"Esse grupo conseguiu me ensinar muito", diz Gabriel 'Von' Barbosa, coach da LOUD - Revista Esquinas

“Esse grupo conseguiu me ensinar muito”, diz Gabriel ‘Von’ Barbosa, coach da LOUD

Por Gabriela Antualpa : novembro 4, 2022

Foto: Reprodução / Youtube CBLOL

Coach da equipe vencedora do segundo split CBLOL conta em entrevista para ESQUINAS sobre a trajetória da LOUD até o campeonato mundial de League of Legends

“Faz o L, Ibirapuera! A LOUD é campeã do CBLOL!” ressoaram as altas caixas de som no Ginásio do Ibirapuera, reunindo dez mil torcedores das equipes PaiN Gaming e LOUD no primeiro fim de semana de setembro.

Hoje, dois meses depois, a equipe da LOUD retorna ao país após ter feito uma campanha histórica no campeonato mundial de League of Legends, o Worlds 2022. ESQUINAS, em parceria com a página LOUDETE, conversou com o head coach do time, Gabriel “Von” Barbosa, sobre sua carreira e a jornada que os consagrou vencedores no país e chamou atenção dos players mundo afora.

Quatro vezes campeão, ele começou sua trajetória jogando com os amigos, enquanto fazia faculdade de Engenharia Civil. Mesmo não conseguindo conciliar o estudo com a prática, percebeu que tinha muito interesse pelo jogo. Entrou em contato com a JAYOB e-sports, e iniciou sua carreira como analista das partidas, se tornando coach em sequência.

Desde então, treinou times consagrados como Lyon Gaming e INFINITY, da LLA, e Flamengo E-sports, no qual já orientou ícones do League of Legends brasileiro como o atirador Felipe “Brtt” Gonçalves. Iniciou seu trabalho na LOUD no início do ano, no primeiro split.

Escolhas improváveis

No início do segundo campeonato do ano, Diego “Brance” Amaral, um dos ad carrys do Academy da LOUD, foi escolhido por Von para ocupar a vaga de atirador do time principal, mesmo não tendo um currículo experiente. A escolha intrigou alguns torcedores, mas Von já sabia do potencial do jovem de apenas 18 anos.

“A gente queria dar uma oportunidade pra ele, porque via potencial no Brance. Me foi oferecido até escolher entre os dois ad carrys que já tinha, porque a gente tinha opção do Beenie também. No fim, aptamos pelo Brance porque ele demonstrava ser mais completo no que a gente precisava para aquele time. O Beenie também é muito inteligente, só que não era bem o que a gente precisava na line do CBLOL lá naquele momento.”

Victor “Vahvel” Vieira, o suporte do Academy, também tinha planos de subir para o time principal inicialmente. O head coach explica os planos que tinha para o suporte da base mudaram com a possível vinda do caçador Park “Croc” Jong-hoon para o time.

Segundo ele, quando se pensa em trazer um coreano para o time, é necessário verificar que jogador conseguirá se comunicar da melhor forma na língua usada com estrangeiros no time – o inglês. Ceos, que já venceu o CBLOL em 2020 com os coreanos Parang e Wiz na Kabum!, tinha mais facilidade com a língua.

“O Vahvel tem muita dificuldade de inglês, enquanto o Ceos ele já era um pouquinho mais solto, já estava acostumado. Por isso, eu acho que ele conseguiu encaixar melhor na equipe no começo.”, conta.

O time, com inserção do ex-jungler da Netshoes Miners, teve que mudar sua comunicação do português para o inglês. Além de Ceos, o meio Thiago “tinowns” Sartori e o topo Leonardo “Robo” Souza já estavam acostumados com companheiros de equipe coreanos em outros times.

Mesmo com a comunicação um pouco estremecida por causa da mudança abrupta de língua, ele não crê que isso tenha atrapalhado tanto quanto pode parecer.

“O Brance começou a fazer aulas de inglês desde que ele descobriu que ele ia para o CBLOL. Então, já foi atrás disso para poder se comunicar – foi um momento oportuno para ele. Ele conseguiu umas aulas especificas para a comunicação dentro do jogo”, explica.

Virada de chave

Nas primeiras partidas da fase de pontos, a equipe estava oscilando entre vitórias e derrotas. Na décima rodada, acumulava 5 vitórias e 5 derrotas – tendo perdido contra times no fim da tabela, como a Flamengo Los Grandes.

Von, que positivou para COVID-19, não conseguiu estar presencialmente no palco. O coach descreve a semana na qual tiveram as duas derrotas importantes.

