“O que você faz com os seus privilégios?”: Ativistas da sustentabilidade explicam por que o movimento não é só ambiental - Revista Esquinas

“O que você faz com os seus privilégios?”: Ativistas da sustentabilidade explicam por que o movimento não é só ambiental

Por Mariana Savaget : agosto 18, 2021

Sustentabilidade envolve educação ecológica, questionamento de privilégios e disseminação de informações para ativistas da área

No início de agosto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão das Nações Unidas, publicou o primeiro grande estudo a respeito do clima desde 2013, afirmando ser “inequívoco e indiscutível que os seres humanos estão esquentando o planeta”. Nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, o relatório é um “alerta vermelho para a humanidade”.

Ao longo da história recente, as discussões a respeito da mudança climática e o papel da humanidade na destruição do planeta começaram a tomar cada vez mais espaço, majoritariamente com foco nos indivíduos. As soluções mais populares para combater o aquecimento global são voltadas às ações individuais, como o repensar o uso de plástico e o gasto de água. Contudo, as maiores responsáveis pelos impactos ambientais, em termos absolutos, são as grandes empresas.

O crescimento da sustentabilidade

Ainda que cobrar comportamentos mais ecológicos de empresas seja importante, a procura geral por práticas mais sustentáveis é crescente. Para Madu Cabral, cocriadora da caixa de produtos naturais para corpo e casa Caixa Florinda, esse cenário está diretamente relacionado à disseminação de informação. Ela acredita que, quanto mais informadas sobre as questões ambientais, mais conscientes ficam as pessoas, o que acaba fazendo com que elas busquem alternativas mais sustentáveis em diferentes aspectos das suas vidas.

A comunicadora e apresentadora Larissa Colombo, que ministra um curso de conexão alimentar e apresentou o programa “Como Mudar o Mundo Sem Sair de Casa”, no Canal OFF, acredita que, “nos últimos anos, começamos a olhar mais para práticas sustentáveis, artesanais e ecológicas porque começamos a ter consciência dos estragos causados.”

A importância da conscientização

As redes sociais desempenham um papel importante no estímulo dessas práticas quando o poder de difusão de informação é usado para a conscientização. Para além do ambiente digital, no entanto, esse diálogo pode ser mais difícil. Larissa destaca a importância de um plano de educação ecológica nas escolas. “Uma pessoa vai plantando essa sementinha do questionamento e aí outras pessoas começam a pensar”, explica. Madu considera a conscientização ambiental uma questão de sobrevivência. Ela ressalta a necessidade de repensar hábitos e o funcionamento da sociedade para mudar atitudes em relação ao planeta e à natureza.

 

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Os perigos do greenwashing

Com o crescimento da procura por alternativas mais naturais, tornou-se comum uma estratégia conhecida como greenwashing, que consiste na apropriação de termos ambientalistas por grandes empresas na tentativa de vender mais. Com um marketing voltado para a consciência ambiental, é muito comum que, na prática, os produtos vendidos como sustentáveis sejam tão prejudiciais quanto os padrões.

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Para Larissa, os meios para combater essa apropriação do movimento sustentável pelas empresas – que jogam a responsabilidade da crise climática para ações individuais sem reconhecer o próprio impacto – são o questionamento e a informação. Segunda ela, “a educação ecológica nos ajuda a saber melhor sobre a cadeia produtiva e a buscar respostas a respeito de toda a produção”.

Sustentabilidade para quem?

As populações mais vulneráveis são as que menos contribuem negativamente para as mudanças climáticas, considerando o baixo índice de industrialização dos países periféricos. Ainda assim, esses são os que mais sofrem com os impactos ambientais e, além disso, os que possuem menos recursos para lidar com essas consequências.

Levar informação a todas as pessoas e procurar alternativas sustentáveis – tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade – são aspectos essenciais do movimento ambiental. “É uma questão extremamente difícil, são muitos fatores envolvidos. Não é apenas uma questão ambiental, é uma questão social também”, afirma Larissa.

Além disso, Larissa destaca a importância de pessoas que já têm acesso à informação e possibilidade de conscientemente mudar os seus hábitos realizarem mudanças nas suas rotinas e comportamentos. Ela coloca como essencial a pergunta: “O que você faz com os seus privilégios?”

 

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Sustentabilidade em casa

Para quem tem a intenção de incorporar hábitos mais sustentáveis no dia a dia, seja para se conectar com a natureza ou para cuidar da saúde, Larissa e Madu compartilham o conhecimento do ramo.

“Nas minhas escolhas de consumo pessoal, tento me aprofundar na origem do produto: priorizo os orgânicos, dou muita importância a um produtor local e tento, ao máximo, comprar ingredientes e produzir as coisas em casa”, afirma Madu. Os cosméticos e produtos de limpeza também são parte da pauta. Ela diz que “nossa pele come. Tudo o que passamos nela entra em nosso organismo e, quando soube disso, a primeira coisa que fiz foi ler os ingredientes de um xampu. Foi assustador quando descobri que grande parte dos ingredientes servem só para deixar o produto mais barato”.

Larissa conversa sobre a alimentação orgânica e local, práticas como a compostagem e a criação de uma horta em casa e a produção de seus próprios cosméticos. Para ela, é importante “tirar tempo para observar a natureza” e criar um relacionamento mais íntimo com a mesma.

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