Deixando para trás o mito do jornalismo imparcial, mídia clubista revoluciona a maneira de conversar sobre esporte
Competindo com canais e sites esportivos já consolidados no mercado, a mídia clubista, veículos de comunicação especializados em apenas um time ou organização, ganha cada vez mais espaço no mundo dos esportes.
Construídos muitas vezes por torcedores dos próprios clubes, os portais buscam dialogar de forma direta com os interesses de um torcedor comum, o que tem acontecido de maneira eficaz.
Mesmo com setoristas que cobrem exclusivamente uma organização, os grandes portais esportivos ainda não conseguiam atender a demanda daqueles que buscavam informações específicas sobre seus clubes do coração. Observando essa lacuna no mercado esportivo, o paulistano Danilo Augusto decidiu fundar o “Meu Timão”, em junho de 2009. O portal cresceu, caiu nas graças dos corinthianos e em 2020 se tornou oficialmente o primeiro canal licenciado de mídia segmentada de um clube de futebol no país, de acordo com o site Máquina do Esporte.
Corinthiano não tem um dia de paz @_andrewsousa pic.twitter.com/1dYNtaOoo7
— Meu Timão (@MeuTimao) April 4, 2022
A mídia segmentada como um atalho
Danilo afirma que a criação do portal era uma necessidade e, principalmente, uma oportunidade: “Eu precisava entrar em quatro ou cinco sites para ver notícias do Corinthians. Como torcedor apaixonado, imaginei que poderia fazer um site onde tivesse tudo disponível”. Sendo um serviço útil não só para ele, mas para outros torcedores, usou sua experiência como desenvolvedor a seu favor, e em 2012, transformou o projeto em sua fonte de renda.
De acordo com Danilo, pioneiro no ramo das mídias segmentadas, o site corinthiano pavimentou o caminho para outros portais trilharem seu sucesso. Segundo levantamento do blog “Semrush”, mídias como “NetVasco” e “Coluna do Fla” surgiram como dois dos cem sites mais acessados no mês de dezembro de 2021, evidenciando a popularização e estabilização destes canais.
Para Tayna Fiori, ex-setorista do “Nosso Palestra” e atualmente redatora e comentarista da TNT Sports, as mídias segmentadas encurtam o caminho entre o torcedor e o clube. “Ajuda bastante a pessoa que quer saber só sobre o clube dela, o futebol do time dela e que vai acompanhar só isso, ela não vai atrás de outras notícias. Não quer saber quanto o rival perdeu ou ganhou e isso é muito importante”, afirma.
Ver essa foto no Instagram
Veja mais em ESQUINAS
Conheça a W Series, a categoria feminina do automobilismo
O repórter boleiro: Fernando Fernandes conta como consegue extrair grandes histórias dos jogadores
Da TV para o digital: Ivan Moré comenta trajetória no jornalismo esportivo e seus novos projetos
Por outro ângulo
Porém, o nicho não sobrevive apenas de notícias otimistas e positivas, existe um outro lado da moeda que nem sempre é comentado. De acordo com Tayna, a mídia clubista e os setoristas, descobrem muito mais coisas que as grandes mídias. “Você fala muito sobre denúncias, lesões, problemas do clube e isso faz com que o torcedor também fique sentindo que o clube não tem uma grande responsabilidade, não é verdadeiro e aberto com ele. Então acaba afastando o torcedor do clube por saber que o clube está mentindo pra ele”, conta a jornalista.
Para o futuro dos portais segmentados, ela comenta que é uma tendência que acompanha as necessidades de uma sociedade bombardeada de informações a todo momento. “As pessoas têm cada vez menos tempo e não lêem as notícias, elas querem as coisas na palma da mão delas e querem ver o que elas realmente estão interessadas”, explica.
Contudo, Danilo não é tão otimista assim quanto a estabilidade dos consumidores desse tipo de veículo. Para ele, assim como todo o cenário do jornalismo esportivo teve que se adaptar ao paralelo jornalismo especializado, a mídia clubista terá que se reinventar em determinado momento: “Se falassem há cinco anos que muitas pessoas iam consumir notícias esportivas em canais de YouTube, era algo praticamente impossível de se prever, e hoje é uma tendência que já atingiu um público, que se fidelizou, e hoje briga com televisão ao vivo”.
Falar abertamente sobre o seu time do coração, o que até alguns anos atrás era visto como um grande tabu no jornalismo, é a essência da mídia clubista e o que faz com que o público se identifique através de uma linguagem descontraída e direta. O crescimento dos veículos indicam um movimento de estreitamento na relação clube-torcedor, pilar fundamental para sustentar a maneira como o público enxerga o esporte nos dias atuais.