Refugiados e organizadores de ONGs explicam os maiores desafios dos imigrantes para conseguir emprego e se manter no País em meio à crise sanitária
“Em mais ou menos um ano de pandemia, a gente atendeu mais de 1.600 pessoas de 57 nacionalidades diferentes”, diz Monica Vani Vieira Lopes da Silva, diretora administrativa da ONG PDMIG – África do Coração. As consequências causadas pela covid-19 atingiram diversas áreas da sociedade, inclusive os refugiados, intensificando ainda mais as dificuldades já enfrentadas por eles.
No Brasil, as fronteiras foram fechadas, impossibilitando a entrada de novos imigrantes no País. Mas, além disso, os refugiados que já estavam aqui sofrem com as consequências da pandemia. Como explica Monica, “as demandas eram várias. Eles pediam por emprego, alimento, dinheiro e itens de higiene”.
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Vachini Mayamba Masamuna, refugiado da República Democrática do Congo, que está no País há cinco anos, conta que, depois da adaptação com a língua, encontrar emprego é uma das partes mais difíceis da imigração. “Os nativos te olham com preconceito, acham que os estrangeiros querem roubar o lugar deles”, aponta.
“Quando você chega aqui e fica no abrigo, se não tem emprego, vai pra rua. Quando cheguei, eu ficava na rua passando fome”, afirma uma refugiada da Uganda, que prefere não se identificar. Segundo ela, quando as vagas são encontradas, em sua maioria são cargos de baixa remuneração e distantes das áreas de formação desses estrangeiros: “Quando comecei a conseguir emprego, era só de faxineira e com um salário muito baixo.”
A dificuldade de se inserir no mercado de trabalho e as condições para quem já estava dentro dele só pioraram com a covid-19. Vachini compartilha que “houve um corte de 60% no salário. Fiquei três meses sem trabalhar. Isso foi muito ruim porque preciso pagar o aluguel e tenho família no meu país para ajudar.”
Refugiados e ONGs
As saídas, nesse caso, são poucas. Alguns optaram por iniciar trabalhos autônomos, setor que também está sofrendo com os impactos da pandemia. Em outros casos, os imigrantes recorreram à ajuda de ONGs.
“Nós fomos pegos desprevenidos. Estávamos lançando outros projetos, mas tivemos que parar tudo para ajudar os refugiados na pandemia”, explica Monica. A PDMIG investiu em parcerias e deu encaminhamento a iniciativas que dessem suporte aos imigrantes.
Algumas empresas se interessaram pela causa e providenciaram apoio a esse grupo de pessoas. A JBS, por exemplo, doou mil cartões com 100 reais que foram distribuídas para várias famílias. Além disso, a ajuda também foi dada por meio da disponibilização de cestas básicas. A Prefeitura de São Paulo forneceu cerca de 200 kits mensais para a ONG distribuir entre as famílias.
O Diretor da PDMIG, Jean Katumba Mulondayi, comenta que fica feliz de poder ajudar essas pessoas, mas que ainda há um grande problema: “Eles não têm informação e faltam políticas públicas para que saibam dos direitos que têm”. Com isso, muitos refugiados não conseguem o suporte necessário por conta da falta de acesso a esse conhecimento.
“Eles não têm para onde ir, não têm ‘a casa de uma tia’ para ficarem hospedados nos tempos difíceis” completa Monica. Para ela, os refugiados no mundo todo vivem em busca de condições melhores de vida, mas quando se vive em instabilidade, sem informação, suporte e um sentimento de “lar”, tudo isso em meio a uma pandemia, essas circunstâncias tornam a vida ainda mais difícil.