“Aquela semana foi muito estranha, porque a gente sempre foi muito bem nos treinos com essa line-up. A frustração dos jogos anteriores do CBLOL eram que a gente simplesmente não estava conseguindo encaixar. Parecia que tudo estava muito bem setado, só que chegava na hora do jogo, não funcionava”, diz. “Foi um negócio absurdo e isso deixou todo mundo muito triste, porque a gente não estava conseguindo jogar o nosso jogo.”, completa.

O técnico explica que ter perdido a partida contra a paiN ocasionou uma reunião que mudou a visão do time, que ajudou a colocar os pingos nos is e colocar os jogadores na mesma página.

“Isso os fez gostarem de jogar o jogo de novo, de se esforçar, de querer ganhar. Ali conseguiram dizer: ‘Não está dando certo, mas vamos continuar tentando, porque a gente sabe do nosso potencial'”, contou.

Eles entraram em um consenso: para vencer, o player não pode fazer as coisas apenas para si mesmo. Eles tinham que fazer uns pelos outros, e se esforçarem ao máximo para isso.

“Isso vale para qualquer âmbito da vida. Eles conseguiram conversar bem, se acertar bem. Depois conversaram comigo o que tinha acontecido e a gente foi alinhando com a staff e com os jogadores para chegar na melhor forma de trabalhar para todos.”, continua.

Depois de tal papo, a line se reergueu. Acumularam sete vitórias consecutivas na fase de pontos, perdendo em um 3×2 na final da chave superior para a paiN Gaming e atropelando a FURIA na final da chave inferior com um belo 3×0 para a chegar à final do CBLOL.

Campanha do Worlds

Na primeira partida na fase de pontos do Worlds, campeonato mundial de LoL, o time começou perdendo para a Beyond Gaming, time taiwanês. Muitos torcedores ficaram confusos com a escolha de campeões, principalmente na polêmica escolha de Seraphine para Brance. Von conta o porquê dos picks e seus planos para o time.

No patch dos playoffs, ele explica que os hyper carries – normalmente adcs que se tornam extremamente fortes no jogo – estavam ainda mais potentes no meta.

Campeões como Sivir, Zeri e até Aphelios apareciam em quase todas as partidas. Já na atualização do mundial, no patch 12.18, atiradores como a radiante Zeri levaram um nerf que, segundo o coach, deixaram a boneca “injogável”.

Já que Ad carries como Miss Fortune e Ezreal – que dão menos dano por segundo – foram destacados no novo meta, Von pensou em Seraphine por suas habilidades que batem de frente com tais campeões.

“A Seraphine basicamente está ali para pressionar lane e fazer você ganhar as teamfights. Se o resto do seu time fica atrás, não tem o que ela fazer”, comentou. “A gente tinha DPS, fazia barão com o Azir, conseguia jogar teamfight, conseguia fazer split push, tinha mixed damage (dano físico e dano mágico) e matava tank.

O maior problema dessa composição, segundo ele, foi que os jogadores não tinham treinado tanto com ela como equipe.

O estilo de jogo da LOUD no Mundial, em relação às composições, mudou após a derrota. “Não é que era um draft ruim, é que funcionava nos treinos e a gente resolveu trazer. Quando isso aconteceu, tivemos alguns problemas que não conseguimos arrumar a tempo, porque a gente não tinha mais treino durante a semana do Mundial, infelizmente.”

LOUD

Ceos, Robô, Tinowns e Brance juntos após o Mundial.
Gabriela Antualpa

Por falar em treinos, o técnico esperava ter tido mais oportunidades de treinar a equipe do que conseguiu. Por mais que os poucos treinos que tiveram deram bons resultados, Von relatou que o time teve que fazer adaptações sozinhos.

“Durante o torneio, durante todos os jogos, todos os times estavam treinando e a gente, por algum motivo, não conseguia treino. Todo mundo que a gente ia conversar já tinha treino marcado, então a gente não conseguiu aprender tanto também.”

No mesmo dia da derrota contra o time taiwanês, a LOUD enfrentou a DFM e conquistou a primeira vitória do campeonato.

Mesmo tendo perdido o primeiro jogo, os players não se abalaram. Von explica que os meninos tiveram acompanhamento psicológico ao longo dos campeonatos, e reforça a importância de tal cuidado. Ele garante que o que faz com que o psicológico deles esteja saudável não é bater um papo com psicólogos 5 minutos antes do jogo, mas sim ser monitorado constantemente ao longo da temporada.

