"Empatia é se aproximar pelo que temos em comum", diz professor da Cásper sobre alteridade na pandemia - Revista Esquinas

“Empatia é se aproximar pelo que temos em comum”, diz professor da Cásper sobre alteridade na pandemia

Por Vinicius Silvestre : abril 29, 2021

Diferente da definição comum de colocar-se no lugar do outro, a empatia pode ser entendida de outra forma, principalmente na pandemia. O texto compõe o “Observatório da Pandemia” da Cásper Líbero

Um dos muitos debates levantados pela pandemia é o da empatia. Segundo o dicionário Michaelis de Língua Portuguesa, empatia é “a habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa, a compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. Sabendo da gravidade da covid-19 e das mais de 3 milhões de mortes no mundo, muito tem se falado sobre exercer a empatia.

Entretanto, Luís Mauro de Sá Martino, doutor em comunicação e professor da Faculdade Cásper Líbero, explica que, com base no pensamento da filósofa Edith Stein, a empatia não é sobre se colocar no lugar do outro. “Como posso me colocar no lugar do outro, se sou eu?”, argumenta Stein em seu livro Sobre o Conceito de Empatia.

Segundo Martino, empatia é você encontrar nas suas dores e em si mesmo os pontos que permitem uma conexão com outra pessoa. Ou seja, empatia não é uma troca de lugar, e sim, a prática de um exercício de encontro. Sendo assim, ele não acredita que a sociedade, no geral, esteja exercendo a empatia. “Nós não demos nem o primeiro passo, que é a solidariedade”, ele diz.

Em meio à pandemia, estão sendo reportadas aglomerações e grandes festas, tipo de evento que, comprovadamente, é o comportamento mais perigoso para esse período. Então, qual seria o motivo dessa conduta que não é orientada pela empatia?

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O professor casperiano acredita que a ausência de empatia é resultado de décadas de uma cultura em que não se educa para a alteridade, mas, sim, para a competição.“Somos estimulados a nos preocuparmos apenas conosco”, explica. Ele complementa que, com a adoção da competição, deixa-se de lado a cooperação. Por outro lado, o comunicador reforça que essa é uma visão geral do assunto. “Tem gente exercitando a solidariedade e construindo a empatia. Apontar um quadro sombrio não significa que eu não tenha esperança. Se eu não tivesse esperança, eu não seria professor”, ele esclarece

Concordando com o filósofo Zygmunt Bauman, Luís Mauro explica que vivemos em uma sociedade em que a velocidade é padrão, como argumenta o polonês em “Modernidade Líquida“, e isso é outro problema para exercer a empatia. “A pessoa não tem tempo nem para pensar nos seus próprios sentimentos, imagina para fazer o exercício de pensar no outro”, diz Martino.

Para quebrar essas barreiras, Luís Mauro descreve exercícios de encontro. “Eu, por exemplo, não perdi alguém para a covid, então, não posso me colocar no lugar de alguém que perdeu, porque seria uma experiência meio falsa, não dá para fingir a experiência humana. Mas, por outro lado, eu já perdi parentes próximos. Eu não sei o que é perder alguém de covid, mas eu sei o que é perder alguém, eu compartilho dessa dor. Não é igual, mas esse sentimento que eu tenho me aproxima do sentimento que a pessoa que perdeu alguém de covid tem. Por isso, a gente consegue sentir junto com a outra pessoa. A empatia é isso, se aproximar pelo que temos em comum.”

Por fim, o professor aponta a curiosidade que uma das definições de comunicação é ter em comum. Logo, se comunicar é sentir a dor do outro a partir das suas próprias experiências, ou seja, nessa lógica, se comunicar é nada mais do que praticar a empatia