"Governo para todos os paulistas”, diz Tarcísio de Freitas em primeiro discurso como governador eleito - Revista Esquinas

“Governo para todos os paulistas”, diz Tarcísio de Freitas em primeiro discurso como governador eleito

Por Diogo Braga e Pedro Penteado : novembro 2, 2022

Foto: Diogo Braga

Em primeiro discurso como novo governador de SP, Tarcísio reiterou vontade ‘soberana’ das urnas e abriu margem para diálogo com o presidente eleito Lula

Tarcísio de Freitas (Republicanos) teve um longo dia no domingo, 30 de outubro. O ex-ministro de Jair Bolsonaro, que viria a ser eleito o novo governador de São Paulo ao fim do dia, saiu de uma escola no Jardim Apolo, em São José dos Campos, até o Sheraton WTC Hotel, um dos luxuosos prédios espelhados do Brooklin Novo, na capital paulista.  

No local, acompanhou boa parte da apuração dos votos ao lado de familiares, convidados e notórios aliados políticos. Dentre eles, destacam-se o vice da chapa, Felício Ramuth (PSD), Gilberto Kassab (PSD), o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e Vinicius Poit (NOVO), adversário na corrida pelo governo do estado durante o primeiro turno.  

O então candidato votou durante a manhã na escola Carlos Saloni, em São José dos Campos. Por lá, Tarcísio registrou o domicílio eleitoral em nome do imóvel de seu cunhado. Logo depois, tomou rumo à capital paulista, onde permaneceu em seu apartamento no bairro do Morumbi, chegando ao hotel apenas às 18:30. 

Aperitivos 

À vista de um mural feito pelo artista paulistano Eduardo Kobra, estampando rostos de Albert Einstein, Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Madre Teresa de Calcutá e Dalai Lama, era possível notar a primeira concentração dos convidados do novo governador. Vestiam verde e amarelo e camisetas que se assemelhavam a uniformes de futebol com o número 22 nas costas. 

Os jornalistas se concentraram a partir das 16:00 na sala Matisse, no mezanino do hotel, enquanto no quinto andar os convidados do candidato se reuniam para o início da apuração dos votos, às 17:00. 

Entre copos de café, goteiras sobre o púlpito e aperitivos, a discussão eleitoral entre os jornalistas presentes pairava muito mais sobre a corrida acirrada entre os dois candidatos à presidência do que em relação ao pleito estadual. 

As simultâneas e incessantes conferências sobre a parcial dos votos traziam algumas conclusões esperadas, como a vantagem de Tarcísio desde o início da contagem. Por volta das 18 horas e 15 minutos, Tarcísio chega ao hotel em uma van acompanhado de outros cinco veículos.  

Alguns minutos após a chegada do candidato, o instituto Datafolha divulgou projeção que apontava Tarcísio como o novo governador de São Paulo. Enquanto a penumbra crescia no céu e os entusiastas do novo governador comemoravam a vitória iminente, Lula virou para cima de Bolsonaro alguns minutos depois, com 67,76% das urnas apuradas.  

Com isso, duas dúvidas surgiram: qual horário o novo governador iria comparecer para a coletiva, que estava marcada para às 19 horas; e como seria sua reação diante da vitória de Lula.  

Tarcísio, novo governador 

Confirmados os resultados, as preparações para a coletiva começaram. Os fotógrafos testaram as câmeras, com staffs de organização ajudando nos últimos ajustes para as transmissões televisivas e os jornalistas aguardavam a chegada do novo governador. 

Tarcísio chegou para a coletiva em torno das nove horas da noite com um semblante leve, acompanhado por mais de 30 convidados, e logo se apossou do púlpito. O principal questionamento que se instaurou com os resultados oficiais foi sobre o alinhamento do governo do estado em relação à União. 

“Vamos olhar sempre o interesse do estado de São Paulo. Para trazer as políticas públicas para cá, será fundamental o alinhamento e entendimento com o governo federal. A partir do momento que houver uma convocação para conversar, nós estaremos lá e vamos buscar sempre o melhor para São Paulo”, declarou o governador eleito. 

