Urban Sun: Projeto holândes promete limpar coronavírus de espaços públicos para promover encontros mais seguros - Revista Esquinas

Urban Sun: Projeto holândes promete limpar coronavírus de espaços públicos para promover encontros mais seguros

Por Marina Fornazieri e Vinicius Silvestre : maio 21, 2021

Invenção Urban Sun pode tirar até 99,9% das partículas de coronavírus do ambiente, mas não exclui a necessidade do distanciamento e uso de máscaras.

Invenção pode tirar até 99,9% das partículas de coronavírus do ambiente, mas não exclui a necessidade do distanciamento e uso de máscaras

Nesse mais de um ano em pandemia, você certamente já sentiu ou sente falta de encontrar amigos e familiares. Pensando nisso, e buscando alternativas para retomar o convívio social impedido pela covid-19, o designer holandês Daan Roosergaarde criou o projeto Urban Sun, cujo objetivo é desinfetar espaços públicos e possibilitar encontros.

Ele consiste em uma estação flutuante com tecnologia que emite uma luz UVC específica (de 222 nanômetros), que limpa o ar e superfícies dentro de um círculo iluminado. Diferentemente de outras luzes UV, essa não é prejudicial aos humanos e animais. A segurança se deve ao comprimento de onda emitida, que é mais curta e não produz ozônio nem contém mercúrio.

Segundo o físico e professor Marcelo Ramalho Portero, a técnica de usar luzes UV para desinfetar vírus não é exatamente uma novidade. O diferencial do Urban Sun é seu uso em espaços abertos e com um alcance de longa distância.

A invenção assegura poder limpar até 99,9% das partículas de coronavírus presentes no ambiente em poucos minutos, e até mesmo diferentes cepas e vírus da gripe. Entretanto, o projeto não exclui a necessidade do distanciamento e do uso de máscaras. “Urban Sun é uma camada adicional de segurança, para acrescentar, não para substituir”, afirmou Roosegaard em entrevista para a revista Dezeen.

O primeiro teste de “sol urbano” aconteceu em Rotterdam, na Holanda. A instalação cumpriu o propósito de promover a socialização e ser admirada como proposta artística.

Apesar de ser importante na pandemia, o projeto começou a ser pensado em 2019, muito antes de a covid-19 pisar na Europa. Originalmente, ele havia sido desenvolvido para o vírus Influenza (gripe), mas a urgência do cenário pandêmico fez com que Roosegaarde, estudioso do potencial da luz, em conjunto com cientistas, realizasse novos estudos e adaptasse a ideia para combater o coronavírus.

Outros trabalhos do criador do Urban Sun

O trabalho do artista holandês quase sempre consegue unir criatividade, tecnologia e natureza. Ganhador de prêmios internacionais, ele lidera o Estúdio Roosegaarde, um laboratório de ideias peculiares, como a Waterlicht, uma inundação virtual para mostrar o poder da água, a Smog Free Tower, uma torre que transforma partículas nocivas do ar em joias e a Smart Highway, uma rodovia solar.

Sobre essa última invenção, ele disse em entrevista à BBC: “O governo está apagando os postes de luz à noite para poupar dinheiro porque a energia está sendo convertida em algo muito mais importante do que poderíamos ter imaginado 50 anos atrás”.

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Urban Sun no Brasil?

Você deve estar pensando no potencial dessa invenção e na possibilidade de importar algo assim para o Brasil. Mas, segundo o infectologista Jamal Suleiman, que atua no Hospital Emílio Ribas, é melhor não criar expectativas. Ele alerta que a invenção não protege, de fato, contra o vírus: “Em aglomerações, o que menos importa é a superfície, mas sim o contato”.

De acordo com Suleiman, do ponto de vista científico, não é uma proposta que valha o investimento, já que não se realiza a ideia de promover um ambiente seguro para encontros. “Poderia ser usado para iluminar shows, festas e eventos, porém, claro, sem a ideia de que seria 100% seguro e eliminaria o vírus”.

A busca pelo “novo normal” é incessante e projetos como o Urban Sun podem parecer atraentes, mas não devem ser vistos como plano de saúde pública. “A única estratégia de fato capaz de mudar esse cenário é criar um cinturão de vacina”, afirma o infectologista.

Covid-19 na Holanda

Além de pensar soluções para a retomada da vida social, o empreendimento holandês inspira novas pesquisas sobre a covid-19, essenciais para entender a ainda pouco conhecida doença.

A Holanda, país de 17 milhões de habitantes, teve 1,6 milhão de casos de coronavírus até a publicação desta reportagem e 17,5 mil óbitos – no momento, o número de mortes diárias não chega a 20.

A brasileira Monique Santos, de 34 anos, vive por lá há mais de seis. Ela já recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19. Os Países Baixos iniciaram a vacinação em janeiro deste ano e 5,5% da população já está totalmente vacinada, enquanto 17,1% da população já tomou pelo menos uma dose.

Assim que tomar a segunda dose da vacina, Monique se juntará às mais de 1 milhão e 900 mil pessoas completamente imunizadas na Holanda
Acervo Pessoal

Monique mora em Rotterdam, cidade onde foi testado o Urban Sun. Segundo ela, houve lockdown por diversos meses durante 2020, além de toque de recolher. Ela afirma que “a maior parte da população holandesa sempre seguiu as medidas com muito rigor e cautela”, o que, segundo a comunidade médica, contribuiu para o baixo número de ocorrências da doença.

As restrições foram esquecidas quando os casos caíram ainda naquele ano, mas o governo voltou a restringir a circulação de pessoas devido ao aumento de mortes e novos casos. Apenas em 2021, com o avanço da vacinação, a situação foi controlada, possibilitando os holandeses a retomarem suas rotinas.

Assim como os brasileiros, eles ainda não estão liberados para realizar eventos de grande escala, ainda que em lugares abertos, mas existem flexibilizações. Nesse cenário, é esperado que o Urban Sun possa viabilizar encontros ao ar livre de maneira segura.

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