Em entrevista exclusiva à Esquinas, Jilmar Tatto fala sobre seus planos para São Paulo - Revista Esquinas

Em entrevista exclusiva à Esquinas, Jilmar Tatto fala sobre seus planos para São Paulo

Por Giovanna Delegá e Lucas Brito : novembro 5, 2020

Candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, Tatto diz quais são as prioridades da cidade e o que pretende fazer na capital paulista

Com mais de 20 anos de vida pública, o ex-secretário de transportes e abastecimento de São Paulo, Jilmar Tatto, promete ser um sucessor dos projetos populares iniciados pelo último prefeito do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad. Orgulhoso de ter implantado projetos como o que dá almoço e janta nas escolas e as ciclovias na cidade, o candidato petista aposta na economia solidária — um jeito diferente de produzir, comprar e vender o que é preciso para viver, baseado na autogestão, cooperação e solidariedade –,  para reaquecer a maior cidade da América Latina. O candidato também declara suas propostas sobre a revitalização do Centro da cidade, do Sistema Público de Saúde, dos entregadores de aplicativos, e enfatiza a necessidade de ser criativo para resolver problemas. Confira abaixo os detalhes da entrevista exclusiva concedida à ESQUINAS.

 

ESQUINAS O cenário de São Paulo não será favorável para o próximo prefeito por conta da pandemia, principalmente em relação à economia. Como reaquecê-la e gerar empregos na capital paulista?

Eu acredito muito na economia solidária como uma das formas de geração de emprego na cidade de São Paulo a partir dos bairros da cidade. (…) É importante incentivar a criação de cooperativas, por exemplo, para a plantação de hortas comunitárias. E, ao mesmo tempo, promover um debate para que as pessoas possam consumir cada vez mais uma alimentação saudável, a começar pelas escolas, comprando direto do produtor. E, também, criar cooperativas de costureiras e costureiros para a confecção de uniforme escolar, de roupas para toda a rede hospitalar pública e os uniformes da prefeitura. (…) Então, a economia solidária, para mim, gera um monte de empregos e valoriza o comércio local, faz com que as pessoas consumam e comprem no próprio local.

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ESQUINAS Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), existe uma tendência do governo estadual de investir em infraestrutura. Essa também é uma possibilidade para gerar empregos no município?

Sim, tudo isso que eu falei anteriormente tem a ver também com geração de emprego, a questão da criação de cooperativas, mesmo as de reciclagem você pode fazer isso. Com a retomada das zonas paradas, podemos fazer um mega plano de urbanização de favelas, que tem a ver com saneamento também. Também podemos fazer a reorganização fundiária na cidade de São Paulo, com a Prefeitura comprando áreas, terrenos e incentivando a construção em mutirão, tudo isso é fonte de geração de emprego.

 

ESQUINAS Há planos que visem à mudança no financiamento do Sistema Público de Saúde e o conserto de problemas já conhecidos ao longo dos anos e destacados durante a pandemia, como a falta de leitos e equipamentos e a demora no atendimento?

O meu plano é o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). E como se dá isso? Contratando mais profissionais da área da saúde, retomando para a prefeitura aqueles serviços e imóveis que estão terceirizados, fazendo fila única na cidade de São Paulo em relação aos hospitais e aos leitos. Isso não existe hoje. Quem tem dinheiro muitas vezes fura a fila e tem uma fila separada na rede pública e privada.

Além disso, é importante ter um mecanismo de compra e distribuição de remédios para que não falte para quem tem doenças continuadas. São medidas que eu vejo que poderiam melhorar a qualidade da prestação do serviço da cidade de São Paulo. Eu sou daqueles que querem fortalecer o Estado, e aquelas pessoas que criticavam o SUS, espero que, hoje, parem de criticar e parem de privatizar a saúde pública, não só na cidade de São Paulo, mas a partir da cidade de São Paulo, que é isso que eles estão fazendo no período de pandemia. A meu ver, temos que fortalecer o SUS.

 

ESQUINAS Desde 2016, durante a gestão do ex-prefeito Fernando Haddad, também do PT, a Avenida Paulista fecha aos domingos. Existem planos de expansão desse fechamento?

A minha ideia no Centro é a extensão das ciclovias, ampliação do horário da Paulista aos domingos até umas nove da noite, deixar aberta, também, para o pedestre. Eu quero estender a paulista aberta e ir para o centro.

 

ESQUINAS Você considera importante esse processo de revitalização do Centro?

Eu acho, tanto que você aquece a economia aos domingos. É importante fazer atividades de rua na região central, abrir a Paulista, apropriar o território, tanto que não quero fazer isso só na região central. O nosso projeto [Tatto era secretário de transportes quando o fechamento da Paulista foi estabelecido] era fazer em toda cidade, não só na Paulista, pelo menos cada subprefeitura deveria fazer em uma região ou avenida importante. Essa é a maneira de ocupar mesmo o território cada vez mais, isso aumenta a segurança, dá qualidade de vida, aumenta a tolerância. Então é um projeto que eu aposto muito, e vencendo como prefeito vou fazer isso, pode ter certeza.”

 

ESQUINAS Em julho, houve muitos protestos de entregadores de aplicativo pedindo melhores condições de trabalho. O que a prefeitura pode fazer para ajudá-los?

A prefeitura pode fazer um aplicativo para eles, de graça, como eu fiz o aplicativo do táxi e da zona azul. Nós já fizemos uma grande parte das ciclovias, que ajudam eles e diminuem os acidentes. Agora, nós vamos fazer esses aplicativos para que eles possam ter uma renda a mais. Também vou fazer a casa do entregador, um local onde tenha internet, em que eles possam lavar as mãos, fazer sua higiene pessoal, tomar um banho, guardar suas coisas e descansar. Isso eu acho uma coisa importante porque esse ramo está crescendo muito e eles não têm onde ficar. Como eles usam aplicativo, eles não têm um emprego formal com as instituições comerciais. Então, nós vamos primeiro criar espaços para eles e, ao mesmo tempo, eles vão ter a prefeitura como uma aliada das reivindicações deles por melhores condições de trabalho.

 

ESQUINAS Com a difícil situação econômica do Brasil, especificamente de São Paulo, como financiar todos os projetos que o senhor tem em mente?

Com criatividade. Eu fiz a ciclovia da cidade de São Paulo, mais de 400km, com pouco dinheiro. Eu fiz as faixas de ônibus com pouco dinheiro, implantei o almoço e janta nas escolas, reduzindo o contrato do leve leite. As crianças recebiam uma lata por mês, eu troquei a lata pelo sachê e, com isso, reduzi 25% do valor do leve leite.

Então eu vou rever e reduzir contratos. A prefeitura e as finanças estão em melhor situação porque o Haddad renegociou a dívida. Temos novas fontes de arrecadação na cidade de São Paulo, como esses aplicativos de táxi que nós implantamos. Então, temos que buscar novas fontes para além daquelas que existem e com muita criatividade. Quando eu falo em reinventar a maneira de governar também é em relação a isso, temos que ser criativos para fazer essas coisas. E já estou estudando, inclusive, o orçamento e fontes de arrecadação para implantar.