Interlagos: 85 anos de velocidade, cultura e memória em um único circuito - Revista Esquinas

Interlagos: 85 anos de velocidade, cultura e memória em um único circuito

Por Ana Carolina Malheiro e Julia Delaosa : junho 16, 2025

Interlagos se tornou um ícone mundial do automobilismo, sendo palco de momentos históricos e inesquecíveis. Foto: randomwinner/Pixabay

O Autódromo José Carlos Pace tem um legado marcado por corridas, shows e histórias que moldaram o imaginário esportivo e cultural do Brasil

Inaugurado em 12 de maio de 1940, o Autódromo de Interlagos, oficialmente chamado Autódromo José Carlos Pace, se tornou um dos circuitos mais emblemáticos da história do automobilismo. O nome homenageia o piloto brasileiro que conquistou sua única vitória na Fórmula 1 no Grande Prêmio do Brasil de 1975, justamente nesse traçado, que é palco de grandes disputas e de momentos marcantes da categoria.

Interlagos se tornou um ícone mundial do automobilismo, sendo palco de momentos históricos e inesquecíveis vividos por lendas como Ayrton Senna, que é celebrado com diversas homenagens no local — desde obras de arte até tributos durante o GP de São Paulo. A relação dos brasileiros com Senna remete diretamente a Interlagos.

Como conta Pietra Carvalho, jornalista e criadora de conteúdo de automobilismo:

“Minha primeira memória é, na verdade, a lembrança de um documentário do Ayrton Senna que assisti quando criança. O momento que me marcou mais foi a 1ª vitória dele no circuito, com apenas uma marcha, no GP do Brasil de 1991. Foram cenas que me fizeram criar uma conexão com Interlagos anos antes de eu ter essa chance.”

Esse carinho se reflete no afeto do público com o local — o autódromo se tornou sinônimo de Senna e palco de momentos históricos de sua aclamada carreira. Para muitos, visitar o circuito é quase um encontro com a memória do ídolo, até mesmo para aqueles que não eram nascidos na época.

A importância de Senna para Interlagos

A relação dos brasileiros com Ayrton Senna transcende o esporte. O piloto é considerado um ídolo nacional até os dias de hoje. Ele representou, além de vitórias nas pistas, o simbolismo de esperança e de orgulho em um país que, por muitas vezes, foi marcado por dificuldades. Seu jeito único e determinado de pilotar, aliado ao carisma, criou uma conexão emocional com o povo brasileiro, que o acompanhava a todo momento — inclusive nas madrugadas de competição, com o “coração na mão”.

Essa admiração por Ayrton move até desejos pessoais, como conta Rodrigo França, jornalista e atual assessor da Fórmula 1, que escolheu essa profissão depois de assistir a uma corrida de Senna em Interlagos:

“[De grandes nomes que remetem a Interlagos] Quem vem à mente é o Emerson Fittipaldi, que foi o pioneiro, e o Ayrton Senna, que, para mim, pessoalmente, foi a primeira vez que vi uma corrida de Fórmula 1, em 1990. Foi incrível, tenho uma memória muito vívida do momento e, a partir dali, decidi que queria ser jornalista especializado em automobilismo.”

E ele não é o único. O jornalista, apresentador, comentarista e piloto da Fórmula Truck, Felipe Giaffone, também relata lembranças de quando ainda era criança e assistia às competições:

“Para mim, vem muito o Senna, principalmente da época em que eu era criança. ‘Moleque’, assistindo ele, e junto com meu pai íamos muito para Interlagos. Desde criança, eu acompanhava tudo, foi onde eu andei de kart pela primeira vez.”

As outras categorias do Autódromo

Embora o traçado paulista seja mais conhecido pela Fórmula 1, ele segue vibrante o ano todo, recebendo categorias distintas do automobilismo e eventos culturais gradualmente. Giaffone comenta que:
“Tem um automobilismo muito forte lá, que gira em torno de Interlagos e é uma das poucas pistas do Brasil que, mesmo sem a Fórmula 1, ela seria grande o suficiente. Não só pelas corridas, mas também pelos shows. Virou um centro de entretenimento muito interessante.”

