Nos últimos anos o esporte se tornou um espaço onde atletas de muito destaque se posicionam a favor de uma causa social
Lebron James, Marta e Lewis Hamilton. Todos são nomes que, além de usarem o esporte para brilhar e conquistar títulos, usam a posição de privilégio para dar voz àqueles que não são ouvidos.
Os esportes nada mais são que um reflexo da sociedade na qual estão inseridos e quando questões sociais são levadas à tona pelo público, ou pelos atletas, o esporte reverbera. “Ele sempre se misturou com a política, é impossível separar uma coisa da outra”, aponta o jornalista esportivo Breiller Pires.
Para o professor e jornalista Celso Unzelte, o esporte deve ser mais um meio do que um fim. “Ele abre os olhos das pessoas, as atrai para as questões sociais. Tirando isso dele, você limita sua capacidade de transformação”, diz.
Racismo, homofobia e machismo são algumas das questões não resolvidas no âmbito esportivo e social. Preconceitos esses que, no Brasil, sempre fizeram parte do cotidiano. “O futebol tem suas peculiaridades e é mais tolerante ao racismo, machismo e a homofobia justamente por ter uma estrutura de séculos monopolizada por homens de classe alta que estão no poder e não permitem a democratização dessas posições”, afirma Breiller.
Sobre o machismo, há casos de jogadores de futebol contratados após agressões, estupros e feminicídios. Um exemplo é o goleiro Bruno, ex-Flamengo, condenado pelo envolvimento na morte de Eliza Samúdio em 2010. Ele foi contratado pelos times Boa Esporte (MG), Poços de Caldas (MG) e Rio Branco (AC) após sair da cadeia.
Para Breiller isso mostra que há um longo caminho a ser percorrido. “A estrutura do futebol ainda é dominada por homens, é muito machista, e por isso jogadores com esse histórico sempre tem portas abertas e não fechadas como se espera de uma sociedade que recrimina a violência contra a mulher”, comenta.
O caminho para levantar estas discussões, segundo Celso, está com os atletas, uma vez que as federações e presidências de times geralmente estão envolvidas com o poder federal. “Há uma evolução, mas é uma transformação insuficiente para nossa sociedade, que por sua vez ainda é conservadora”, diz o jornalista.
A partir do momento em que pessoas que sofrem com esses preconceitos se encontram no mundo dos esportes, elas se tornam visíveis. Assim, conseguem o palanque, as câmeras e os microfones para gerar debates e iluminar esses problemas sociais.
Logo, os atletas que se manifestam a respeito dessas questões tornam-se a voz desses movimentos. Atualmente, Lebron James é um ícone dentro e fora das quadras de basquete na luta contra o racismo, assim como Marta é um símbolo mundial de resistência e de glória para milhões de mulheres com o movimento “#Respeitaasmina”. Outro exemplo é Lewis Hamilton, heptacampeão da Fórmula 1, negro e defensor público do movimento “Black Lives Matter”.
Ainda que o esporte reproduza comportamentos nocivos da sociedade, ele também é uma forte arma para combatê-los. Além da possibilidade de usar o prestígio que ele dá para influenciar no alto escalão, como fazem Lebron, Hamilton e tantos outros, mudanças que ocorrem nele são mais bem aceitas na nossa sociedade.
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