Um dia com Bruno Santos, fotojornalista da Folha de S.Paulo - Revista Esquinas

Um dia com Bruno Santos, fotojornalista da Folha de S.Paulo

Por Davi Alves e Tiffany Maria : setembro 2, 2023

“Polêmico ou não, eu vou fazer uma leitura o mais fiel possível do que está na minha frente.” Foto: Tiffany Maria

Entre multidões, ameaça de chuva e muita farofa no ar, Bruno Santos saca sua câmera e registra a primeira Marcha para Exú em São Paulo

No dia 13 de agosto, ao meio-dia, encontraríamos o fotojornalista Bruno Santos em frente ao MASP. Entretanto, devido a um atraso nosso de 15 minutos, só o localizamos depois, já no meio da multidão vermelha e preta que ocupava a avenida Paulista. Correspondente da Folha de S.Paulo, ele fotografava a Marcha para Exú.

Por ser uma manifestação contrária ao racismo religioso, tema em evidência atualmente no Brasil, indagamos ao fotojornalista como ele se sentia cobrindo pautas consideradas polêmicas. “Para mim, é mais um dia de trabalho. Polêmico ou não, eu vou fazer uma leitura o mais fiel possível do que está na minha frente. Às vezes rola uma cobrança. Mandam uma carta para o jornal, acham Instagram, mas nada fora da conta, faz parte do trabalho”, disse.  Ainda, acrescentou que independentemente do que se faz, é preciso levar tudo com seriedade.

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Foto: Tiffany Maria

A seriedade a que Bruno se refere foi exemplificada na sua inegável entrega ao cobrir o movimento. Durante um ritual, ele subiu e sentou-se na ponta do trio elétrico para conseguir fotografar a ação de cima. Logo em seguida, desceu e passou correndo pelas pessoas para captar o momento de frente. Mesmo após ficar coberto de farofa, devido a uma cusparada da prática que ocorria, seguiu fotografando. Enquanto ele estava no meio do ato a fim de capturar os melhores ângulos, frequentadores levantavam seus celulares para conquistar um mínimo registro. Diante desse cenário, o questionamos quanto à credibilidade de seu ofício.

“Eu acho que o advento da câmera fotográfica no celular não afetou o trabalho dos fotógrafos, nem a credibilidade. O fotógrafo, quando vai para uma pauta, é enviado porque precisa-se de um trabalho de crédito. E os veículos sérios contratam profissionais que oferecem essa confiança, (…) de não se preocupar se ele vai ser tendencioso nas pautas, mentir de alguma forma ou alterar a foto no computador. Nos principais veículos, sérios, a gente não mexe em Photoshop. A gente manda a foto como ela é”.

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O envio das fotos, como Bruno nos mostrou, é feito na hora. A câmera fica conectada, por meio do Bluetooth, a um aplicativo que as processa no celular. “Quanto mais rápido, melhor. Precisamos furar a concorrência e estar sempre antes deles. Esse é o lema do jornalismo”, disse enquanto avisava a pessoas na redação, por WhatsApp, para que fossem selecionando as fotos que seriam postadas. Além de seu celular, Bruno carregava duas câmeras e uma lente angular. Todo o equipamento era dele, mas a Folha também fornece, se necessário, segundo informou. Afinal, como nos contou, cada trabalho tem sua especificidade e demanda de equipamento.

“Cada pauta tem seu perfil. (…) Se é um retrato, eu vou levar flash, tripé de luz, às vezes um fundo; recursos para poder fazer um retrato. Se é uma cobertura presidencial, eu já sei que vou ficar numa distância longa do presidente, então vou ter que levar uma 400mm, duas câmeras… Tudo depende do que a gente vai fazer.”

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“Mesmo após ficar coberto de farofa, devido a uma cusparada da prática que ocorria, seguiu fotografando.”
Foto: Davi Alves

Diante de tantas opções de pauta, ficamos curiosos quanto a preferência de Bruno, se ele optava pelas fotos “espontâneas” ou pelas “programadas”. Como nos explicou, na realidade, são duas mãos: sugestão feita pelo próprio fotógrafo, que “vende” para o jornal, ou as “recebidas”, na qual o jornal escolhe o fotógrafo para a pauta. “Eu gosto de fazer um pouquinho de cada coisa, de ver as coisas acontecerem, não tenho essa predefinição. Acho que se eu fizesse uma coisa específica, ficaria entediado”

Não ter uma rotina é algo que não só agrada, como também estimula a mente de Bruno, preferência que se encaixa com o que a Folha exige dele: “Eu trabalho com matérias que eles acham que tem meu perfil. E não só isso, mas também na hora que o bicho pega, a gente acaba resolvendo o problema, né?”. Bruno já foi freelancer, mas hoje é contratado da Folha, trabalhando exclusivamente para o veículo.

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Bruno Santos, fotógrafo da Folha de São Paulo, na Marcha para Exu.
Foto: Davi Alves

Já estabelecido como fotógrafo, não imaginamos que Bruno começou sua jornada em Rádio e TV. Porém, devido à sua paixão por fotografia, mudou de curso. “Cursei Jornalismo num tempo de ‘vacas magras’ da fotografia. Eu acabei trabalhando no jornal DCI – Diário Comércio e Indústria. Trabalhei como estagiário lá, fui repórter, subeditor. Não me adaptei e não gostei”. Apesar da não adaptação, Bruno pediu demissão somente quatro anos depois. Então decidiu morar no exterior, onde aprendeu a falar inglês. “Voltei focado na minha carreira de fotógrafo. Comecei a fazer acontecer, mais voltado para o jornalismo, que era, que é, o que eu gostava, que eu gosto de fazer. E assim aconteceu”.

A carreira de Bruno Santos conta com a cobertura de grandes eventos. Acompanhar um dia de trabalho dele é uma aula sobre fotojornalismo. “O grande lance é isso. É passar a verdade através da foto. Fotografar e enviar ali um recorte da realidade.”

Editado por Daniela Nabhan

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