“Não podemos mudar o passado, mas o futuro é nosso”, diz introdução do show do Mötley Crüe, que traz a nostalgia do glam metal mesmo com seu passado escandaloso
Na terça-feira, 7/03, as bandas de rock Mötley Crüe e Def Leppard se reuniram em um show no Allianz Parque, em São Paulo, tendo como convidado especial o brasileiro Edu Falaschi, muito conhecido por ser ex-membro da banda Angra. Mesmo com nomes de peso no line-up e promoções de venda de 2 ingressos por um, os fãs da banda não conseguiram lotar o estádio, que foi reorganizado, havendo a diminuição no tamanho das pistas e inutilização das cadeiras superiores. Ainda assim, restaram lugares vazios.
Sua turnê mundial, que já passou por países como Colômbia, Peru e Chile, seguindo agora para a Argentina, é a continuação de uma turnê estadunidense, “The Stadium Tour”. Inicialmente, 3 shows foram planejados para a passagem da turnê no Brasil, mas as datas de Curitiba e Porto Alegre foram canceladas devido a problemas logísticos.
Na nova turnê, foi anunciada uma mudança na formação original do Mötley Crüe, com a aposentadoria do guitarrista Mick Mars, que foi substituído por John 5, exaltado por seus trabalhos ao lado de Marilyn Manson. Mick sofre de espondilite anquilosante, doença degenerativa e sem cura que prejudica sua mobilidade, e vinha a décadas se apresentando com fortes dores, porém, agora com 71 anos, não conseguiria mais acompanhar o ritmo de uma turnê mundial.
Sexo, drogas e rock’n’roll
O Def Leppard, que está no meio musical desde o final dos anos 70, continua fazendo a plateia vibrar, até mesmo se arriscando no português dizendo “Obrigado, São Paulo!” nos intervalos das músicas. Eles foram uma das bandas que participaram da “Nova Onda do Heavy Metal britânico”, na tentativa de re-popularizar o estilo musical no mainstream britânico da época, apesar de sua sonoridade mais leve e músicas cantantes. Ainda relevantes nos dias atuais, fizeram todo o público brasileiro cantar junto de seus grandes hits, como “Pour some sugar on me”, ´´Animal” e “Let´s get rocked”.
O Mötley Crüe, que também é muito importante para a história do rock internacional, teve o início de sua trajetória nos anos 80 e, a partir daí, passou a ser uma das bandas referências no novo estilo de rock que se iniciava, o glam metal, “metal glamuroso”, com um visual extravagante e cabelos longos, muito importante para sua identidade visual e a de seus fãs.
Mas, além disso, a banda foi uma das consolidadoras do estilo de vida de “Rockstar”. Desde sua criação, os integrantes vivem na pele o famoso lema “sexo, drogas e rock’n’roll”, em uma vida marcada por exageros, comportamentos agressivos, desrespeito e objetificação das mulheres, excessivo uso de drogas e envolvimento em diversos escândalos, que repercutem até hoje.
Por conta disso, a imagem da banda foi ficando cada vez mais prejudicada, pois eles iam muito além do clássico machismo no rock, que até hoje não se desprendeu do estilo. Suas loucuras e sexo em massa se destacavam das demais bandas que, mesmo com comportamentos similares, não recebiam o mesmo foco midiático, o que corroborou para que o trabalho do Mötley fosse muito menos respeitado no cenário musical.
Hoje, com o cenário musical muito mais politizado e crítico, muitos deixaram de acompanhar a banda. Mas, apesar das polêmicas, o Mötley Crüe continua com a sua base sólida de fãs.
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Mötley Crüe: os fãs que permaneceram
“Nos anos 80, todos estavam errados. Estou aqui pela nostalgia. Vou passar pano? Talvez, todo mundo erra e na época era até esperado que os artistas de hard rock fossem transgressores. Então, eu entendo a atitude deles como um ato transgressor para aquele momento, tanto que ficou no passado e eles não levaram isso a diante”, afirma Flavia Natielli, 36 anos, servidora pública, veio de Belo Horizonte apenas para ver o show. “Hoje, a banda sobrevive é do público da nostalgia, estamos aqui para celebrar o passado”, completa.
