Com discursos que se contrapõem aos valores democráticos, política direitista apela também para o anti-institucional
Capitão Derrite, que já foi investigado por 16 homicídios; Adrilles Jorge, que fez uma saudação nazista durante transmissão ao vivo; Nise Yamaguchi, defensora do uso de tratamentos sem comprovação científica durante a pandemia; e Alexandre Correa, ex-marido de Ana Hickmann, acusado de violência doméstica, hoje, compõem a política brasileira.
Entre eles, há algo em comum. Todos foram candidatos a cargos no legislativo pela direita nos últimos dois anos.
Candidaturas como essas, normalmente de pessoas com pouco ou nenhum conhecimento sobre política, como enfatiza a cientista política Roberta Rosa, se destacam pelo uso de discursos que se contrapõem, muitas vezes, aos valores democráticos, mas que apelam também para o anti-institucional.
Uma vez que acreditam que as instituições tradicionais não funcionam, essas figuras políticas passam a propagar discursos radicais
“Esses candidatos representam grande parcela da sociedade brasileira que, decepcionadas com a política e sem letramento, acabam escolhendo se representar pelos outsiders, ou seja, aqueles que são de fora da política e só conseguem visibilidade através de polêmicas”, ressalta Rosa.
Alguns fatores, como a crescente polarização política, contribuíram com esse fenômeno. Em 2023, cerca de 78% dos brasileiros disseram que o país se tornou mais polarizado politicamente, segundo pesquisa da organização Edelman Trust Barometer.
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Com essa divisão política bipartidária, os partidos passaram a se engajar no radicalismo com o intuito de ganhar mais destaque.
Ainda nesse cenário, ao se aproveitar do panorama político nacional polarizado e impulsionado pela cultura de ‘cortes’- na qual viralizam vídeos curtos e polêmicos dos candidatos-, os partidos passaram a fortalecer extremismos, como explica o cientista social Renan Nakamura.
Os recentes debates que marcaram a campanha política eleitoral das eleições municipais de 2024, são um exemplo que mostra a sociedade contemporânea marcada pela ênfase no polêmico, aliada a velocidade de propagação das redes sociais, ao invés de trazer propostas políticas, afirma Nakamura.
“A ideia é estimular pílulas de frases impactantes e não de apresentar uma argumentação propositiva longa. O eleitor é incentivado a votar de forma passional, optando por candidatos que ofereçam uma resistência anti-sistema, mesmo que seja uma resistência nebulosa”, ressalta o cientista social.
Embora seja um posicionamento que a direita vem adotando, Nakamura esclarece que outras ideologias políticas também podem acatar essa estratégia de utilizar discursos anti-sistema, polêmicos e radicais.
“A esquerda atual, incapaz de se reinventar e de convencer eleitoralmente a classe que pretende representar (os trabalhadores), pode muito bem tornar-se vítima dessa forma radicalizada e anti-institucional de se fazer política para sobreviver. Mas aí já seria especulação”, fala Nakamura.