Último embate antes do segundo turno entre os candidatos Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas foi marcado por acusações e desinformação
Nesta quinta-feira (27), a Rede Globo e suas afiliadas promoveram os últimos debates entre os candidatos a governador de 9 estados. Após Tarcísio não comparecer ao debate promovido pelo pool de veículos formado por CNN, Terra, Nova Brasil FM, Veja, Estadão e SBT, os dois candidatos voltaram a se encontrar na última noite em um debate de tom mais elevado se comparado com o enfrentamento anterior, promovido pela Band no dia 10 de outubro.
Em modelo de debate mais flexível, semelhante ao visto na Bandeirantes, os dois candidatos foram colocados frente a frente em quatro blocos. No primeiro e no terceiro bloco, tiveram de administrar um banco de tempo de 15 minutos para cada, enquanto no segundo e no quarto responderam perguntas temáticas alternadamente.
Combate acirrado debate
No primeiro debate do segundo turno, Haddad e Tarcísio buscaram se ater às pautas locais do estado de São Paulo e isolar as menções aos candidatos à presidência. O candidato do PT abriu o debate seguindo essa linha, apresentando suas principais propostas ao eleitor. Dentre elas, o corte do imposto sobre a carne, o reajuste do salário-mínimo paulista e construção de hospitais-dia no interior.
Contudo, o que se viu no debate desta quinta foi um conflito tenso, marcado por denúncias e, sobretudo, pela nacionalização da discussão. Fernando Haddad buscou apontar a má gestão de Tarcísio no comando do Ministério da Infraestrutura, enfatizando o mal planejamento do transporte de oxigênio para o Amazonas. O petista ainda tocou na questão do desmantelamento das políticas públicas do governo petista, como o Minha casa, minha vida e Bolsa Família, e no fato de Tarcísio ser um outsider que não conhece o estado de São Paulo.
“Está num ‘aparthotel’. Ganhou, fica. Não ganhou, vai embora”, disse Fernando Haddad.
Do outro lado, Tarcísio de Freitas buscou atacar nas feridas que mais revoltam o eleitor antipetista e que rejeita a gestão do ex-prefeito em São Paulo. O candidato do Republicanos associou Haddad ao MST e o governo Lula aos regimes de Cuba e da Venezuela. Além de colocar o eleitorado contra a “ameaça comunista”, Tarcísio buscou apontar os erros da gestão Haddad – segundo o candidato de Bolsonaro, “o pior prefeito da história de São Paulo” -, que teria deixado um rombo de R$ 7 bilhões no caixa da prefeitura.
Em uma checagem de fatos rápida, entretanto, pode-se conferir que a gestão do petista deixou para o sucessor João Doria R$ 6 bilhões em caixa, fato que o próprio Haddad pediu ao ouvinte para “dar um Google”. Ao questionar o petista sobre medidas para lidar com a Cracolândia, Tarcísio insinuou a existência do “Bolsa crack”, distorcendo o projeto do Programa Braços Abertos – que reduziu o uso do crack em até 70% quando esteve em vigor.
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Guerra por procuração
Ao longo de grande parte do debate, Tarcísio de Freitas buscou defender o governo do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). Para escapar das acusações de Haddad, o candidato tentou justificar o atraso no envio de oxigênio para Manaus e tentou desmentir que o Governo Federal não busca desindexar o salário-mínimo e a aposentadoria da inflação – apesar do plano vazado do ministro Paulo Guedes. Tarcísio também teve de se defender das acusações de Haddad sobre a proposta de privatização da Sabesp, alegando que a medida não seria sinônimo de encarecimento nas contas de água.
Ao apresentar outras propostas, Tarcísio chegou a defender o corte no ICMS da carne e o Bilhete Único Metropolitano. Haddad questionou o rival alegando que o mesmo estaria sendo oportunista em se apropriar de propostas do plano de governo petista invés de ter o próprio planejamento.
Reta final debate
Próximo do final do debate, Fernando Haddad trouxe a questão do tiroteio em Paraisópolis durante campanha de Tarcísio. O petista apontou polêmicas de interferência da campanha do oponente no ocorrido, como o apagamento de filmagem que pode configurar como destruição de evidência e reporte do The Intercept Brasil que aponta que policiais à paisana teriam matado o jovem, que estava desarmado.
Mesmo tendo apontado situações delicadas como esta e tendo aproveitado melhor o tempo de debate que o candidato de Bolsonaro, o PT ainda se vê numa situação delicada na corrida pelo governo de São Paulo.
Ao final do primeiro turno, o resultado visto foi o completo oposto das pesquisas que indicavam vitória folgada do petista. A poucos dias do segundo turno, as pesquisas não se mostram tão favoráveis para Haddad, que empata tecnicamente com Tarcísio na Ipec (46% do republicano contra 43% do petista). Mas, num estado no qual o último candidato à presidente petista que venceu foi Lula, em 2002 – 46% dos contra 28% de José Serra -, o rendimento da campanha e no debate de Fernando Haddad pode indicar que vem aí a tão esperada virada petista?