"O Brasil é usado como exemplo do que não fazer durante uma pandemia", diz brasileira em Londres - Revista Esquinas

“O Brasil é usado como exemplo do que não fazer durante uma pandemia”, diz brasileira em Londres

Por Matias Patrone : março 17, 2021

Com o Brasil na contramão da recuperação mundial da pandemia, brasileiros no exterior sentem incerteza no retorno ao País

Após um ano da declaração oficial da OMS da pandemia do novo coronavírus, a maior parte do mundo vem apresentando queda nos casos da doença. Na contramão, o Brasil diariamente bate seu recorde de mortes, tendo alcançado a marca de 2798 ontem, dia 16 de março de 2021. Diante dos números e da crise política que o país vivencia, brasileiros que residem no exterior se sentem mais seguros longe de casa, apesar das saudades. 

Rússia e a onda de covid 

Caíque Júnior, 35 anos, é estudante de relações internacionais e youtuber. Ele mora em Vladivostok, no extremo leste da Rússia. Por conta da proximidade da fronteira com a China, Caíque conta que Vladivostok esteve em contato com o vírus desde muito cedo. “No início, quando a população aqui começou a ficar gripada, eu e meus amigos achamos que era uma onda de gripe. Quando espalhou a notícia que tinha um vírus na China, o governo russo fechou as fronteiras na Ásia”.

 Para o brasileiro, a diferença do Brasil para a Rússia é que “quando Vladimir Putin decretou os métodos de combate à covid a serem adotados pela população, todos respeitaram, tanto quem é contra quanto quem é a favor do presidente. Na Rússia, o povo não enxerga a pandemia como uma briga política. No Brasil, é ao contrário.”

O país em que vive teve uma média de 9.474 novos casos e 425 mortes nos últimos 7 dias. O processo de vacinação começou no dia 22 de dezembro de 2020. Atualmente, aproximadamente 3,8% da população já recebeu ao menos uma dose e 1,5% já está imunizado.

Quando questionado sobre o sentimento de estar longe do seu país natal nesse momento, Caíque disse que é “um sentimento de alívio. Acho que a situação do Brasil está pior que aqui. Não só em relação à pandemia, mas psicologicamente também”. Para ele, o povo russo é mais preparado para ocasiões como essa e se comporta de uma forma mais humana. “Eles têm uma visão de sociedade como irmandade, um não passa por cima do outro”. Sobre um dia retornar ao Brasil, o estudante revela que pretende continuar pela Europa: “Eu estou tranquilo, me sinto em casa”.  

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Inglaterra e o controle da pandemia

Laila Crivelari tem 27 anos e é gerente de marketing em uma ONG em Londres. Ela conta que, no Reino Unido, as medidas estabelecidas pelo governo foram melhor acatadas que no Brasil. “Virou uma questão de Doria contra Bolsonaro quando na verdade é uma questão de vida ou morte”, desabafa sobre o país de origem.

Laila também relata que as medidas de contenção no Reino Unido foram tratadas como emergência desde o princípio. “Os países do Reino Unido apesar de todas as diferenças políticas se uniram no básico, conseguindo realizar o isolamento, testagem e vacinação. Separaram a opinião política do que é fato”. Desde o início de 2021 em lockdown, o resultado foi uma queda de 80% nos novos casos no país e um constante declínio no gráfico de mortes.

Ela cita a construção em 10 dias de um hospital de campanha, aberto em Londres para separar os infectados por covid dos demais pacientes. 26 milhões de pessoas já tomaram ao menos a primeira dose da vacina por lá.

Laila diz que a imprensa britânica repercute o governo brasileiro de Bolsonaro como “um governo muito autoritário, antidemocrático e contra a ciência. A principal informação que eu leio aqui é que o governo brasileiro está indo na contramão do resto do mundo. O Brasil é usado como exemplo do que não fazer durante uma pandemia”.

Apesar disso, ela se sente impotente e preocupada em relação aos seus familiares, que moram no Brasil.  “É preocupante a falta de esperança, não temos a sensação de que a situação do Brasil vai melhorar, não tem uma luz no fim do túnel e parece que é cada um por si”, lamenta. Assim como Caíque, Laila não pretende voltar para o Brasil tão cedo e diz que, culturalmente, se sente transformada desde que se mudou.