“Hoje em dia, baseado na postura deles, vendo que eles evoluíram como pessoas, eu me sinto bem melhor em falar que sou fã. Mas, considerando o passado trágico, acho que a gente não pode ficar insistindo no erro que cometeram, até porque eles se estabeleceram como família e estão diferentes”, afirma a fã Amanda Vasconcelos, de 18 anos, estudante.
O show tinha um público variado, com muitos fãs que não vivenciaram os anos 80. Um grande fator para isso é o filme da banda, “The dirt”, baseado no livro de mesmo nome escrito pelos membros do Mötley e lançado pela Netflix em 2019. O filme, além de agradar seu público fiel, atraiu uma nova geração de fãs.
Patrícia Dias, 50 anos, administradora, elogia o filme: “achei o filme muito engraçad. Muito cara anos 80 porque eles realmente são dos anos 80, a época do exageros, mas achei super divertido. Eu sou de outra geração não tenho muito mimimi”
Porém, é importante ressaltar que o filme não aborda assuntos muito pesados relatados no livro, como uma aposta feita entre o baterista Tommy Lee e o baixista Nikki Sixx sobre quem conseguiria ficar a maior quantidade de dias sem tomar banho e com quantas mulheres eles conseguiriam transar nesse período.
A banda entrou em foco nas telas novamente em 2022 na minissérie “Pam & Tommy”, mostrando o conturbado casamento de Tommy Lee e a atriz Pamela Anderson, que sofreu agressão do ex-marido e teve sua carreira prejudicada devido ao vazamento de uma sex tape dos dois.
Apesar de discordarem de muitas de suas atitudes passadas, os fãs não deixam isso interferir no seu amor pela banda, seu legado e suas músicas, separando a arte do artista, o passado do presente. E a própria banda tem consciência dessa dualidade.
No início do show, logo na apresentação inicial, antes da entrada no palco, uma das frases ditas foi “we can’t undo the past, but the future is ours” (nós não podemos mudar o passado, mas o futuro é nosso) , e logo depois era afirmado “and for the next 2 hours music will be the only form of communication” (e pelas próximas 2 horas, música será a única forma de comunicação).
A interação do Mötley Crüe com os fãs brasileiros
A performance foi dotada de entretenimento. O baixista, Nikki Sixx, foi para a frente do palco com uma bandeira do Brasil, e depois chamou uma fã ao palco, que pediu seu baixo. Após a resposta negativa, o músico tirou uma selfie e abraçou a mulher.
Posteriormente, foi a vez de Tommy Lee interagir com o público, afirmando que ama o país e gostaria de morar aqui e que, segundo ele, o Brasil tem “as melhores bundas”. Mostrando que ainda há resquícios de suas atitudes predatórias, ele diz para as mulheres subirem no ombro de seus namorados para ver seus seios. Algumas realmente o fizeram, e ele conclui que o Brasil também tem “os melhores peitos” da América do Sul.
Antes do show, no dia 06/03, a banda foi visitar o Beco do Batman, em São Paulo. Lá uma fã, Camila Manson, 26 anos, empresária, teve a ideia de pedir para que Tommy Lee assinasse a foto nu postada por ele mesmo. O baterista achou a situação super engraçada e disse ser a primeira vez que isso aconteceu com ele.
“Comecei a gritar na rua ‘Tommy, Tommy, Tommy’ enquanto balançava a foto dele pelado. Ele achou sensacional e foi lá tirar foto comigo e autografar. O próprio fotógrafo dele tirou a foto, ele mesmo postou no perfil dele. Meu Instagram está uma loucura, tenho até medo de abrir”, conta Camila em entrevista exclusiva para ESQUINAS.