Ainda sobre a cooperação, o novo governador complementa: “agora é olhar para o que é melhor para São Paulo e para o cidadão. Como falei, o governo é para todos, pros 46 milhões de paulistas, vamos buscar o alinhamento e os interesses do Estado junto ao Governo Federal”. 

Outro ponto levantado para Tarcísio tratou a respeito do destino do secretariado do estado de São Paulo, que pode se tornar um reduto bolsonarista com a debandada em Brasília. Ele negou qualquer nome para as secretarias do estado e prometeu pessoas técnicas e qualificadas para esses cargos. 

“Entendo que o resultado das urnas é soberano”, respondeu o novo governador sobre as principais polêmicas que seu candidato à presidência se envolveu durante a campanha.  Com a confirmação da votação, ele disse que, ao conversar com o general Walter Braga Netto, foi informado que “o presidente está tranquilo em Brasília e vai seguir trabalhando até o fim de seu mandato”. 

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Primeiros dias de mandato

Tarcísio também foi perguntado a respeito das medidas durante os 100 primeiros dias de mandato. “Nós temos que cuidar da questão social. Me preocupa a quantidade de pessoas em situação de rua e temos que agir rapidamente para mudar esse quadro. Existem algumas medidas no campo econômico e no tributário para poder impulsionar investimentos, a fim de fazer com que possamos gerar muitos empregos”, declarou. 

Questões polêmicas como o fim da obrigatoriedade da vacinação, a retirada das câmeras dos policiais e a privatização da Sabesp foram levantadas. Em relação às vacinas, Tarcísio demonstrou-se irredutível, afirmando que pretende, sim, acabar com a obrigatoriedade “Confio na consciência e na liberdade das pessoas”, ressaltou Tarcísio. 

Nos temas mais sensíveis, como bodycams e privatização da Sabesp, Tarcísio ressaltou que, apesar de ser a favor das medidas, avaliará ambas as questões com a equipe técnica que cuida dos assuntos da segurança pública. “Não sou dono da verdade”, afirma. 

Ao ser questionado sobre ações para o interior, região que votou majoritariamente nele, o novo governador falou a respeito da sobrecarga dos serviços de saúde em Campinas e a falta de hospital em cidades como Itapetininga. Além disso, comentou sobre o acervo ferroviário do Estado e afirmou que ajudará tanto o grande quanto o pequeno produtor. 

 “Temos a questão da regularização fundiária e ambiental, o crédito e o seguro agrícola, o fomento da pesquisa, tudo para que o agro possa andar com mais velocidade”, diz Tarcísio de Freitas. 

“Nós vamos tratar a questão indígena como ela deve ser tratada, dentro da regulação, abrindo as oportunidades. Tratando com todo o respeito que deve ser tratado”, completou Tarcísio, finalizando a entrevista após cerca de 30 minutos de duração. 

‘Estou à disposição’, diz Poit 

Ao final da coletiva, jornalistas foram atrás dos políticos e das ‘celebridades’ que estavam ao redor de Tarcísio. Diante de uma certa confusão, conseguimos um breve relato do ex-candidato Vinicius Poit.  

O deputado federal pelo NOVO nos contou sobre disputar e ser adversário do candidato do Republicanos, mas, agora, estar ao lado dele: “respeito a vitória e tenho admiração total com o atual governador de São Paulo. Estou à disposição sempre para contribuir para o estado de São Paulo. A gente está aqui para servir”. 

Ao ser perguntado sobre se almeja alguma secretaria no governo de São Paulo, Poit deixou bem claro que ainda não conversou sobre essa possibilidade. “Vou concluir meu mandato de deputado federal agora e estar sempre à disposição para compartilhar minha experiência com o governador”, concluiu.  

Após a coletiva, o novo governador foi procurado por alguns apoiadores para fotos. De modo sucinto e discreto, voltou para o quinto andar junto aos que o acompanharam durante a apuração.