“Não é como se você fosse tirar motivação do nada, e dizer: ‘Pô! Agora eu vou focar’. Não é bem assim: a construção demora um pouco, e eu acho que ela (Nati, psicóloga da LOUD) fez um bom trabalho.”

O time conseguiu fazer, além de conversas individuais, algumas ligações coletivas com psicólogos durante o Mundial.

Logo após a vitória, a LOUD entrentou a Evil Geniuses, time canadense. Com vantagem de 2.5k de ouro, uma kill e uma torre a frente, os brasileiros dominavam o jogo aos 20 minutos. Até que um pause ocorre. Dali a partida sai do controle para a LOUD e o time é derrotado pelos norte-americanos Segundo Von, o jogo era ganhável, e a derrota foi revoltante.

“Depois daquele pause, senti que a gente esqueceu o que tinha que fazer, e os adversários não. Eles reagiram muito bem. Depois fomos ver o replay, porque não fazia sentido a gente ter perdido.”

E ela chegou: a vitória surpreendente para cima do time favorito da chave e invicto até então – a Fnatic.

Contra o time europeu, a equipe brasileira surpreendeu. Brance, quando venceu um 2v2 na bot lane, mostrou o bíceps para as câmeras, com a escrita “Bot Gap”. O termo é usado na comunidade quando um dos jogadores da rota é mostrado como superior aos adversários.

A equipe estava preparada pra vitória. Von descreve que a confiança foi construída quando eles viram que o sonho era possível.

“A gente foi confiante porque, por mais que a gente tenha perdido o jogo da EG, foi por pouco e a gente ganhou da DFM. Isso dava confiança porque mostra que você pode. Além disso, tem os treinos que a gente fez antes do campeonato começar, que também deram bastante confiança.”

Na reta final, enfrentaram a DFM novamente, contra quem perderam de 3×1 na melhor de cinco valendo a classificação. Mesmo que não tenham entrado na fase de grupos, a LOUD fez a melhor campanha brasileira desde que este formato do Mundial foi instaurado: eles tiveram três vitórias, duas a mais do que qualquer outra equipe campeã do CBLOL.

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Resultados e mudanças

Von espera que a campanha de seu time traga um pouco da experiência que tiveram fora do país para o palco do CBLOL. Para ele, não há jogadores ruins em nosso servidor: o que falta para que o nível competitivo eleve é o ambiente de treino.

“Eu acho que se as equipes brasileiras forem lá para fora com a metodologia correta, elas podem ganhar dos outros times. Ninguém é de outro planeta lá, a gente só tem que entender quem faz o quê e tem que dar o nosso melhor.”

Ele também diz que há falta de fé na região, e os próprios torcedores não confiam no potencial de um time brasileiro.

“Eu acho que temos que torcer por um bom campeonato, uma boa competição: mostrar que o representante que chegar lá vai estar mais bem preparado. Temos que torcer para que no futuro vão duas, três equipes. Que o viewership (audiência) do Brasil dobre. Espero que a LOUD puxe um pouco os outros times para para se esforçarem mais também, assim como a gente se esforçou. ”

Sobre a melhora da região como um todo, o head coach campeão respondeu que os jogadores evoluem mais em ambientes de estresse, onde são focados no propósito de vencer.

“Não estou falando de estresse tipo: ‘Errou farm, toma cadeirada’. Não é bem assim. Digo que, quando o resultado realmente importa, a dedicação que eles levam é muito diferente.”

Ele também afirma que estimular competições com regiões próximas à brasileira, como a América Latina ou América do Norte, dão mais experiência para que os jogadores saibam como reagir em certas situações que não enfrentariam no próprio país.

Ao falar do time campeão, ele se emociona ao falar sobre o relacionamento que criou com Tinowns, Robô, Brance, Croc e Ceos individualmente.

“Eu acho que cada um ali me ensinou bastante. De modo geral, eu sinto que esse grupo conseguiu me ensinar muito a lidar com algumas situações que eu não tinha passado ainda. Na minha carreira, eu nunca tive um grupo como esse e nunca tive que trabalhar da forma como eu trabalho hoje, porque o que eu faço hoje não é o que eu fazia nos outros times. Eu sou grato a esse time porque, com esses jogadores, eu consegui aprender bastante a nível pessoal e a nível de jogo, como profissional. Espero também ter ajudado em muitas coisas.”

O Worlds 2022 terá sua final sediada nos Estados Unidos no dia 5 de novembro com o duelo de T1 contra DRX, ambas da Coréia do Sul. O combate, em modelo Md5, será transmitido nos cinemas brasileiros.

Editado por Nathalia Jesus e Pedro Moreira

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