com conotação sexual, erótica ou pornográfica para menores de 18 anos”. Os comércios que desobedecerem serão multados em R$ 500,00 e, caso houver reincidência, os seus donos poderão perder a licença para exercerem suas atividades. 

Em entrevista ao G1, Gislene argumentou: “Tem tanta coisa para se preocupar, né, olha o preço que estão as coisas no Brasil. Quando vamos comprar produtos, está tudo caro, mas eles se preocupam com essas coisas, tem tanta coisa para se preocupar na vida do brasileiro… Isso parece uma perda de tempo. Temos a impressão que o país está maravilhoso e essa é a única preocupação”. 

A lojista afirma que entende a medida do Ministério Público, porém ressalta: “é apenas comida lúdica, é para ser engraçado”. 

Entretanto, esse baque não parece ter afetado muito as vendas. As filas dos clientes que esperam para saborear o seu crepe continuam grandes: “Eu acho que o movimento continuou igual, ou até mesmo cresceu. As notícias deram ibope ao nosso comércio, de certa forma. Se vai continuar assim eu já não sei te responder, esperamos que sim. Temos muitos Crepipis e Crepepekas esperando por vocês”. 

Editado por Juliano Galisi

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