F4 Brasil: em seu segundo ano, campeonato promete revelar novos talentos - Revista Esquinas

F4 Brasil: em seu segundo ano, campeonato promete revelar novos talentos

Por Bárbara Maiato e Julia Fratti : julho 19, 2023

Luan Lopes durante o Treino Livre de Interlagos/Foto: Julia Fratti

Em seu segundo ano de competição, a Fórmula 4 Brasil promete desenvolver pilotos para correr fora do país, nas Fórmulas 1 e Indy

A Fórmula 4 Brasil teve sua estreia no automobilismo brasileiro ano passado, em 2022, e esse ano realiza sua segunda temporada. Com o intuito de formar jovens pilotos para correr fora do país, ela é uma categoria de base brasileira sendo um intermédio entre o kart e os carros de fórmula. No seu primeiro ano, ela contou com 18 pilotos e, dentre eles, seis estão correndo em categorias maiores fora, do Brasil. 

“Eu acho que a F4 fez o trabalho dela. Tivemos quase metade do grid do ano passado indo para fora, os nossos pilotos estão espalhados pela Europa e pelos Estados Unidos, portanto o propósito de exportar pilotos foi realizado”, aponta Pedro Clerot, campeão da F4 Brasil em 2022.

Para os pilotos, competir fora do país proporciona a experiência de correr nas maiores e mais importantes pistas dentro das categorias do automobilismo. “Estar em circuitos europeus é muito bom, dá uma sensação incrível estar lá. Tivemos o circuito “SPA”, ocasião em que eu ganhei as duas corridas e fui pole na chuva, foi muito especial para mim”, conta Clerot sobre correr fora do Brasil. 

O campeonato é certificado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), contribuindo com até 12 pontos na “Superlicença” – documento obrigatório para correr na Fórmula 1 – o que facilita o acesso para a categoria, já que para ser piloto da F1 são necessários 40 pontos no mínimo. O formato da FIA F4 Brasil é semelhante às fórmulas 4 que acontecem na Europa, sendo uma vantagem para os atletas quando ingressam no automobilismo europeu. Além disso, os carros da competição seguem todos o mesmo set-up, com o intuito de deixar a categoria mais competitiva.

As regras da F4

A F4 ainda é uma categoria nova dentro do cenário automobilístico mundial, a competição estreou em 2014, com o Campeonato Italiano da Fórmula 4.  Por conta disso, os pilotos que passaram por essa categoria de base estão em ascensão e alguns inclusive já chegaram na Fórmula 1, como é o caso de Lando Norris, atual piloto da McLaren e de George Russel, piloto da Mercedes.  

A competição possui o mesmo formato das europeias, ou seja, ela conta com três corridas a cada final de semana, sendo que a corridas um e três seguem os mesmos valores de pontuação, iguais aos da Fórmula 1, enquanto a corrida dois gera menos pontos.

O fim de semana de corridas inicia na sexta-feira com os treinos livres, de quarenta minutos cada. Eles servem para que os pilotos possam testar os carros e conhecer a pista. Após os treinos livres é feita uma qualificação de 20 minutos, momento em que todos os pilotos vão para a pista tentar fazer o seu melhor tempo, para assim definir a posição de largada das corridas um e três.

Os tempos são analisados a partir das duas melhores voltas de cada piloto. Para a primeira corrida, quem conseguir o menor tempo da segunda melhor volta de todos os pilotos pega a pole position. Já para a terceira corrida, o grid é composto pelos melhores tempos da melhor volta de cada piloto, assim, quem tem o melhor tempo pega a pole position

Para a corrida dois, o piloto que larga na primeira posição não é o que fez o melhor tempo durante a qualificação, mas sim quem terminou em oitavo na primeira corrida. O grid é formado a partir da inversão dos oito primeiros colocados da corrida um, ou seja, o piloto que terminou em oitavo, larga em primeiro, o sétimo larga em segundo e assim por diante. Já os que estão da nona à última colocação, largam da mesma posição em que terminaram a corrida um.

Fórmula 4: a importância da categoria para os pilotos

Além do campeonato permitir que os pilotos corram no formato europeu, os monopostos da Fórmula 4 Brasil foram feitos com os mesmos equipamentos das outras categorias de outros países para facilitar a adaptação de quem acaba migrando para as fórmulas no exterior.

“Com a fórmula 4 estamos falando de uma denominação FIA, regras da FIA, como é um motor homologado, o piloto vai chegar lá fora e encontrar um igual. Por exemplo, o Clerot, que foi correr na Espanha, têm lá o mesmo chassi e o mesmo pneu. O papel da Fórmula 4 é trazer para cá uma equidade em relação ao que tem lá fora”, explica Alexander Grünwald, comentarista da F4 Brasil. 

