Desigualdade social no Brasil é escancarada com 11 novos bilionários enquanto 19 milhões passam fome
55,2% dos brasileiros enfrentam algum quadro de insegurança alimentar. E cerca de 19 milhões de habitantes do País efetivamente passam fome. É o que aponta a pesquisa Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, feita no final de 2020 e divulgada pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Escancarando a desigualdade social do País, a Revista Forbes divulgou no início de abril o Ranking dos Bilionários 2021. Nele, estão 11 novos bilionários brasileiros, que juntos possuem uma fortuna de US$21,2 bilhões.
“Se analisarmos o número de bilionários, para um país como o nosso é muito pequeno, porque as fortunas bilionárias estão ligadas ao sucesso das empresas das quais são sócias”, afirma o economista Durval Pedroso, 70 anos. “O apoio de governos passados a grandes empresas não permitiu que as pequenas e médias, que dão sustentação ao mercado de trabalho local, se desenvolvessem”, complementa.
Acumulação de riqueza, aumento da miséria
Para Pedroso, a raiz deste problema está nos últimos 20 anos de política brasileira, mas não é possível estabelecer uma relação direta com a situação da fome no País. “Somente aqueles que não estudam o desenvolvimento econômico com a devida isenção fazem esse correlacionamento”.
Doutora em economia, Tania Paes, 36 anos, atribui a adição de 11 brasileiros ao ranking de bilionários em meio a uma pandemia à má gestão da crise sanitária e à falta de políticas públicas apropriadas. “É chocante, mas tínhamos sinais desse abismo. No ano passado, 42 bilionários brasileiros acumularam mais de R$176 bilhões em suas fortunas, valor superior ao orçamento da saúde em 2020.” Segundo ela, “além de ser incompreensível do ponto de vista numérico e ético, a acumulação de riqueza é absurda e revoltante quando se constata o aumento da miséria”.
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Recorte de raça na desigualdade
Citando o estudo da Rede Pensan, Paes afirma que “10,7% dos lares cujos responsáveis são negros ou pardos enfrentam insegurança alimentar grave, enquanto nos chefiados por pessoas brancas o percentual é de 7,5%. O quadro moderado reitera o desequilíbrio: 13,7% para pessoas negras e pardas; 8,9% para brancas. Diante desses dados, não dá para negar o significativo recorte de raça na desigualdade”.
Para a ativista do movimento negro Fernanda Mandü, 18 anos, o fator da raça é acompanhado da falta de oportunidades no mercado de trabalho a pessoas negras, que tendem a trabalhar informalmente e receber baixos salários. “Pessoas negras, pardas e indígenas, em sua maioria, trabalham desde a infância para ajudar com o sustento de suas famílias, para não passar fome e conseguir o mínimo que uma pessoa deveria ter”, diz.
Além de ser o país fora da África com mais negros no mundo, a população negra no Brasil é maioria: chega a 56,4%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE. “É estranho pensar que não temos nenhum bilionário negro nesse país”, questiona a ativista.
Para o estudante de ciências econômicas Plínio Natalino, 22 anos, o fator é histórico. “Não é coincidência as pessoas mais ricas serem majoritariamente brancas e as mais pobres, majoritariamente negras e pardas”, diz. De acordo com o IBGE, a renda média mensal dos pretos equivalia a 55,8% da dos brancos em 2019. “O racismo estrutural fica nítido quando se compara o salário de brancos com o de negros”.
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