A esquerda brasileira e o debate sobre a unificação - Revista Esquinas

A esquerda brasileira e o debate sobre a unificação

Por Giovanna Bicalho : outubro 12, 2018

Bandeiras dos movimentos sociais ocuparam o ato no Pacaembu. Foto: Anna Casiraghi/Revista Esquinas

Debate da unificação da esquerda retorna com urgência acentuada pela ascensão política da extrema-direita; conheça o histórico das dissidências

De 2002 até meados de 2016, o Brasil teve um governo de esquerda, que implantou políticas sociais progressistas responsáveis por ajudar a alavancar a economia do País. No entanto, em 2014, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff uma crise econômica de proporções até então inimagináveis despontava no Brasil, juntamente com uma crise política. Somadas elas culminaram no impeachment da então líder do executivo.

Desde então o cenário político brasileiro tem sido uma incógnita, onde todos os lados estão divididos na procura de uma solução para um problema que parece não haver respostas. Perante esse cenário, surgem questionamentos como, onde estaria a força da esquerda para enfrentar a oposição, principalmente de partidos da extrema direita.

Hoje muitos enxergam a esquerda dividida e sem forças para concorrer ao processo eleitoral. No entanto, o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), Aldo Fornazieri, discorda de tal ponto de vista. “Historicamente a esquerda está dividida, é uma tradição, são raros os países que conseguem estabelecer uma unidade”, afirma.

Nas eleições de 2018, sete dos 13 presidenciáveis se enquadram no espectro político da esquerda ou centro-esquerda.  A vantagem dessa pluralização é que todos os espetros da esquerda são representados e o eleitor pode encontrar um candidato que compactue com os seus ideais. Porém, um discurso que não abranja todos os espectros torna o caminho até a presidência um pouco mais árduo, já que não se tem um líder que possa representar a todos.

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“O ideal é o pluripartidarismo, não a feira de partidos que o Brasil oferece, onde a maioria das siglas são apenas partidos de aluguel, sem identidade e sem programas definidos. Creio que 10 a 12 partidos seriam suficientes, três ou quatro de esquerda, outros de direita e centro”, ressalta o professor de filosofia Paulo Roberto Yonamine.

Para a militante de esquerda filiada ao Partido dos Trabalhadores, Maria do Amparo, essa divisão que ocorre na esquerda é boa. “Todos nós temos o direito de pensar diferente, não acho que é maléfico”, declara. O professor Yonamine vai além e pensa ser importante existir um partido de esquerda radical e outros dois ou três de centro-esquerda.

Para essas eleições, Aldo Fornazieri acredita que não é preciso uma união total da esquerda, mas que a mesma poderia ter uma harmonia maior. Ele exemplifica seu pensamento com os candidatos presidenciáveis, cogitando que Ciro Gomes do PDT poderia estar associado ao c, tendo o campo da centro-esquerda um candidato único por exemplo.  Amparo se diz a favor de uma única candidatura, mas lembra de que o problema são os egos. “Os projetos de esquerda são os mesmos, é a justiça social, é a distribuição de renda, é a reforma agrária, casa para todos, só que os egos vêm primeiro”, comenta a militante em defesa da luta por um ideal em comum, deixando de lado as imagens pessoais de cada candidato.

A crise política e econômica que o país vem enfrentando acabou contribuindo para que essa pluralidade surgisse. Todas as vozes que hoje ecoam, seja de qual lado estiverem, são a resposta de pessoas que estão em busca de uma solução para os problemas que enfrentamos. Em um país com tanta diversidade nada mais normal que se tenha uma diversidade também na política.