O circuito é de extrema importância para o cenário brasileiro no automobilismo. O autódromo foi construído para atender às demandas de São Paulo por uma pista de corrida segura e profissional, devido aos inúmeros acidentes que tomavam conta das ruas da capital paulista.

A pista se tornou um grande centro de treinamentos para pilotos de todas as categorias, com curvas diversas e muitos espaços para ultrapassagens, como afirma França:
“Em uma época que não tinha simulador, não tinha referência nenhuma, Interlagos foi fundamental para o sucesso do Brasil no automobilismo daqui e também para os títulos mundiais.”

Atualmente, o autódromo recebe ao todo cerca de oito categorias de competição automobilística: Stock Car Pro Series, NASCAR Brazil Series, Grande Prêmio de São Paulo da Fórmula 1, Eventos de Endurance, Copa Truck, Copa Hyundai HB20, Campeonato Paulista de Automobilismo e Porsche Cup.

“Além da Fórmula 1, da Stock Car e da Truck, os principais eventos de automobilismo são em Interlagos. Uma que chama muita atenção sempre foram as Mil Milhas. Meu pai ganhou cinco delas lá atrás. Também tenho uma lembrança muito bacana da época antiga das Mil Milhas”, diz Giaffone.

No mesmo complexo, o Kartódromo de Interlagos recebe as principais competições de kart do país e é onde muitos pilotos brasileiros começam a carreira, como o próprio Ayrton Senna.
“Todas as categorias fazem de Interlagos seu principal templo. O circuito é muito especial — e para o kart também. Foi onde o Senna aprendeu a pilotar de forma profissional e também revelou grandes talentos para o Brasil.”, lembra  França.

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Experiências pessoais com Interlagos

A primeira vez que a influenciadora Pietra Carvalho assistiu a uma corrida em Interlagos foi no Grande Prêmio de 2018, a convite de um amigo, poucas horas antes de os portões fecharem. Ela lembra que foi uma das maiores correrias da vida — teve medo de chegar ao portão e dar de cara com a porta, como uma “atrasada do ENEM”. Mas deu tudo certo, e ela conseguiu acompanhar o classificatório de sábado. Ver os carros pessoalmente pela primeira vez, ter a real dimensão do tamanho, da velocidade e dos sons foi, segundo ela, uma experiência muito especial.

Já o jornalista Rodrigo França teve uma experiência diferente como espectador, ainda na década de 1990. Ele destaca os anos de 1990 a 1994 como muito marcantes — uma época em que ainda não era jornalista e foi ao autódromo em três ocasiões. França presenciou vitórias e derrotas de Ayrton Senna, memórias que, segundo ele, o acompanham até hoje e o ajudaram a moldar a pessoa que é. Foi nesse período que nasceu sua paixão intensa pela Fórmula 1.

Felipe Giaffone, piloto e comentarista, viveu muitas conquistas nas pistas de Interlagos, mas considera que o momento mais marcante foi em 1994, quando se tornou campeão brasileiro da Fórmula Chevrolet — seu primeiro título como piloto. Foi ali que ele sentiu, pela primeira vez, que realmente poderia construir uma carreira no automobilismo.

O impacto cultural

Além das corridas, o Autódromo se transformou em um dos mais famosos centros culturais do estado de São Paulo, com vibrantes festivais que ocorrem anualmente e de grande porte na música, como o The Town e o Lollapalooza, que atraem milhares de pessoas de todo o país e ajudam a reforçar a importância do espaço como patrimônio esportivo e cultural da cidade.

A presença de shows em Interlagos representa uma ferramenta de democratização e disseminação da cultura, já que amplia o acesso da população ao entretenimento. Isso contribui para descentralizar a produção cultural da cidade, promovendo encontros entre diferentes públicos e fortalecendo o papel do Autódromo de Interlagos como um importante campo cultural em São Paulo.

Editado por Enzo Cipriano

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