Dizzy, ou o “dinossauro do fast food“, abriga memórias afetivas de um grupo de amigos paulistanos; conheça a história da tradicional lanchonete
“Dizzy era nosso ponto de encontro na Vila Maria”, relembra Marcelo Novais, dos tempos em que aplicativos de mensagens de texto – como o Whatsapp – não existiam. Entretanto, isso não o impedia de encontrar seu grupo de amigos, uma vez que o ponto de encontro era sempre o mesmo: uma pequena lanchonete na esquina da Avenida Guilherme Cotching na Praça Santo Eduardo, número 206.
O dia e o local eram sempre os mesmos: Eduardo, Marcelo, Leandro e Ricardo se encontravam todos os sábados às 22 horas, para que ninguém se perdesse e o plano também. Os jovens deixavam suas namoradas em casa, iam à lanchonete e saiam para as ruas em busca de diversão. “ Era quase como um ritual, todos nossos amigos iam porque a gente morava na Vila Maria”, afirma Marcelo.
Em pouco tempo, memórias foram sendo criadas. Os jovens não param de frequentar o local, indo até quando suas esposas, as namoradas da época, engravidaram. “Lembro da Fernanda grávida do Thales. Quando ela pediu um sundae para comer e o baixinho caprichou na cobertura para ela” comenta Leandro Bolonhine, um dos fiéis amigos de Marcelo, sobre a gravidez de sua esposa.
Dizzy: do circo ao piloto de fórmula 1
Fundada em 1969, a lanchonete tem quase a mesma idade de Marcelo, que nasceu em 1964. Atualmente, o local completa 54 anos.
O dono da lanchonete era Osmar Temperani, antes artista circense e nascido no circo, largou tudo para poder viver o seu sonho: criar seu próprio negócio.
Para isso, ele abriu uma sociedade com três amigos, na qual existia “O Restaurante Dizzy”, de seus dois amigos, e sua pequena lanchonete com o mesmo nome. A lanchonete não tinha muita mão de obra, por conta da pequena verba que entrava nos primeiros anos de sua abertura.
“No local, sempre tinha quatro atendentes. O Paulo, na chapa, o Ailton – o “baixinho” – no caixa e mais dois que eu não lembro o nome”, comenta Leandro.
A lanchonete ocupava um local menor em comparação ao restaurante, ao ponto de não ter uma cozinha própria. Apenas as mesas dos clientes, uma chapa e fritadeira onde os lanches eram feitos na banha de porco . Nada de óleos industrializados, o processo era o mais caseiro que se existia.
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Para além do local aconchegante e o ponto de encontro, a lanchonete conseguiu produzir o que ficou conhecido como o “futuro do hambúrguer”, receita totalmente caseira e produzida pela mãe de Osmar, que até hoje continua sendo usada e não teve um ingrediente alterado. O futuro, no caso, é uma receita mais saborosa e carregada de condimentos.
Por mais que a receita original seja totalmente norte-americana, o lanche passou pelo “jeitinho brasileiro” nas mãos da mãe de Osmar. O hambúrguer, antes temperado somente com sal, recebeu mais condimentos, traço característico da comida brasileira, como açafrão e páprica.
E a maionese, que antes era simples, agora contava com ervas finas. Outro que sofreu mudanças foram as batatas que podem ser pedidas com um condimento diferenciado do norte-americano : pimenta calabresa ou páprica.
Passados quase 10 anos, em 1978, o “Seu Osmar”, como era conhecido, conseguiu dinheiro suficiente com seus hambúrgueres para comprar parte da sociedade de seus dois amigos. Assim, a divisão entre lanchonete e restaurante acabou, sobrando apenas o “Dizzy”.
O dinossauro do fast food
A atual lanchonete, que sofreu uma repaginada em 2004 e se tornou mais moderna, com totens de fórmula 1, esporte favorito do dono, e alguns vinis e objetos que remetem a cultura “norte-americana”, local de nascimento dos famosos hambúrgueres.
Para o grupo de amigos, o local conseguia trazer as imagens de filmes hollywoodianos dos anos 50 ou 60, em que viam as tradicionais lanchonetes americanas. O ambiente, antes de 2004, era construído para que esse sentimento se iniciasse em quem entrasse no local.
Entretanto, mesmo com todas as mudanças sofridas, ao olhar para o local onde frequentavam religiosamente todos os finais de semana, Leandro vê Dizzy como uma instituição da rede de comidas pré-históricas.
“Hoje, vejo o Dizzy como um dinossauro do fast-food, claro, sem que se houvesse a extinção”, brinca Leandro. “Ainda é comum ver no local famílias. Para mim, ele agrega educação, bom gosto e prazer ao saborear um ótimo lanche”, completa.
No caso, o lanche pedido por todos os amigos era o famoso x-salada, com algumas variações, mas sempre com a famosa maionese caseira feita de ovos com ervas finas e o pão brioche.
Leandro gostava de incrementar seu lanche com ovos. O que muitos chamavam de “podrão”, na lanchonete era conhecido como “x-salada egg”. Atualmente, somente o lanche, custa cerca de 21 reais, caso queira pedir com acompanhamentos, o preço se eleva para 24,50.
Seguindo os passos do pai, Vinicius Novais, filho de Marcelo, visitou o Dizzy e, curioso, experimentou o famoso x-salada do grupo. “A carne do Dizzy é de um hambúrguer que não é gourmetizado e a maionese dá para perceber que é caseira e bem feita”, comenta.
“A carne ao ponto, que perfuma todo o ambiente no momento que o prato chega à mesa, a junção da maionese caseira, como descrita por Leandro, junto das ervas finas e das especiarias, o pão extremamente fofo e os acompanhamentos, (ovo e folhas), trás a memória, mesmo que não nossa, de como a lanchonete deveria ser nos anos 60”, finaliza.