Bloco paulistano nasceu da paixão por ritmos tradicionais e se consolidou como referência no Carnaval de rua
O carnaval é a principal festa popular do Brasil, celebrada tradicionalmente entre os meses de fevereiro e março. É o momento em que o povo brasileiro se reúne para, além de ir ao tradicional bloco, prestigiar diferentes culturas, dando voz a elas, revelando a riqueza da história que percorre os 8.500.000 km² do território do país.
Como forma de trazer ainda mais abundância para essa festividade, O Grupo Maracatu Bloco de Pedra vem, todos os anos, mostrando sua raiz Pernambucana, entrelaçada com as culturas de Matriz africana, com batuques e danças que penetram nos olhos de quem vê, celebrando o Carnaval de rua.
História e Origem
O grupo surgiu no começo dos anos 2000, em meio a ameaças de desativação da escola Estadual Professor Antônio Alves Cruz, localizada na zona oeste de São Paulo. Com a intenção de preservar a cultura escolar e impedir o fechamento do colégio, ex-alunos, ex-professores e diretores, deram início a atividades e projetos educativos voltados para a comunidade escolar, sendo um deles o “Projeto Calo na Mão”.
O “Projeto Calo na Mão” é uma iniciativa que oferece oficinas e Workshops gratuitos relacionados ao Maracatu de Baque Virado: uma vertente do maracatu tradicional da cultura popular carnavalesca, originada na região metropolitana de Recife. Conhecido também como “maracatu nação”, esse estilo é executado em forma de cortejo e acompanhado por um conjunto de músicos percussivos. Dessa forma, trabalhar com a educação torna-se o principal diferencial do bloco de rua: “Escolhemos o mundo da educação como espaço de atuação do Bloco de Pedra. Todas as pessoas que participam do bloco são egressas do projeto Calo na Mão”, explica Marcio Lozano, 42, coordenador do projeto.
Sendo oficialmente fundado em 2005, o Maracatu Bloco de Pedra já se apresentou em mais de 30 escolas públicas na cidade de São Paulo e participou de grandes eventos, além do carnaval de rua da capital, entre eles: Revelando São Paulo, Circuito Paulista, edições da Virada Cultural, festas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e diversas apresentações no SESC-SP. Todo o cachê arrecadado pelo grupo é destinado para o financiamento das oficinas e atividades sociais oferecidas pelo coletivo.
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Identidade e Sonoridade
Sendo formado por 100 integrantes, o bloco é composto pelo corpo de dança e percussionistas. O Naipe de dança é constituído por mulheres de todas as idades, suas vestimentas fazem referência às tradições pernambucanas, usando saias longas brancas, a blusa com a identidade do bloco e faixas coloridas na cabeça. Durante toda a apresentação, as mulheres formam fileiras e dançam, girando suas saias e movimentando os braços.
Essa dança é inspirada no maracatu do baque virado, uma tradição afro-brasileira de Pernambuco. Com isso, traz grande simbologia histórica, carregada de sentimento e emoção, tanto para quem dança quanto para quem presencia. “Perto do final da apresentação em que eu vi a plateia acompanhando os nossos passos, giros e sorrisos, foi ali que tudo fez sentido, os olhares de quem estava tocando e dançando se cruzavam com baita sentimento de realização, olhos marejados com misto de emoções, foi lindo!”, diz Jaqueline Corsi, 31, integrante do Naipe de dança do Bloco de Pedra.
Mas a emoção não fica só para a dança, os percussionistas tem um grande papel em trazer a sonoridade para a apresentação. Ficando atrás das dançarinas, são homens e mulheres de todas as idades, suas vestimentas se adequam ao naipe de dança, enquanto a mudança dos homens é da saia pela calça branca. Os instrumentos utilizados realçam as tradições dessa manifestação cultural como as alfaias, os agbês, as caixas de guerra e os gonguês.
Além disso, as toadas (músicas) de autoria do bloco e tradicionais das comunidades de maracatu no Pernambuco são cantadas por todos os membros. Seus versos contam as histórias do grupo, sua luta pela preservação da identidade do Maracatu e pela propagação das culturas de matriz africana.
Impacto social e cultural
Além da potência sonora, o Bloco de Pedra também carrega uma força social e política. Sua atuação no espaço público contribui para a democratização do acesso à cultura e promove reflexões sobre identidade e ancestralidade afro-brasileira. Ao ocupar ruas e praças com sua música, o Bloco de Pedra não apenas participa do Carnaval, mas também reforça a importância de manifestações culturais que historicamente enfrentaram marginalização.
Dessa forma, o Bloco de Pedra vai além da folia carnavalesca. Sua atuação fortalece a cena do maracatu em São Paulo, incentiva a formação de novos percussionistas e mantém viva uma tradição cultural significativa. Seu impacto se reflete tanto no Carnaval quanto no envolvimento de seus integrantes ao longo do ano, consolidando-se como um importante agente de preservação e difusão do maracatu.