Salgada infância: completar o álbum da Copa de 2022 requer quase 50% do salário mínimo - Revista Esquinas

Salgada infância: completar o álbum da Copa de 2022 requer quase 50% do salário mínimo

Por Guilherme Catellino, Lucas Lima e Pedro Hernandes : setembro 13, 2022

Álbum de capa dura da Copa do Catar 2022.

Com o aumento considerável do pacote de figurinhas, reviver a época de completar um álbum da Copa do Mundo se tornou uma tarefa mais difícil e cara

Uma das maiores diversões dos brasileiros ficou mais cara este ano. Completar o álbum da Copa do Mundo de 2022 custará, no mínimo, R$ 536,00, contando que o comprador não obtenha nenhuma figurinha repetida. O preço do pacotinho, que valia R$ 2,00 no mundial da Rússia, há 4 anos, custa o dobro agora: R$ 4,00.  

Em 2002, ano do pentacampeonato do Brasil, os consumidores precisavam desembolsar, no mínimo, R$ 44,88 para completar o álbum de 561 cromos, comprando cada pacotinho a R$0,40. Considerando que o salário mínimo vigente à época era de R$ 130,00,  seria necessário separar 14,5% do montante para preencher todas as páginas.

Vinte anos depois, o valor para completar o álbum da Copa do Mundo impressiona: 44,2% de uma renda mínima de R$1.212,00 há de ser separada para conseguir todos os 670 cards do álbum.  

A CRISE ECONÔMICA 

O preço exorbitante vem acompanhado da crise econômica, como explica o economista e professor Álvaro Labrada. A pandemia do novo coronavírus e a guerra entre Ucrânia e Rússia elevaram o custo da produção e deixaram a tradição coleção do álbum da copa elitizada: “O trabalhador que ganha um salário mínimo não tem condições de completar o álbum. O álbum é feito por um perfil de faixa de renda média. Nesse momento de crise que vivemos, as pessoas têm dificuldades de comprar alimentos. É um bem de consumo para elite”, explica o professor. 

Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo e docente há 48 anos, Labrada também ressalta a falta de concorrência como outro fator que implica no aumento do preço: “É um evento único, que ocorre de 4 em 4 anos. As figurinhas são oferecidas por apenas um grupo, então nós temos um único fornecedor e muitos compradores. No monopólio, coloca-se o preço que eles entenderem, com a margem de lucro que eles entenderem necessária. O preço está alto porque não há competição”, justifica o economista.

ESQUINAS fez um levantamento do preço dos pacotinhos em cada ano da Copa, da quantidade mínima de dinheiro necessário para completar o álbum – sem obter nenhuma repetição – e da quantidade de cromos de suas respectivas edições, desde 1998. 

Veja tabela abaixo: 

álbum

COLECIONISMO EM MEIO A ALTA DE PREÇOS 

Apesar do preço elevado, existe um grupo social que não deixou de consumir: os colecionadores profissionais. É o caso de Célio Reis, 51 anos, administrador de imóveis, mas que tem como hobby há mais de 30 anos o colecionismo profissional de figurinhas da Copa.

Célio conversou com ESQUINAS e contou sobre como era difícil, no início, colecionar os cards, já que o preço de cada pacotinho variava de acordo com a banca que o cliente frequentava: “Meu amor pelo colecionismo começou na década de 90, ano de crise no Brasil, em que era muito difícil de comprar o álbum de figurinha, porque a cada dia o preço do pacote era diferente. Você precisava procurar a banca mais barata para comprar”, explica. 

A alta nos preços promovida pela Panini é uma oportunidade de ouro aos colecionadores que vendem os cromos de maneira individual e enxergam neste cenário a possibilidade de lucrar com isso. Célio conta que seu acervo é para fins pessoais e que não há interesse de venda, mas, como convive no meio, conhece muitas pessoas que vendem os cromos.

Além disso, o colecionador explica que a febre de vendas começou no mundial de 2014, sediado no Brasil: “Eu vi muita gente comprando muita coisa na intenção de ganhar dinheiro, porque na Copa de 2014 o pessoal negociou muito! Aí vinham as especiais que o pessoal cobrava o dobro do valor. O pessoal acabou se empolgando para negociar”, acrescenta.

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Além do álbum: AS NOVAS OPORTUNIDADES 

Na edição de 2022, a Panini inovou com o lançamento dos famosos “Stickers Extras”, cromos com 80 versões diferentes de jogadores, indo das Legends (Lendas) aos Rookies (novatos), divididas nas cores bordô, bronze, prata e ouro, com suas cores variando de acordo com a raridade do sticker.

Estes cromos não são obrigatórios para completar o álbum, mas são interessantes aos colecionadores mais aficcionados. A raridade é o principal ativo: as chances de adquirir uma dessas figurinhas é de 1 a cada 1.900 pacotinhos.

Célio conta que conhece um revendedor que investiu pesado na compra de figurinhas para obter o maior número de legends possível e depois conseguir vendê-las:”Um amigo que revende abriu 18 mil pacotes: 18 caixas de mil cada. Ele conseguiu 76 extras e 56 sem repetição. Se uma pessoa vai comprar na banca, vai ser quase impossível ela conseguir os 80 extras”. 

Editado por Juliano Galisi

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