Conheça a história e a relevância do jornalista e filósofo Vladimir Herzog, morto pela ditadura militar brasileira em 1975 para a luta pela democracia
Vlado Herzog nasceu em 1937, na Iugoslávia. De origem judaica, sofreu com a chegada das tropas nazistas, em 1941, fato que obrigou Herzog e sua família a se refugiar na Itália com a tentativa de fugir das repressões durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1946, a família Herzog imigrou-se ao Brasil, onde Vlado se naturalizou e, posteriormente, adotou o nome de Vladimir por acreditar que seu nome era estranho aos brasileiros.
Na adolescência, Vladimir se formou em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), no entanto, escolheu entrar no ramo do jornalismo. Sua carreira começou em 1958, como estagiário no jornal O Estado de S. Paulo e no ano seguinte foi admitido na redação. Em 1964, o jornalista se casou com Clarice Chaves e, após receber uma proposta para trabalhar na BBC Londres, os dois se mudaram para a Inglaterra. Lá, nasceram os seus dois filhos, André e Ivo.
Em 1968, a família retornou ao Brasil e Vladimir começou a trabalhar na revista Visão. O jornalista colaborou para a produção de matérias que ultrapassaram os limites da censura na época. Além disso, passou a lecionar na Escola de Comunicações e Artes (ECA) e na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
No ano de 1975, Herzog foi escolhido para dirigir a TV Cultura após ter o nome aprovado pelo SNI (Serviço Nacional de Informação) e ser selecionado pelo secretário de Cultura de São Paulo, José Mindlin. Nesse período, segundo o Instituto Vladimir Herzog, “sua postura política e seu compromisso com a prática jornalística foi voltado para a divulgação de notícias do Brasil verdadeiro, com a intenção de produzir reações e denúncias por parte de acólitos [apoiadores] da ditadura”.
A morte pela causa
Em outubro do mesmo ano, Vladimir foi chamado para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). A ação partia do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão subordinado do Exército, que servia como arma de repressão do governo brasileiro durante a ditadura que se seguiu ao golpe militar de 1964.
Ao entrar no quartel foi encapuzado, amarrado a uma cadeira, sufocado com amoníaco e submetido a espancamentos e choques elétricos. Após as torturas, o jornalista foi morto no dia 25 de outubro de 1975. A versão oficial apresentada pelos militares foi a de que Herzog teria se enforcado com um cinto.
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Importância para o jornalismo
Além das contribuições jornalísticas que Herzog deixou para a comunicação, o jornalista ainda ganha destaque nos dias de hoje, mesmo após 48 anos de sua morte, ela é vista como símbolo de luta contra a Ditadura Militar e a violência e repressão que foi exercida nesse período contra a imprensa e liberdade de expressão.
Sua morte teve grande impacto na sociedade brasileira, porque foi um marco na luta pela democracia e pelos direitos humanos na época, de forma que se tornou um dos momentos mais importantes na história do jornalismo brasileiro.
Com isso, para não esquecer de sua história, alguns prêmios e instituições foram criadas, como o Instituto Vladimir Hezorg (2009), que não possui fins lucrativos e reúne diversas informações sobre a vida do jornalista, honrando a democracia, direitos humanos e liberdade de expressão o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (1979), criado com o objetivo de premiar profissionais da comunicação que atuam em prol da cidadania, direitos humanos, sociais e democráticos.
Outra homenagem a Herzog vem da Faculdade Cásper Líbero, com a criação do Centro Acadêmico Vladimir Herzog (1978). O comitê foi fundado pelos alunos, após 3 anos da morte de Herzog, ainda no período de Ditadura Militar. Até hoje o Centro Acadêmico recebe o seu nome e é apelidado pela abreviação “CAVH”.
A entidade estudantil busca encontrar melhorias na instituição, sempre prezando pelo bem-estar dos alunos em todas as circunstâncias. O atual presidente, Diogo Valencia, de 22 anos, comentou que “O Vladimir Herzog representa para o CAVH um exemplo, e ao mesmo tempo, uma referência, porque sua luta e o seu embate contra a ditadura mostram a importância do papel do jornalista no Brasil” e acrescenta que “infelizmente ele é lembrado pelo fatídico fato de sua morte, mas ele representou muito mais em vida, principalmente por suas causas humanitárias e como jornalista, sendo exemplo de resistência e ser humano”.