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Carros da Fórmula 4 Brasil, em Interlagos.
Foto: Julia Fratti

Nos últimos anos, o Brasil esteve fora do radar dos principais campeonatos de automobilismo mundial. O último piloto titular brasileiro presente no grid da Fórmula 1 foi Felipe Massa, em 2017, que atualmente corre na Stock Car. Essa ausência de categorias no país acaba impactando os jovens que sonham em correr no exterior, porém, não possuem a experiência requerida por diversas equipes, que no final acabam optando por pilotos que já passaram por outra competição após o kart.

“O Brasil sempre exportou muitos pilotos para fora, mas em dado momento isso parou porque não formava mais ninguém aqui, nós perdemos a cultura de formar pilotos de monoposto no Brasil, essa demanda foi reprimida por 10 anos”, destaca o comentarista.

A opção de ter uma base no próprio país também acaba sendo um aspecto atrativo para os pilotos e suas famílias, pois os custos são menores do que na Europa. No kart europeu a taxa de inscrição dos pilotos é de aproximadamente 300 mil euros, cerca de 1,5 milhões de reais. No Brasil, a taxa de inscrição para a F4 é de 600 mil reais. Além disso, em solo brasileiro, os pilotos têm o apoio familiar por perto e, como a maioria ainda se encontra na idade escolar, conseguem conciliar melhor os estudos.

“Como é uma categoria de base e o nosso primeiro ano dentro do automobilismo, estar no nosso país, perto da família, podendo conciliar os estudos, é muito mais tranquilo.” explica o piloto Luan Lopes, da TMG Racing

Diversos pilotos que passaram pelo primeiro ano da Fórmula 4 Brasil já estão correndo em outras categorias no exterior:

– Pedro Clerot, primeiro campeão da Fórmula 4 Brasil com sete vitórias, que atualmente está correndo na F4 Espanhola;

– Lucas Staico, vice-campeão da categoria brasileira com três vitórias, disputa a GB3, categoria de formação de pilotos na Inglaterra;

– Fefo Barrichello, também na F4 Espanhola, mas voltou para a F4 Brasil na segunda etapa do campeonato;

– Aurélia Nobels, única mulher no grid da F4 Brasil no primeiro ano da categoria, agora na F4 Italiana.

“Eu acho que é muito importante ter esse primeiro passo aqui no Brasil, pra gente chegar mais preparado na Europa e não chegar tão defasado.” comenta Fefo Barrichello, piloto da Cavaleiro Sports na segunda etapa da F4 Brasil.

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As promessas femininas

Giovanna Amatti foi a última mulher a correr na Fórmula 1, em 1992. Desde então, nenhuma outra mulher correu na maior categoria do automobilismo mundial. A falta de mulheres nos carros de monoposto ainda é grande, não só no Brasil. Apesar das dificuldades, com o passar do tempo, mais meninas vêm ganhando espaço dentro do esporte motor. 

Aurélia Nobels foi a única competidora da primeira temporada da Fórmula 4 Brasil. Em 2022, ela foi a vencedora da seletiva do FIA Girls on Track- Rising Stars em parceria com a Ferrari Driver Academy, programa realizado para impulsionar a carreira das jovens pilotos. 

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Rafaela Ferreira durante qualificação na 2a etapa da BRB F4 Brasil, em Interlagos.
Foto: Julia Fratti 

Em 2023, duas mulheres competiram na categoria; Cecília Rabelo, que corre pela Cavaleiro Sports e Rafaela Ferreira, da TMG Racing. Ambas vieram do kart, como grande parte dos atletas.

Rafaela foi a primeira mulher a conquistar o pole position na Copa Brasil de Kart, brigando entre os cinco primeiros colocados durante o Campeonato Brasileiro de Kart.

“Minha expectativa para a temporada é muito mais alta, não quero ser mais uma que vai ficar lá atrás, quero ser uma menina que vai pra frente, que vai buscar um pódio”, comenta Rafaela Ferreira.

Existem diversas garotas talentosas do kart que ainda não tiveram a chance de mostrar seu talento em outras categorias. Com as categorias de base, como a F4 Brasil, mais meninas conseguem se destacar e crescer no esporte, com as mesmas oportunidades que os garotos possuem.

A Fórmula 4 vem cumprindo seu papel de exportar talentos para o exterior, com a visibilidade que a categoria proporciona aos pilotos, as equipes dos Estados Unidos e Europa observam os jovens que correm no Brasil para contratá-los em seus respectivos times. O campeonato brasileiro é importante para dar continuidade na história que o país possui dentro do automobilismo mundial.

Editado por Mariana Ribeiro

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